sexta-feira, 7 de junho de 2013

Nietzsche e o cavalo de Turim



Uma manhã de inverno, ao sair de casa, em Turim, Nietzsche viu um camponês espancando seu cavalo numa piazza da cidade. Compadecido, o filósofo atirou-se sobre o homem, arrancou-lhe o chicote das mãos e o expulsou aos gritos. Em seguida, dependurou-se no pescoço do cavalo e pôs-se num choro convulso. Transeuntes acudiram-no quando desmaiou de emoção. Levado de volta para seu quarto, Nietzsche acordou depois de alguns minutos e começou a balbuciar frases sem sentido. Havia enlouquecido. Viveu ainda mais 10 anos e não recuperou a razão.

Esse episódio do cavalo de Turim é bastante famoso, foi até feito um filme a respeito. As pessoas se espantavam: que força comportou aquela cena, capaz de dissolver a sanidade de um dos maiores filósofos de todos os tempos.
A verdade é que Nietzsche já vinha apresentando sinais de demência. Na véspera do dia do colapso, a senhoria do seu apartamento em Turim ouviu ruídos estranhos vindos do quarto em que ele habitava. Foi investigar e, abelhuda como toda senhoria, resolveu espiar pelo buraco da fechadura. Espantadíssima, viu Nietzsche dançando nu.

Antes disso, o filósofo lançou um de seus últimos livros, Ecce Homo, com capítulos encimados por títulos como: "Por que sou tão sábio", "Por que sou tão inteligente" e "Por que escrevo tão bons livros".
Era a loucura que lhe galopava cérebro adentro.

Mesmo assim, mesmo estando ele a enlouquecer progressivamente, não se pode subestimar o poder da cena do espancamento do cavalo de Turim. Houve algo ali que foi tão comovente, que tocou com tal profundidade a alma de Nietzsche, a ponto de abrir em sua mente as comportas para a torrente da loucura. É assombroso, porque se trata de Nietzsche, o filósofo inclemente do Além-do-Homem, que escreveu em Assim Falou Zaratustra:

"Onde se fizeram mais loucuras na Terra do que entre os compassivos, e que foi que mais causou prejuízos à Terra do que a loucura dos compassivos? Pobres dos que amam sem estar acima da sua piedade! (...) Livrai-vos, pois, da sua piedade!".

Nietzsche pregava aos homens que se livrassem da sua piedade e ele próprio enlouqueceu de piedade.
Por causa de um cavalo, não de um homem.

Agora, revendo os relatos das torturas sofridas pelas vítimas do regime militar, gente que foi seviciada com selvageria, que apanhou até morrer, lendo esses relatos levantados pela Comissão da Verdade, fico pensando nos homens que assistiam a essas sessões de barbárie. Como conseguiam? Como não se deixavam tocar ao testemunhar moças e rapazes sofrendo nas mãos de carrascos? Não tinham compaixão, não tinham piedade, não tinham, portanto, humanidade. O enlouqueceriam de horror, como um dia o filósofo enlouqueceu.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Ciência sem Fronteiras com inscrições abertas



O Programa Ciência sem Fronteiras (CsF) abriu nesta terça-feira (4), o período para inscrições na modalidade graduação. No total, são 13.480 vagas abertas para 18 áreas do conhecimento científico e tecnológico em nove países da Europa, Ásia e América do Norte. Os interessados podem efetuar sua inscrição até julho de 2013, sendo que a data final depende do país de destino escolhido.

Os países envolvidos nas chamadas são: Alemanha (com 2.000 vagas previstas); Austrália (2.250 vagas previstas); Canadá (2.188 vagas previstas); Coréia do Sul (292 vagas previstas); Estados Unidos (2.000 vagas previstas); Finlândia (300 vagas previstas); Hungria (2.300 vagas previstas); Japão (150 vagas previstas); e Reino Unido (2.000 vagas previstas). O candidato deverá escolher o país de destino, que terá um parceiro definido para cuidar de sua devida inserção no exterior.


As bolsas serão concedidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC). O candidato deverá conferir a qual instituição direcionar-se, de acordo com o país de destino escolhido, no site do programa

Programa - O Ciência sem Fronteiras já implementou, até hoje (04), 22.229 bolsas em todas as modalidades Graduação, Doutorado e Pós-doutorado. O programa busca promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional. A iniciativa é fruto do esforço conjunto dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério da Educação (MEC), por meio de suas respectivas instituições de fomento, CNPq e Capes.

O projeto prevê a concessão de até 101 mil bolsas em quatro anos para promover intercâmbio, de forma que alunos de graduação e pós-graduação façam estágio no exterior com a finalidade de manter contato com sistemas educacionais competitivos em relação à tecnologia e inovação.

Além disso, busca atrair pesquisadores do exterior que queiram se fixar no Brasil ou estabelecer parcerias com os pesquisadores brasileiros nas áreas prioritárias definidas no programa, bem como criar oportunidade para que pesquisadores de empresas recebam treinamento especializado no exterior.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

SONHOS- O QUE VOCÊ QUER SER QUANDO CRESCER?

Por Deivison Pedrosa

Você tem sonhado com o quê? Quais os seus planos para chegar lá? Quais os seus Valores? Quem é o Responsável pelo seu Destino? 

Constantemente buscamos estas respostas, o problema é que quase sempre nos colocamos como crianças indefesas, transferindo ao mundo a responsabilidade por nossas conquistas ou pela inercia de nossas vidas.

A busca pelo sucesso e as respostas para nosso futuro são tão incertas quanto nossas metas para chegar lá. Saber estas respostas é só o começo para uma vida de sucesso. Eu convido você a dar o primeiro passo.




Reflexão sobre nossas atitudes...

"Está passando da hora de você se ligar. Esse é o nosso planeta e não pode ser desligado! Então, se ligue!"




domingo, 19 de maio de 2013

Frase do Dia





"Bem, todos morrem um dia, é simples matemática. Nada de novo. A espera é que é um problema."



Charles Bukowski

10 Livros de Charles Bukowski para ter na estante...

Autor de uma geração épica, sua literatura obscena e coloquial deixou para o mundo um grande legado. Polêmico e chegado em umas "birita", nesta lista uma seleção com 10 livros de Charles Bukowski:


1 - Pulp:. A saga de Nick Belane poderia até ser igual a de tantos outros detetives de se­gunda categoria que perambulam pelas largas ruas de Los Angeles. Mas aqui, mulheres inacreditáveis cruzam pernas compridas e falam aos sussurros, principalmente uma que atende pelo nome de Dona Morte... 

2 - Hollywood: Foi escrito a partir da experiência de Bukowski ao fazer o argumento para o filme Barfly (direção de Barbet Schroeder, com Mickey Rourke e Faye Dunaway), onde ele narra a história de um escritor que ganha um bom dinheiro para escrever um roteiro para o cinema. Alguns de seus diálogos são memoráveis e a violência de sua linguagem geralmente oculta uma indisfarçável ternura pelos perdedores e excluídos..

3 - A Mulher Mais Linda da Cidade: Uma viagem pelo universo­ infernal­ e onírico do velho e safado Buk, seus personagens desvalidos, seus quartos imundos de hotéis baratos; homens e mulheres­ que se movem num mundo estranho e brutal, perdedores que contracenam num mundo real, perverso. O sonho americano reduzido a trapos nas ruas desertas da madrugada voraz de Los Angeles...

4 - Mulheres: Após um período de jejum sexual, sem desejar mulher alguma, Hank conhece Lydia – e April, Lilly, Dee Dee, Mindy, Hilda, Cassie, Sara, Valerie, não importa o nome que ela tenha. Hank entra na vida dessas mulheres, bagunça suas almas, rompe corações, as enlouquece, as faz sofrer. E no fim elas ainda o consideram um bom sujeito... 

5 - O Amor é Um Cão dos Diabos: Ele expõe as vísceras da realidade, revolve o cotidiano, e, de onde nem se pensa que sairá um poema, brotam versos de pura genialidade. Algo como um saxofone gemendo na noite fria. As ruas molhadas refletindo o brilho feérico do neon. Fantasmas da madrugada buscam um gole da bebida mais forte que encontrarem. Bares fechando; a luz amarelada, o odor acre de suor misturado com álcool e muito tabaco... 

6 - Cartas na Rua: O “erro” do escritor conhecido pelos porres homéricos e humor ferino foi se candidatar à vaga de carteiro temporário no início dos anos 50. Quando viu, estava em seu segundo emprego nos Correios, como auxiliar, e já somava catorze anos em uma rotina maçante – ainda mais para um homem de meia-idade sempre de ressaca. Mas tinha em mãos, enfim, a matéria-prima para seu primeiro romance, que já nasceu um clássico: pela voz de Henry Chinaski, seu alter ego, Bukowski narra suas memórias em tom hilário e melancólico... 

7 - Notas de Um Velho Safado: Forma um conjunto de histórias excepcionais saídas de uma vida violenta e depravada, horrível e santa. Não podemos lê-lo e seguir sendo os mesmos... 

8 - Pedaços de Um Caderno Manchado de Vinho: Uma das figuras mais controversas da literatura norte-americana do século XX, Bukowski era um artista tão prolífico que muitos de seus escritos permaneceram dispersos ao longo de sua vida. Pedaços de um caderno manchado de vinho é uma vigorosa e abrangente seleção de alguns desses trabalhos... 

9 - Ao Sul de Lugar Nenhum: Muitas histórias são narradas e protagonizadas por Henry Chinaski, o alter ego do escritor (em torno do qual giram cinco dos seus romances). É o caso, por exemplo, do conto 'Política', em que Chinaski banca o nazista na escola, em plena Segunda Guerra, pois não agüenta mais ouvir discursos patrióticos pró-aliados; e 'Lembra de Pearl Harbor?', em que é recusado pelo exército americano durante a mesma guerra, num dos mais marcantes episódios de marginalização da sua vida...

10 - Numa Fria: ´Numa Fria´ é Bukowski puro: uma preciosa coletânea de contos, gênero ao qual ele se dedicou mais intensamente... 

segunda-feira, 13 de maio de 2013

O intelecto-futebolístico do Tio Nelson



Nesta terça-feira (14/05) Felipão convoca a seleção brasileira para a Copa das Confederações, será a família Scolari representando o Brasil no último teste antes da Copa do Mundo.

Embora todos nós sabemos que ainda não há um consenso sobre o melhor time para a disputa do torneio, o que gera muito medo e ansiedade. Isso me fez pedir um conselho para o meu tio, o Tio Nelson.

Tio Nelson que, como já comentei em outro texto aqui, era jogador do Leão da Serra. Um bom volante, marcador exímio como Dunga, com boa saída de bola e elegância de toque como Falcão.

Pedi pro Tio Nelson qual seria a nossa melhor escalação, e ele respondeu: Julio César, nada melhor do que um goleiro experiente. Para a zaga, David Luis e Thiago Silva, dois zagueiros rápidos e com precisão cirúrgica no desarme. Para o meio, posição da qual conhece muito bem, Tio Nelson escalaria assim, Sandro, mas como está machucado seu substituto seria o Fernando, fixo em frente da zaga. E completando o meio com Oscar, Kaká e Ramires. Sendo que Ramires seria um volante com saída de jogo e a armação ficaria com Kaká e Oscar.

Já para o ataque levaria Leandro Damião, o Damigol como é chamado pela torcida do colorado. Fechando oataque com Neymar e Hulk. Damião fixo, fazendo um pivô pra a triangulação com Neymar e Hulk, com ambos entrando na área. Sou Damião e mais 10...

É um bom time, disse pra ele, mas e o Fred e o Jô, Ronaldinho Gaúcho, Dedé, Hernanes, e outros tantos. Sabe o que ele me disse? Todos esquenta banco!!!

Mas como assim Tio???

Aí começou o sermão: Fred é jogador de clube, na seleção é um mero coadjuvante, parado e lento. Luis Fabiano é lento e perde muito gol. Ronaldinho Gaúcho é jogador de clube, no futebol moderno e de alto nível ele está ultrapassado. Veja o Oscar, o Lucas, o Thiago Motta, o Lampard, o Messi, o Cristiano Ronaldo entre outros vários bons jogadores, todos são de alto nível intelecto-futebolístico. É isso que falta na nossa seleção!!!

Pois é, Tio Nelson e sua sapiência futebolística, será que alguém discordaria deste mito do Internacional de Lages. Se você é contra ou a favor desta seleção, diga aí, manisfete-se...

É melhor levar ou deixar Ronaldinho Gaúcho???

E Kaká???

Felipão deve levar Jô, o artilheiro da libertadores???

quinta-feira, 9 de maio de 2013

A questão da vinda dos médicos cubanos para o Brasil



Por Pedro Saraiva


Olá Nassif, sou médico e gostaria de opinar sobre a gritaria em relação à vinda dos médicos cubanos ao Brasil

Bom, como opinião inteligente se constrói com o contraditório, vou tentar levantar aqui algumas informações sobre a vinda de médicos cubanos para regiões pobres do Brasil que ainda não vi serem abordadas.

- O principal motivo de reclamação dos médicos, da imprensa e do CFM seria uma suposta validação automática dos diplomas destes médicos cubanos, coisa que em momento algum foi afirmado por qualquer membro do governo. Pelo contrário, o próprio ministro da saúde, Antônio Padilha, já disse que concorda que a contratação de médicos estrangeiros deve seguir critérios de qualidade e responsabilidade profissional. Portanto, o governo não anunciou que trará médicos cubanos indiscriminadamente para o país. Isto é uma interpretação desonesta.

- Acho estranho o governo ter falado em atrair médicos cubanos, portugueses e espanhóis, e a gritaria ser somente em relação aos médicos cubanos. Será que somente os médicos cubanos precisam revalidar diploma? Sou médico e vivo em Portugal, posso garantir que nos últimos anos conheci médicos portugueses e espanhóis que tinham nível técnico de sofrível para terrível. E olha que segundo a OMS, Espanha e Portugal têm, respectivamente, o 6º e o 11º melhores sistemas de saúde do mundo (não tarda a Troika dar um jeito nesse excesso de qualidade). Profissional ruim há em todos os lugares e profissões. Do jeito que o discurso está focado nos médicos de Cuba, parece que o problema real não é bem a revalidação do diploma, mas sim puro preconceito.

- Portugal já importa médicos cubanos desde 2009. Aqui também há dificuldade de convencer os médicos a ir trabalhar em regiões mais longínquos, afastadas dos grandes centros. Os cubanos vieram estimulados pelo governo, fizeram prova e foram aprovados em grande maioria (mais à frente vou dar maiores detalhes deste fato). A população aprovou a vinda dos cubanos, e em 2012, sob pressão popular, o governo português renovou a parceria, com amplo apoio dos pacientes. Portanto, um dos países com melhores resultados na área de saúde do mundo importa médicos cubanos e a população aprova o seu trabalho.

- Acho que é ponto pacífico para todos que médicos estrangeiro tenham que ser submetidos a provas aí no Brasil. Não faz sentido importar profissionais de baixa qualidade. Como já disse, o próprio ministro da saúde diz concordar com isso. Eu mesmo fui submetido a 5 provas aqui em Portugal para poder validar meu título de especialista. As minhas provas foram voltadas a testar meus conhecimentos na área em que iria atuar, que no caso é Nefrologia. Os cubanos que vieram trabalhar em Medicina de família também foram submetidos a provas, para que o governo tivesse o mínimo de controle sobre a sua qualidade. 

Pois bem, na última leva, 60 médicos cubanos prestaram exame e 44 foram aprovados (73,3%). Fui procurar dados sobre o Revalida, exame brasileiro para médicos estrangeiros e descobri que no ano de 2012, de 182 médicos cubanos inscritos, apenas 20 foram aprovados (10,9%). Há algo de estranho em tamanha dissociação. Será que estamos avaliando corretamente os médicos estrangeiros? 

Seria bem interessante que nossos médicos se submetessem a este exame ao final do curso de medicina. Não seria justo que os médicos brasileiros também só fossem autorizados a exercer medicina se passassem no Valida? Se a preocupação é com a qualidade do profissional que vai ser lançado no mercado de trabalho, o que importa se ele foi formado no Brasil, em Cuba ou China? O CFM se diz tão preocupado com a qualidade do médico cubano, mas não faz nada contra o grande negócio que se tornaram as faculdades caça-níqueis de Medicina. No Brasil existe um exército de médicos de qualidade pavorosa. Gente que não sabe a diferença entre esôfago e traqueia, como eu já pude bem atestar. Porque tanto temor em relação à qualidade dos estrangeiros e tanta complacência com os brasileiros? 

- Em relação este exame de validação do diploma para estrangeiros abro um parêntesis para contar uma situação que presenciei quando ainda era acadêmico de medicina, lá no Hospital do Fundão da UFRJ. 

Um rapaz, se não me engano brasileiro, tinha feito seu curso de medicina na Bolívia e havia retornado ao país para exercer sua profissão. Como era de se esperar, o rapaz foi submetido a um exame, que eu acredito ser o Revalida (na época realmente não procurei me informar). O fato é que a prova prática foi na enfermaria que eu estava estagiando e por isso pude acompanhar parte da avaliação. Dois fatos me chamaram a atenção, o primeiro é a grande má vontade dos componentes da banca com o candidato. Não tenho dúvidas que ele já havia sido prejulgado antes da prova ter sido iniciada. Outro fato foi o tipo de perguntas que fizeram. Lembro bem que as perguntas feitas para o rapaz eram bem mais difíceis que aquelas que nos faziam nas nossas provam. Lembro deles terem pedidos informações sobre detalhes anatômicos do pescoço que só interessam a cirurgiões de cabeça e pescoço. O sujeito que vai ser médico de família, não tem que saber todos os nervos e vasos que passam ao lado da laringe e da tireoide. O cara tem que saber tratar diarreia, verminose, hipertensão, diabetes e colesterol alto. Soube dias depois que o rapaz tinha sido reprovado.

Não sei se todas as provas do Revalida são assim, pois só assisti a uma, e mesmo assim parcialmente. Mas é muito estranho os médicos cubanos terem alta taxa de aprovação em Portugal e pouquíssimos passarem no Brasil. Outro número que chama a atenção é o fato de mais de 10% dos médicos em atividade em Portugal serem estrangeiros. Na Inglaterra são 40%. No Brasil esse número é menor que 1%. E vou logo avisando, meu salário aqui não é maior do que dos meus colegas que ficaram no Brasil. 

- Até agora não vi nem o CFM nem a imprensa irem lá nas áreas mais carentes do Brasil perguntar o que a população sem acesso à saúde acha de virem 6000 médicos cubanos para atendê-los. Será que é melhor ficar sem médico do que ter médicos cubanos? É o óbvio ululante que o ideal seria criar condições para que médicos brasileiros se sentissem estimulados a ir trabalhar no interior. Mas em um país das dimensões do Brasil e com a responsabilidade de tocar a medicina básica pulverizada nas mãos de centenas de prefeitos, isso não vai ocorrer de uma hora para outra. Na verdade, o governo até lançou nos últimos anos o Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab), que oferece salários mensais de R$ 8 mil e pontos na progressão de carreira para os médicos que vão para as periferias. O problema é que até hoje só 4 mil médicos aceitaram participar do programa. Não é só salário, faltam condições de trabalho. O que fazemos então? vamos pedir para os mais pobres aguentar mais alguns anos até alguém conseguir transformar o SUS naquilo que todos desejam? Vira lá para a criança com diarreia ou para a mãe grávida sem pré-natal e diz para ela segurar as pontas sem médico, porque os médicos do sul e sudeste do Brasil, que não querem ir para o interior, acham que essa história de trazer médico cubano vai desvalorizar a medicina do Brasil. 

- É bom lembrar que Cuba exporta médicos para mais de 70 países. Os cubanos estão acostumados e aceitam trabalhar em condições muito inferiores. Aliás, é nisso que eles são bons. Eles fazem medicina preventiva em massa, que é muito mais barata, e com grandes resultados. Durante o terremoto do Haiti, quem evitou uma catástrofe ainda maior foram os médicos cubanos. Em poucas semanas os médicos dos países ricos deram no pé e deixaram centenas de milhares de pessoas sem auxílio médico. Se não fosse Cuba e seus médicos, haveria uma tragédia humanitária de proporções dantescas. Até o New England Journal of Medicine, a revista mais respeitada de medicina do mundo, fez há poucos meses um artigo sobre a medicina em Cuba. O destaque vai exatamente para a capacidade do país em fazer medicina de qualidade com recursos baixíssimos (http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMp1215226). 

- Com muito menos recursos, a medicina de Cuba dá um banho em resultados na medicina brasileira. É no mínimo uma grande arrogância achar que os médicos cubanos não estão preparados para praticar medicina básica aqui no Brasil. O CFM diz que a medicina de Cuba é de má qualidade, mas não explica por que a saúde dos cubanos, como muito menos recursos tecnológicos e com uma suposta inferioridade qualitativa, tem índices de saúde infinitamente melhores que a do Brasil e semelhantes à avançada medicina americana (dados da OMS).

- Agora, ninguém tem que ir cobrar do médico cubano que ele saiba fazer cirurgia de válvula cardíaca ou que seja mestre em dar laudos de ressonância magnética. Eles não vêm para cá para trabalhar em medicina nuclear ou para fazer hemodiálises nos pacientes. Medicina altamente tecnológica e ultra especializada não diminui mortalidade infantil, não diminui mortalidade materna, não previne verminose, não conscientiza a população em relação a cuidados de saúde, não trata diarreia de criança, não aumenta cobertura vacinal, nem atua na área de prevenção. É isso que parece não entrar na cabeça de médicos que são formados para serem superespecialistas, de forma a suprir a necessidade uma medicina privada e altamente tecnológica. Atenção! O governo que trazer médicos para tratar diarreia e desidratação! Não é preciso grande estrutura para fazer o mínimo. Essa população mais pobre não tem o mínimo!

Que venham os médicos cubanos, que eles façam o Revalida, mas que eles sejam avaliados em relação àquilo que se espera deles. Se os médicos ricos do sul maravilha não querem ir para o interior, que continuem lutando por melhores condições de trabalho, que cobrem dos governos em todas as esferas, não só da Federal, melhores condições de carreia, mas que ao menos se sensibilizem com aqueles que não podem esperar anos pela mudança do sistema, e aceitem de bom grado os colegas estrangeiros que se dispõe a vir aqui salvar vidas.

Infelizmente até a classe médica aderiu ao ativismo de Facebook. O cara lê a Veja ou O Globo, se revolta com o governo, vai no Facebook, repete meia dúzia de clichês ou frases feitas e sente que já exerceu sua cidadania. Enquanto isso, a população carente, que nem sabe o que é Facebook morre à mingua, sem atendimento médico brasileiro ou cubano.

Fonte: Luis Nassif

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Os 10 livros mais lidos dos últimos 50 anos

Antes de apresentar o gráfico, é preciso dizer que há divergências. Já encontrei números diferentes. No entanto, acessando o site, percebi que a metodologia da pesquisa abaixo é interessante e vale a pena reproduzir aqui. Há algumas surpresas, uma mega surpresa e outras já conhecidas. Vale a pena ressaltar que a pesquisa traz dos últimos 50 anos. [por isso há alguns livros que ficaram de fora. Talvez, futuramente, faça um post sobre eles].







Vou falar primeiro da maior surpresa que eu vi ali. Depois volto à ordem cronológica. O ALQUIMISTA é o quinto livro mais lido de todos os tempos. É notório que nunca consegui terminar nada de Paulo Coelho e já fiz centenas de piadas com ele. Mas sempre deixo claro o meu respeito pela pessoa Paulo Coelho. E isso é um fato admirável! Afinal de contas, ele é brasileiro. Talvez, seus livros não. Mas o autor é. Acreditem, fiquei feliz com essa posição do mago das piadas.

Bíblia, bem, é um pouco óbvio que esse é o livro mais lido/comprado de todos os tempos. Alguns podem argumentar que ele não é o livro mais “lido”, só o mais comprado. Mas entraríamos no campo de hipótese e não é esse o objetivo. Logo depois temos “O Livro Vermelho” (ou, mais próximo do original; Citações do presidente Mao-Tse-Tung), Mao Tse-Tung. Que nada verdade não é de Mao Tse-Tung, mas sim do ministro da época Lin Piao [pois ele que organizou a coletânea etc]. A explicação do sucesso é a suposta “lei” implícita de que todo chinês deve ter um desses em casa. Ainda vale ressaltar que houve uma distribuição subsidiada pelo Estado.

Depois, temos o maior sucesso “literário” [visto que um é religioso e outro político] de todos os tempos; Harry Potter. Como já disse algumas vezes, os números de venda variam. Alguns apontam 400 milhões, outros 600. Não há um consenso geral. Ainda assim, uma obra literária ser comprada por um “pouco” menos de 10% da população mundial, é muita coisa. 300 milhões de cópias atrás, temos o cultuado Senhor Dos Anéis, que poucos sabem, mas aumentou muito sua vendagem por conta dos filmes de Peter Jackson. Quando eu falo muita, é MUITA mesmo.

Já falei do 5. No 6. temos O Código da Vinci, hit mundial, adaptado para o cinema por hollywood. Um ritmo frenético e que, segundo os fãs, te joga para dentro da história do início ao fim. [eu já comecei a ler, mas por forças desconhecidas, abandonei]. Em 7. a saga teen mais controversa de toda a história da literatura contemporânea: Crepúsculo. Não discutirei os méritos literários aqui, mas os méritos mercadológicos são inquestionáveis.

Em 8. O Vento Levou, um clássico da literatura e do cinema. Se não me engano, é esse o livro que a Isabella Swan (crepúsculo) lê, não? Vi um artigo certa vez que as vendas do livro teriam sido estimuladas novamente por esse fato. Em 9. “Quem Pensa Enriquece”, um livro motivacional que fez um sucesso estrondoso na época de seu lançamento. E em 10. O Diário de Anne Frank; uma história extremamente comovente que arrebatou corações tanto na literatura quanto na vida real. 


Bem, como vocês mesmo podem ter percebido, há faltas notáveis como Dom Quixote, o Conde De Monte-Cristo e o Alcorão. Provavelmente por ser um estudado traçado dentro dos últimos 50 anos. Ainda assim, não compreendi a (falta da) aparição de O Pequeno Príncipe. Tudo bem que o livro foi lançado em 1943, porém, não teria vendido mais 27 milhões de cópias nos últimos 50 anos? Estranho. Por isso digo que é uma versão para a pesquisa. Há controvérsias.


Fonte: Literatortura

terça-feira, 16 de abril de 2013

4,5 bilhões de anos em apenas dois minutos e meio

Em dois minutos e meio, um dos departamentos da Nasa explica os 4,5 bilhões de anos de evolução da lua. Explosões, bombardeios de meteoritos, deram ao satélite da Terra o aspecto que ele tem hoje. Vale a pena curtir.





domingo, 14 de abril de 2013

O Segundo Sexo...


 "Não se nasce mulher: torna-se."

Simone de Beauvoir


Estava procurando algo interessante pra assistir no youtube e me deparei com essa reportagem da Globo News, cujo programa Arquivo N, mostra de forma sucinta a biografia de Simone de Beauvoir. Compartilho com vocês essa interessantíssima reportagem no vídeo logo abaixo. 









segunda-feira, 8 de abril de 2013

POR UM ESTADO LAICO



As práticas religiosas deveriam ser como qualquer outro tipo de relação íntima. Nunca me pareceu que devesse ter caráter público. Conversas, rezas ou promessas que cidadãos queiram ter com uma crença, ou uma não crença, com um deus histórico ou tirado de sua imaginação, ou mesmo de uma imaginação coletiva, não devem interessar a mais ninguém a não ser a quem de direto professe tal crença. Essa é uma premissa, além de outras, que fez com que nações – notadamente as democráticas – separassem constitucionalmente o estado da religião. O Brasil, que se supõe ser democrático, é um país laico. Isso significa que crer em algo, alguém, ou qualquer outra coisa – inclusive não crer – não pode, em hipótese alguma, ser objeto de lei, à exceção daquela que lhe dá o direito de professar ou não uma religião.

É uma pena que várias gerações tenham, por conta de um estado omisso em seu dever constitucional de educar de forma libertária e sem medos, desconhecimento tão grande sobre a história das religiões. O passado é farto de casos nos quais a junção religião e estado foi maléfica. Durante séculos, a religião católica, por exemplo, dominou o mundo através de um conluio promíscuo com as monarquias europeias. Durante a Idade Média, foi a que mais lutou contra o conhecimento científico, condenando importantes cientistas, como Giordano Bruno, e levou milhares de pessoas, incluindo mulheres consideradas como sendo bruxas, à fogueira. Se fosse pelo obscurantismo religioso daquele período, até hoje seríamos forçados a crer que o planetinha em que vivemos não é redondo e não é apenas um grão de areia diante de um imenso universo.

Mas não estamos mais na Idade Média. A própria Igreja Católica, apesar de todos os ritos medievais, têm entre seus padres e bispos, pessoas capazes de debater no nível intelectual mais elevado, como o ex-papa, Joseph Ratzinger, com o filósofo alemão Jürgen Habermas, em 2004, ou o escritor e filósofo italiano, Umberto Eco, com o arcebispo de Milão, Carlo Maria Martini, que resultou no livro “No que creem os que não creem”. Umberto Eco, um agnóstico convicto, não é nenhuma encarnação do mal, como acreditam religiosos que ainda pensam deste modo medieval. Não há necessidade de se conhecer o pensamento religioso ou ter qualquer conexão com entidades divinas para se viver uma vida eticamente responsável. O próprio arcebispo escreve para Eco: “Estou convencido, além disso, de que existem não poucas pessoas que se comportam com retidão, pelo menos nas circunstâncias ordinárias da vida, sem referência a nenhum fundamento religioso da existência humana”.

Sendo assim, as proposições da ciência, tais como a defesa do uso de preservativos, do sexo sem culpa (afinal, ninguém nasce sem que alguém tenha feito sexo, antes ou depois do casamento), das pesquisas com células-tronco e da proposta de descriminalizar o aborto não devem ser analisadas sob uma ótica religiosa, pois as religiões ainda creem que somos crias de Adão e Eva, o que, digamos, é tão medieval quanto à crença de que a terra é plana. Me custa compreender o motivo pela qual as religiões insistem num erro tão grosseiro, sendo que, pela mesma ótica criacionista, errou outras vezes, e teve que reconhecer publicamente sua falha.

A questão é que a vida coletiva se transforma. Não há mais escravidão consentida, por exemplo, uma aberração social que as igrejas nunca combateram. Se a preocupação básica das igrejas é com a salvação das almas (algo que não existe sob o ponto de vista da ciência, porque nunca foi demonstrada sua existência), porque se importam tanto com o corpo no que diz respeito aos prazeres do sexo? Como escreveu o filósofo inglês, Bertrand Russel: “O senso de pecado, artificialmente implantado [na educação infantil não laica] é, mais tarde, na vida adulta, uma das causas da crueldade, timidez e estupidez”.


BATER PODE, BEIJAR NÃO.
O sexo é tão importante quanto comer ou beber água. É uma necessidade vital, seja ele feito com pessoas do mesmo gênero ou com pessoas do outro gênero. A prática sexual, assim como a prática religiosa, é de foro íntimo, sendo que ninguém tem nada a ver com isso. Se pessoas do mesmo sexo querem morar juntas ou se amarem, e se não prejudicarem ninguém, o que a religião têm com isso? Pode se manifestar contra? Claro que sim. Pode impedir? Não, porque o Estado é laico e as leis não podem ser submetidas a interpretações metafísicas, ou baseadas em crenças no além. Do mesmo modo que o Estado não pode impedir a quem quer que seja que ore para este ou aquele deus, que pratique esta ou aquela religião.
Não sei o motivo real, e talvez algum religioso possa esclarecer, desde que seja educado como foi Carlo Maria Martini com Umberto Eco, sem tentar a todo custo amaldiçoá-lo por ser agnóstico – como muitos crentes fazem com pessoas que não acreditam – por que muitos religiosos se incomodam tanto contra homens que beijam outros homens (Jesus beijou Pedro várias vezes), mas não lutam com a mesma força contra homens que batem em homens e em mulheres?


PASTORES E PROFETAS NÃO ME REPRESENTAM
O episódio do autoproclamado profeta e pastor, Marcos Feliciano, eleito à presidência de uma comissão de direitos humanos no Congresso, está sendo debatido por um viés superficial. Não importa quem ocupa a presidência, apesar de ele ser um obscurantista, porque coloca no lixo toda a história e a filosofia, desde Sócrates até Bertrand Russel. A pergunta deste debate não deve ser: "Como tirá-lo da presidência?", mas sim: "Como um sujeito tão despreparado e ignorante como este chegou à presidência?".
Esta confusão toda é apenas a ponta do problema da falsa representatividade no Congresso Nacional. Enquanto não ou houver um reforma política que estabeleça critérios justos de representação política, qualquer sujeito que se diz pastor e profeta, que engana milhares de coitados com informação deturpada, sem contrapontos possíveis, e sem demonstrações de sua aplicabilidade científica, poderá ocupar este tipo de cargo. Se não houver uma profunda reforma política, sairá um Feliciano e entrará outro tão despreparado e ignorante quanto este.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Frase do Dia



“A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.”

Albert Einstein

As crianças têm que ser protegidas da cafajestice do CQC


Por Paulo Nogueira 


A gangue pseudocômica faz um garoto mentir, enganar e torturar psicologicamente José Genoíno.


Professor de cafajestice

Alguns meses atrás, a gangue do CQC já descera à lama ao abordar José Genoíno de maneira cafajeste logo depois do trauma de uma absurda decisão da justiça que decretou prisão para ele.

Agora, a gangue conseguiu descer ainda mais.

Ao longo de um interminável, odioso filme de sete minutos os pseudo-humoristas submeteram Genoíno sessão de violência que degrada não quem a sofreu, mas quem a fez – os mentecaptos sorridentes liderados por Marcelo Tas.

O que eles fizeram não é nem comédia e nem jornalismo: é simplesmente um caso de polícia.

Um repórter-palhaço ficou trollando desvairadamente Genoíno, em Brasília, em busca de uma “entrevista”, aspas.

Louvo aqui o autocontrole de Genoíno, porque pouca gente é capaz de suportar uma provocação tão baixa pelo que pareceu uma eternidade.

Depois, a gangue colocou um garoto pré-adolescente num papel que em algum momento haverá de envergonhá-lo, se ele tiver decência básica.

O menino enganou Genoíno. Se fez passar por admirador para entrar na sala de Genoíno e extrair algumas palavras.

Depois, em seguimento às mentiras que o fizeram contar, o garoto disse a Genoíno que seu tio estava fora da sala, esperando para cumprimentá-lo.

O tio era um dos integrantes da gangue.

Genoíno saiu da sala e deu de cara com o tio de mentira. E isso foi comemorado como um triunfo pela gangue.

Se há algum comitê de proteção à infância que funcione no Brasil, ele tem que cobrar satisfações de quem fez o garoto se submeter a uma infâmia dessa natureza. Dificilmente ele terá outra aula tão completa de canalhice.

Em poucos minutos, o menino foi obrigado a agir como um pequeno trapaceiro desprezível. O risco é que ele cresça e se torne um adulto tão asqueroso como Marcelo Tas e os integrantes da gangue.




Dica de Fim de Semana - Depois de Lúcia


Este é um daqueles filmes perturbadores, impactantes, capazes de angustiar. Depois de Lucia mostra o poder devastador da por vezes crueldade ingênua e irresponsável da adolescência. A história gira em torno de Alejandra, menina de 15 anos, que troca de cidade depois da morte da mãe, conhece novos amigos, mas aos poucos vê sua vida virar um caos por causa da pressão e do abuso físico e emocional levado a extremos.

Como esta é uma época de redes sociais, de mensagens instantâneas, tudo se agrava. Os dramas e conflitos não ficam mais restritos ao grupo de amigos, mas ganha a internet e, a partir daí, fica incontrolável. Vale a pena ver.






quarta-feira, 20 de março de 2013

SC PODE FLEXIBILIZAR CORTE DAS ARAUCÁRIAS

 Inventário florestal realizado no estado apontou que o número de pinheiros protegidos é bem maior do que se imaginava



Os resultados obtidos pelo Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina podem alterar significativamente algumas medidas ambientais altamente restritivas no estado. Um exemplo é a relação dos moradores de áreas próximas a florestas e até própria legislação em relação à araucária, espécie com corte proibido.

A pesquisa, além de coletar material, também conversou com os moradores das regiões no entorno das florestas para saber quais as espécies de plantas nativas mais utilizadas, os usos atuais e potenciais e a importância que estas espécies têm para a população, do ponto de vista econômico, social e cultural. Foram feitas mais de 700 entrevistas ao longo de 2010.

“A gente observou que o número de araucárias, que é uma espécie com corte proibido, por exemplo, é muito maior do que se imaginava”, disse Daniel Piotto, gerente executivo de Informações Florestais do Serviço Florestal Brasileiro (SFB). Apesar disto, a restrição é mantida. O resultado, segundo relatos de moradores locais, é que, muitas vezes, proprietários de terra eliminam as araucárias ainda pequenas que brotam no meio de pastos para evitar problemas com a lei posteriormente, quando se tornarem árvores.

“A ideia da lei é proteger, mas você está restringindo cada vez mais desta forma”, avaliou Piotto, explicando que o volume de novas árvores da espécie não tem aumentado como ocorreria se as restrições fossem flexibilizadas. O gerente do SFB disse que a conclusão acendeu um debate no estado. Autoridades ambientais e de outras áreas estão reavaliando as medidas em relação à araucária para avaliar se realmente é possível e necessário flexibilizar as regras.

Um pouco acima do mapa brasileiro, no Distrito Federal um levantamento semelhante foi realizado nas florestas do cerrado, com apoio de pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB). “No DF, fizemos mais um teste metodológico. O inventario nacional tem grade de 20 por 20 quilômetros [distância entre os pontos onde as equipes definem para coleta e análise]. No Distrito Federal temos grades mais densas de 5 ou 10 quilômetros de distância porque a área é menor e muito urbanizada”, explicou Piotto.

Os dados oficiais do cerrado ainda não foram consolidados, mas, segundo o gerente do SFB não foram constatadas tantas novidades como em Santa Catarina. “Com muita interferência do homem, a vegetação em volta das cidades sofre com incêndios florestais quase todo ano. Do ponto de vista de volume de madeira temos pouco material, mas temos uma quantidade significativa de espécies. É totalmente diferente de Santa Catarina”.

O levantamento no Distrito Federal foi realizado em três meses, por três equipes formadas por 15 pessoas cada. Ainda sem a consolidação dos dados oficiais, Piotto adianta que o cerrado deve trazer importantes detalhes sobre o uso de produtos não madeireiros.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Frase do Dia




“(…) Não nascemos covardes ou preguiçosos; escolhemos ser essas coisas. O homem é responsável pelo que é. Somos sozinhos, sem desculpas. É isso o que quero dizer quando digo que o homem está condenado à liberdade (…)”


(Jean-Paul Sartre, o homem do existencialismo, citado no excelente livro Tête-à-Tête, de Hazel Rowley, que fala da vida do escritor e filósofo ao lado de Simone de Beauvoir)

terça-feira, 5 de março de 2013

Morre o Amigo do Brasil




Por Guilherme Moura

Por muitas vezes, Hugo Chavez foi intitulado como sucessor de Fidel Castro. A mídia o adjetivou assim como sendo uma ofensa, tentando menosprezá-lo.

O mundo ouviu falar do tenente-coronel Chávez pela primeira vez em 4 de fevereiro de 1992, quando liderou um golpe fracassado contra o governo de Carlos Andrés Pérez. Para os jornalistas de fora, soou como uma quartelada latino-americana como qualquer outra, mas tanto o líder como as condições de seu país eram muito peculiares.

Chavez tentou assumir o poder para combater a corrupção dentro do exército venezuelano e também conter a corrupção em seu país, que dito por muitos, é um dos países mais corruptos da América Latina.

Em 2000 foi vítima de um sequestro relâmpago, ficou dois dias trancado em uma casa no interior de Caracas. O empresário petroquímico Pedro Carmona, presidente da federação das indústrias, agiu como ditador com apoio da mídia, de Washington e do FMI, revogou a Constituição, anunciou a ruptura com Cuba e a Opep e anunciou a privatização do petróleo.

Pedro Carmona quase foi linchado em praça pública pela população. O erro da velha elite fortaleceu Chavez, que desde 2000, tornou-se um dos maiores líderes da América Latina.

Seu principal legado foi o combate a pobreza e distribuição de renda. Reforçou acordos comerciais com Cuba, Bolívia, Peru e Brasil. Chavez queria uma Venezuela voltada integralmente para a América Latina e de costas aos Estados Unidos.

Estava conseguindo fazer boa parte de seu objetivo, ano passado a Venezuela teve um crescimento de 6% do PIB em 2012.  O que mais incomoda a velha elite é o alto índice de popularidade de Chavez e assim como na Argentina há o Peronismo sem Perón, haverá “Chavismo” sem Chavez.

A presidente Dilma Rousseff se manifestou: “Em muitas ocasiões o governo brasileiro não concordou integralmente com o presidente Chávez, mas hoje nós, como sempre, reconhecemos nele uma grande liderança, uma perda irreparável e, sobretudo, um amigo do Brasil”, disse. “Deixará no coração, na história e nas lutas da América Latina um vazio. Lamento, como presidente da República, e como uma pessoa que tinha por ele um grande carinho”.

O que tenho a dizer...o Brasil perdeu um amigo e a Venezuela um líder!!!

segunda-feira, 4 de março de 2013

A história da professora que se correspondia com Drummond


Helena Maria Balbinot Vicari, de 72 anos, guarda 60 cartas que trocou com o autor mineiro



A professora, moradora de Guaporé, trocou cartas com o escritor durante 25 anos


Carlos Drummond de Andrade era um missivista intenso, mesmo para uma época em que escrever cartas era comum. Sua correspondência com Mário de Andrade foi editada em mais de 600 páginas. A com Cyro dos Anjos, em mais de 300.

Em Guaporé, a 235 quilômetros de Porto Alegre, uma professora guarda 60 cartas – para ela, tão valiosas quanto.

Helena Maria Balbinot Vicari, 72 anos, começou a se corresponder com Drummond de Andrade quando tinha 21 anos, em 1961 (o poeta estava chegando aos 60). Ela era aluna da escola normal em Guaporé e queria manifestar solidariedade diante de uma pedra recorrente no caminho do autor mineiro: a má vontade da crítica.

– Uma professora comparou em um livro um poema da Cecília Meirelles e um do Drummond, para dizer que ela sim fazia poesia, e que ele provavelmente sumiria das vitrines das livrarias em alguns anos. Fiquei indignada e escrevi para ele que o achava o melhor, ainda que meus professores não concordassem – conta ela.

Correspondente atencioso, Drummond respondeu, em mensagem datada de 16 de junho de 1961. Agradecia as palavras gentis e enviava, atendendo ao pedido da leitora, um cartão de visitas autografado. De tempos em tempos, Helena retomava o contato e sempre recebia resposta – as cartas seguintes já falavam de uma maior aceitação de Drummond na escola (a professora havia mudado). "Para um autor de minha geração, é interessante verificar como rapazes e môças aceitam a poesia chamada modernista, que foi tão combatida e mesmo ridicularizada pelos professores de ginásio, por aí além", comemorava o poeta em novembro de 1962, ao saber que Helena e os colegas haviam realizado uma dramatização do drummondiano Noite na Repartição.

O contato foi sempre por escrito. Helena jamais conheceu o poeta, e só falou com ele por telefone uma única vez. A amizade epistolar durou até 1986 – um ano antes da morte dele. Helena mantinha Drummond informado de sua vida, seus progressos na escola normal, seu noivado e posterior casamento com Jurandir Vicari, o nascimento dos filhos, poemas que escrevera. Drummond sempre respondia, enviava versos, conselhos de alguém mais experiente (Drummond era quatro décadas mais velho).

Mais do que um testemunho da amizade de Helena com Drummond, as cartas que ela mantém bem guardadas nas folhas de plástico de um classificador preto são indício de uma relação ainda mais duradoura.

A convivência de Helena com a poesia.


Correspondência vai virar filme

É a própria Helena quem reforça essa impressão ao contar a história. Para falar das cartas a Drummond, recua até o momento em que descobriu o endereço do poeta, em um almanaque antigo. Aí se lembra de que precisa falar de como descobriu a poesia do autor, na adolescência, por meio da jornalista e poeta Lara de Lemos, que mantinha uma coluna de crônicas e poesia no Correio do Povo, e a quem Helena também escreveu.

– Ela me respondeu, e até me convidou para ir visitá-la em Torres, na praia. Bem que eu quis, mas meu pai disse: "ir pra casa de uma mulher que a gente nem conhece direito? Não vai". E eu não fui – relembra.

Certa ocasião, em 1960, quando precisou ir a Porto Alegre para fazer exames médicos, Helena aproveitou para visitar a escritora com quem se correspondia. Foi Lara quem apresentou a jovem estudante ao trabalho de Drummond, lendo o poema Consolo na Praia (aquele do "o primeiro amor passou / o segundo amor passou..."). Por sugestão de Lara, Helena comprou o mesmo livro, na Livraria do Globo – Poemas, coletânea lançada em 1959 pela José Olympio, que ela guarda até hoje.

Helena escreveu por desagravo ao que considerava a avaliação injusta de uma professora à obra de Drummond. Em outra ocasião, confrontou outra mestra que havia apresentado em uma aula, o poeta como teatrólogo.

– Eu pulei e disse: o Drummond não é teatrólogo, é poeta. Ela só me respondia: mas é o que está aqui no papel que eu tenho. Escrevi para ele e ele comentou que havia apenas autorizado adaptações de sua obra, mas não era homem de teatro. Quando mostrei a resposta, a professora ficou branca de susto – narra.

Helena é cuidadosa com suas lembranças. Além de manter intacta a maior parte da correspondência com Drummond – por ingenuidade, ela mesmo admite, recortou para dar a uma professora a assinatura do poeta na segunda carta que ele enviou. Também mantém guardada uma carta que recebeu de Cecília Meirelles, também em resposta a uma correspondência enviada pela leitora.

Outro autor que durante anos recebeu palavras atenciosas da missivista foi Moacyr Scliar. Muitas vezes, Scliar registrava o recebimento das cartas em notas curtas na coluna que mantinha em Zero Hora – Helena ainda guarda os recortes. Até hoje, anota os livros que leu, peças e filmes a que assistiu. Geralmente, nos mesmos cadernos e agendas em que escreve os versos que ainda compõe, embora nunca tenha publicado.

Professora na ativa até 2010 – aposentou-se mais pela exigência legal e menos por intenção plena –, Helena já foi tema de outras reportagens como esta. Uma delas foi publicada neste mesmo Segundo Caderno de ZH, em 2002. Outro texto, do jornalista Emiliano Urbim, para a revista Piauí, em 2008, foi o responsável indireto por Helena agora estar prestes a ser tema de um filme. A diretora Mirela Kruel, autora do curtaPalavra Roubada, leu a revista em uma viagem aérea voltando de Brasília. Chegou em Porto Alegre decidida a encontrar a correspondente do poeta em Guaporé. As conversas iniciais falavam em um curta de 15 minutos. Hoje, Mirela finaliza a preparação para começar as filmagens, possivelmente em abril. Financiado pelo Fumproarte, o filme vai equilibrar a voz de Helena contando a história e reencenações estreladas pelos Janaína Kraemer e Rodrigo Fiatt.

– Quero fazer um filme sobre a poesia, a própria criação poética – diz Mirela.

– Há três anos ela divide comigo esse sonho. Na primeira vez em que falou nisso, nem dormi à noite de nervosa. Mas confio nela – assevera Helena.

Depois de anos convivendo com a arte, ela está pronta para ser, ela própria, arte.

Fonte: Zero Hora

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Quem se esqueceu do software livre?

Para que essa alternativa se viabilize e seja aceita de forma ampla, dentre os inúmeros universos de usuários existentes, é essencial que conte com o apoio do Estado, por meio da formulação e implementação de políticas públicas para o setor.









As propostas de grupos como o Wikileaks e as ações mais recentes de Julian Assange, a partir do asilo concedido na Embaixada do Equador em Londres, recolocam no centro do debate político internacional questões essenciais que relacionam economia, poder e informática, nestes tempos de mudanças profundas nos padrões tecnológicos e culturais da sociedade contemporânea. A era da emergência das chamadas tecnologias da informação e comunicação (TICs).

No Brasil, o movimento pela democratização das condições de “ciência, tecnologia e inovação” encontra um espaço importante no movimento para disseminação do software livre. Afinal, convenhamos que é mesmo um absurdo ficarmos, todos nós, reféns das vontades e dos interesses de um punhado de poderosas mega-empresas da tecnologia virtual. É o caso da Microsoft e similares, que ganham fortunas apenas com os direitos autorais e de propriedade de seus programas, os chamados produtos software e aplicativos. Isso sem contar o enorme faturamento obtido também com a produção de máquinas e equipamentos, os produtos hardware. Usam e abusam de sua imensa influência para impedir o surgimento de outros caminhos. Escondem a 7 chaves os segredos de sua linguagem e de seus códigos, as fontes de seu poder no mercado e na sociedade.

Independência frente aos grandes grupos

Em razão desse tipo de constrangimento, é crescente o movimento de constituição de alternativas que não dependam desse tipo de amarração jurídica e financeira aos grandes grupos. Por todos os continentes são constituídos, a todo momento, grupos formais e comunidades informais de pesquisadores, profissionais e demais interessados, cujo objetivo é criar e oferecer, para toda a sociedade, o livre acesso aos mesmos tipos de programas de informática sem a necessidade de remunerar monetariamente direitos autorais ou de propriedade. São os chamados “free software”. Pra além do não pagamento, a idéia de “free” deve ser associada à liberdade para os usuários dominarem e abrirem a “caixa preta” dos sistemas. Com isso, os mesmos poderiam ser aperfeiçoados e reproduzidos de forma generalizada. O objetivo maior sendo a democratização do acesso e do uso dos programas.

No entanto, para que essa alternativa se viabilize e seja aceita de forma ampla, dentre os inúmeros universos de usuários existentes, é essencial que tais iniciativas contem com o apoio do Estado, por meio da formulação e implementação de políticas públicas para o setor. Afinal, as medidas estratégicas visando a universalização da inclusão digital deveriam incorporar a noção implícita de que o direito ao acesso ao mundo virtual é condição fundamental do exercício pleno da cidadania.

Apoio do Estado e políticas públicas

O apoio da Administração Pública pode vir sob diversas formas. A primeira delas é por meio de políticas de incentivo e financiamento ao desenvolvimento de software livre, tanto nas universidades e nos centros de pesquisa, quanto nos grupos informais e comunidades de ativistas. Com isso, contribuindo para criar massa crítica e para tornar permanente a formação de profissionais com esse perfil. Em segundo lugar, o Estado pode atuar de forma mais incisiva ao estabelecer que suas necessidades e solicitações de produtos e serviços de informática sejam direcionadas para o software livre. Com isso, ficaria assegurada uma demanda significativa para esse tipo de alternativa de programas e os orçamentos da União, dos estados e dos municípios deixariam de ser onerados pelos encargos com pagamento de direitos às grandes empresas de TICs. Em terceiro lugar, o Estado deve constituir fundos de financiamento específicos para o desenvolvimento desse tipo de programa, com o objetivo de disseminar sua utilização e oferecer condições de pesquisa e empreendedorismo para todos que desejem atuar com esse tipo de projeto. Finalmente, cabe aos órgãos governamentais exercer de forma mais incisiva seu papel de regulamentador e fiscalizador das condições de concorrência no mercado, para evitar as conhecidas práticas sob a forma de cartel ou abuso de poder econômico. 

Ascensão e queda no governo Lula

Como se pode perceber a tarefa é árdua e as oportunidades políticas não podem ser desperdiçadas. Assim, o processo da vitória de Lula nas eleições presidenciais e o início de seu mandato em 2003 foram vistos pelas entidades, grupos e indivíduos que atuavam na área como o grande momento para colocar o processo em marcha e transformar o sonho em realidade. O lema generalizado era: “Sim, é possível!”. Durante os primeiros anos de governo houve até mesmo um esboço de incentivo à ampliação do uso do software livre e de sua propagação como política pública federal. Diversos grupos de trabalho foram constituídos para implementação de medidas em áreas como: i) inclusão e acesso digitais; ii) aprofundamento da estratégia do governo eletrônico; e iii) universalização da produção e acesso ao software livre, dentro e fora dos órgãos governamentais.

Porém, a força das empresas do setor não esperou muito para se manifestar. E, pouco a pouco, os poderosos das TICs foram reconquistando o terreno, articulando junto a políticos influentes no Executivo e reforçando seu “lobby” junto ao Legislativo. O objetivo central era minar, ainda no nascedouro, essa chamada “aventura irresponsável” do software livre. Apesar de perder força no interior do governo, a iniciativa ainda se mantinha acesa na esfera de poder da Presidência da República. Tanto que o próprio Lula assinou, em 2005, a apresentação de uma importante diretiva para que o software livre fosse adotado como regra para o uso das políticas de informática no interior da Administração Pública.

O documento “Guia Livre: Referência de Migração para Software Livre do Governo Federal” estabelece uma estratégia para completar um processo que teve início logo no início do governo: romper a dependência tecnológica e financeira em relação aos grandes grupos. O texto assinado pelo Presidente não poderia ser mais claro a respeito de um engajamento com tal opção de política pública:

“Nos últimos três anos, implementamos uma forte política de independência tecnológica, de fortalecimento da pesquisa em computação de alto desempenho, de inclusão digital e de adoção do software livre. Elementos que compõem uma política industrial e uma estratégia de desenvolvimento nacional para esse setor.”

O texto de Lula refletia, com toda a certeza, o pensamento e a vontade da maioria dos integrantes de sua equipe de governo a respeito do assunto até o ano de 2005. O software livre era encarado como política pública e merecia o tratamento de prioridade. Vejamos outro trecho carregado de recados e significados:

“Quero agradecer a todos os que defendem o software livre e lutam pelo aprofundamento e ampliação dos direitos de cidadania em todo o mundo. As potencialidades e os desafios das novas tecnologias da informação têm cada vez mais importância para o efetivo exercício desses direitos. Em nosso ponto de vista, o acesso a esses avanços tecnológicos deve ser direito de todos e não privilégio de poucos. Por isso, o governo federal tem intensificado o diálogo democrático com a sociedade e tratado o software livre e a inclusão digital como política pública prioritária. Entre os resultados desse diálogo estão programas importantes em curso no País.” (grifo nosso)

Apesar dessa diretriz inequívoca, a questão do software livre foi, pouco a pouco, perdendo espaço na pauta de governo. O jogo de pressão das grandes empresas terminou por vencer a disputa, pois os dirigentes políticos não tiveram a coragem necessária para levar à frente esse importante projeto. O roteiro foi muito semelhante ao do que ocorreu com a submissão aos interesses dos banqueiros e do financismo, aos interesses das empreiteiras e das construtoras, aos interesses dos representantes do agronegócio e do latifúndio, aos interesses das empresas de telecomunicações e aos interesses dos grandes meios de comunicação. Neste caso, em particular, o governo terminou cedendo aos interesses dos grandes grupos de TICs. Tudo em nome da suposta necessidade de governabilidade. Tudo plenamente justificado pela busca de um modelo de realismo e pragmatismo políticos, que sempre termina por distorcer o sentido primeiro da conquista do poder: a transformação social.

Urgência em retomar o tema e o potencial do Brasil

O Brasil tem uma história recente que confirma seu potencial para alavancar um setor de computação competente e eficaz. Isso vem desde a antiga política nacional de informática, quando se pretendia desenvolver um setor nacional, com incentivos fiscais e estímulo governamental. Apesar dos problemas apresentados por tal estratégia, o fato é que o ingresso nos anos 1990, a adoção do receituário neoliberal e o mito da globalização acabaram por inviabilizar tal opção. Quando Collor escancarou de forma generosa e irresponsável o mercado brasileiro à concorrência internacional, não havia meios de resistir.

E, apesar da enorme pressão contra tudo o que fosse público, mesmo no interior da administração do Estado sempre houve ilhas excelência para desenvolvimento de programas e processos na área de informática. Era o exemplo do CPQD na Telebrás, antes de sua privatização. Ou então o caso do SERPRO, ainda operando para o governo federal no âmbito do Ministério da Fazenda. Isso significa que, caso o setor público venha a confirmar sua demanda por esse tipo de serviço, a sociedade brasileira pode criar as condições para sua implementação. O que falta, porém, é uma garantia de continuidade na política pública e o estímulo para que as novas gerações de profissionais e usuários sejam educadas e formadas em ambiente favorável ao uso do software livre.

Para além da questão da economia de recursos do orçamento - aspecto que não deve ser negligenciado de forma nenhuma, a política pública de software livre carrega consigo a noção de inclusão digital, de política industrial e de estratégia de desenvolvimento nacional. O desenvolvimento de capacitação econômica e profissional no setor de TICs internamente é essencial para um projeto de País. Um território de dimensões continentais como nosso, uma sociedade complexa como a brasileira, uma população tão numerosa como a que atingimos e uma estrutura econômica tão diversa e dispersa como a que temos não podem prescindir de uma política de tecnologia de comunicação e informação também autônoma, e que seja adaptada e voltada para os nossos problemas e desafios.

O monitoramento da Amazônia verde, o acompanhamento da Amazônia azul (o Oceano Atlântico de 200 milhas por quase 8.000 km de costas), os desdobramentos do Pré-Sal, o monitoramento das situações de riscos, os mecanismos de defesa de nossas fronteiras e tantos outros itens vitais não podem ser deixados para tratamento pelas grandes empresas do setor. Na verdade, trata-se de afirmar um desejo e uma necessidade de independência tecnológica e de soberania nacional. A política de software livre é tão somente a ponta do iceberg de um conjunto mais amplo de medidas para que o Brasil tenha condições de enfrentar de forma competente e robusta os desafios desse mundo cada vez mais multipolar.

A institucionalidade da Presidência da República ainda manteve a estrutura responsável por esse tipo de ação, o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação. O governo possui até mesmo um Plano Plurianual para o setor. Mas o quadro atual é muito distante daquele descrito por Lula há 7 anos atrás. Uma das evidências mais carregadas de simbolismo é que a página específica da internet parece que parou no tempo. É necessário que o governo se dê conta da importância do tema e recupere o espaço perdido, recolocando o software livre como prioridade em sua agenda. Para tanto, é essencial que lembremos, a todo instante, à equipe de Dilma Rousseff sobre a natureza estratégica dessa política pública: não se esqueçam jamais do software livre!




segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Frase da Noite





 "A maior desgraça de um país pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos"


Mia Couto

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

MAIS UM MANIFESTO DE APOIO AO JUIZ FERNANDO CORDIOLI..... É A VOZ DO POVO....



 

A UNISOCIAL APOIA O JUIZ FERNANDO CORDIOLI - FORÇA VIVA DA SOCIEDADE SERRANA; MOSTRANDO SEU VALOR

No último dia 06 de dezembro de 2012, o Dr. Fernando Cordioli Garcia, mui digníssimo juiz titular na Comarca de Otacílio Costa, foi, abruptamente, afastado de seu cargo, pelo TJ/SC. É notório – na mídia e perante a opinião publica, que este juiz tornou-se um arquétipo nas suas funções de magistratura. Uma das premissas, deste impávido magistrado, tem sido o combate aos desmandos jurídico/judiciais e o enfrentamento a corrupção.Em sua atuação, aplicou um cabedal de decisões judiciais inéditas no combate a corrupção nos setores público e privado - desafiando os “poderosos” e rompendo nocivos paradigmas- tradicionalmente incrustados na sociedade serrana. 

A ousadia do Dr. Cordioli, em fazer cumprir – com eficácia e pertinência - os princípios constitucionais de interesse público, aparentemente, resultou em um tipo de “choque de ordem” no TJ/SC: o pleno dos desembargadores do Tribunal aprovou a instauração de processo disciplinar contra o intrépido magistrado. Isto, simplesmente surpreende, inclusive porque, um mês antes de seu afastamento, este bravo magistrado fora homenageado pela Câmara de Vereadores de Otacílio com a concessão do título de cidadão otaciliense. Todo este cenário faz vibrar o mais sutil contraventor, e deixa perplexo qualquer cidadão consciente. Será que, neste país, cada vez que um magistrado decide agir, com intrepidez, frente aos entraves paradoxais das decisões judiciais, inexoravelmente, tem que acabar sendo afastado de suas funções? Por conseqüência, estimulam-se os infratores; a corrupção (política) acaba sendo exacerbada; e, de quebra, desqualifica-se as decisões judiciais de primeira instância- causando uma nítida sensação de que a impunidade é sempre favorecida. 

Por conta disto, a Unisocial, através de seu secretário, Dr. Valmor Bueno da Luz, juntamente com a notável militante social Dra. Erli Camargo – assessora jurídica do Centro Regional de Direitos Humanos, sediado em Lages-, foram recebidos, sob os auspícios da ABRACCI – Articulação Brasileira de Combate a Corrupção e a Impunidade-, em audiência por um membro do CNJ em Brasília, no início deste mês, com o intuito de pleitear intervenção, por parte do CNJ, sobre este fatídico afastamento – entrementes, o Dr. Cordioli houver entrado com recurso junto ao STF.

Ano passado, em meados de setembro de 2012, quando o TJ/SC ainda especulava o eventual afastamento do magistrado, a Unisocial já houvera encaminhado – em caráter preventivo- um oficio ao Presidente do TJ/SC, desembargador Claudio Barreto, solicitando que os desembargadores reavaliassem o importante trabalho desenvolvido pelo Dr. Cordioli. Sugerimos, inclusive, a sua designação para o município de Correia Pinto, cuja Comarca encontra-se desfalcada de Juiz titular a quase um ano. Solicitação esta que foi-nos, peremptoriamente, indeferido.

Portanto, a Unisocial, integrante – a sete anos- da rede brasileira de ONGs no combate a corrupção - capitaneada pela ABRACCI e pela Amarribo, vem questionando, sistematicamente, através da mídia e nas redes sociais, o que qualificamos de uma deslavada evidenciação de desconstrução da legitimidade do Poder Judiciário; haja vista que o ato de afastamento foi deflagrado de forma pontual - queimando etapas de princípios institucionais e éticos, por assim dizer.

A mobilização da sociedade civil organizada, longe de ser “omissa”, “indiferente” ou “covarde” manifesta seu protesto sobre questões que, de perto interessam a toda a sociedade da serra catarinense, a despeito de não haver, até o presente, posicionamento oficial sobre o episódio, por parte das categorias de classe, como é o caso da associação dos magistrados de SC e da própria OAB. 

Valmor Bueno da Luz 
Secretário da Unisocial- União de associados pela cidade saudável
UNISOCIAL – União de Associados Pela Cidade Saudável
CNPJ Nº 08.239.740/0001-97
ONG – Organização Não Governamental Sem Fins Lucrativos
Fundado em 26/06/06
“Construindo cidadania plena e participativa”