quarta-feira, 30 de abril de 2014

Tá bom, mas tá ruim



A imprensa bipolar deste Brasil cuja independência fora anunciada nas margens do rio Ipiranga, não consegue falar bem do governo, independente da esfera.

Ao mesmo tempo, tentam confundir o leitor e a leitora, afirmando que o país está um caos. É mais confiável apostar na Argentina como campeã mundial em 2014 do que no caos apontado pela imprensa. 

Por isso, recomendo a leitura deste artigo Melhor, mas pior, do jornalista Jânio de Freitas.

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quarta-feira, 23 de abril de 2014

Em busca de Iara

Aos poucos, a história de muitos dos personagens da história recente do Brasil começa a ser novamente escrita. Detalhes que ficaram descondidos, muitas vezes mistificados pela rede de mentiras oficiais, são pesquisados, esclarecidos e revelados especialmente por diretores de documentários. Um deles é este Em busca de Iara, de Flávio Frederico.

O filme se baseia nas pesquisas e na luta de Mariana, sobrinha de Iara, que não ganhou o sobrenome Iavelberg porque sua família temia a repressão e os efeitos da ditadura. O documentário mostra como foi a vida de Iara Iavelberg, estudante, militante, companheira de Carlos Lamarca, morta em Salvador. Pela versão oficial, ela teria se suicidado para evitar a prisão. Na verdade, foi morta aos 27 anos pelas forças da segurança, em 1971. Vale a pena assistir. É uma aula de historia sobre o Brasil.














Frase do Dia - Mario Quintana


“Cego é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria. Surdo é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão.”

Mario Quintana

terça-feira, 22 de abril de 2014

O golaço da CBF




Depois dos atos de racismo em alguns estádios, a CBF lançou uma bela campanha contra todo tipo de preconceito.

A partir de um texto de Mauro Beting (com edição de Israel Coifman), vários personagens – entre eles Tinga e Márcio Chagas da Silva, vítimas de atitudes racistas no Peru e em Bento Gonçalves – repetem mensagens de conscientização.

O vídeo está no You Tube, com legendas em inglês.

Este, sim, é um golaço da CBF.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Frase do Dia







“Os idosos têm uma taxa mais alta de depressão, de outros transtornos mentais e também mais incidência de problemas físicos e doenças crônicas ou incuráveis. Além disso, têm cada vez menos contatos sociais. O homem idoso não tem quem cuide dele e não foi preparado para se cuidar. Isso não acontece com a mulher, que tem mais relações afetivas válidas e mantém uma rede social de apoio”

(José Manoel Bertolote, professor de psiquiatria, autor de O Suicídio e sua Prevenção, ao dizer, em entrevista à revista CartaCapital, que os homens de 75 anos ou mais formam o grupo com mais riscos de tirar sua própria vida. É algo que qualquer um de nós tem condições de observar: a mulher expande suas relações, o homem se deprime)

terça-feira, 15 de abril de 2014

AS 10 FOTOS BRASILEIRAS MAIS FAMOSAS


Enviado por Assis Ribeiro


A pesquisa foi do Carlos William Leite, colunista da Revista Bula, que levou em consideração várias publicações em exposições, reportagens, listas publicadas por sites especializados em fotografia, es­por­tes, cultura pop, política e história.
O resultado é BEM interessante.

1 — O coração do Rei (1970)


Fotografia feita em 30 de setembro de 1970, durante o jogo Brasil 2 x México 1, no estádio do Maracanã, Rio de Janeiro. Na imagem, o suor na camiseta de Pelé forma desenho de um coração. A versão que a foto teria sido simulada já foi desmentida dezenas de vezes. “Ainda hoje há quem me pergunte se não foi Photoshop, sempre tenho de explicar que isso nem existia naquela época”, afirma Luiz Paulo Machado.
Fotografia: Luiz Paulo Machado.

2 — A piscada de Ayrton Senna (1989)



Fotografia feita em 26 de março de 1989, durante o Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, no Autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Na fotografia, Ayrton Senna pisca o olho para o chefe de equipe da McLaren, Ron Dennis, sinalizando que estava pronto para correr.
Fotografia: Evandro Teixeira.

3 — Serra Pelada gold mine (1986)


Fotografia feita em abril de 1986, no garimpo de Serra Pelada, no sul do Estado do Pará. Serra Pelada se tornou mundialmente conhecida por ter abrigado a maior corrida do ouro da era moderna, onde foram extraídas, oficialmente, 30 toneladas de ouro.
Fotografia: Sebastião Salgado.

4 — A garota de Ipanema (1960)


Fotografia feita em março de em 1960 pelo fotógrafo francês Milan Alram, na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. Dois anos depois, a garota da foto, Eneida Menezes Paes Pinto Pinheiro (Helô Pinheiro), seria imortalizada por Vinícius de Moraes e Tom Jobim na canção “Garota de Ipanema”, uma das músicas mais executadas no mundo.
Fotografia: Milan Alram.

5 — O suicídio de Vladimir Herzog (1975)

A fotografia, que tornou-se um símbolo da repressão promovida pela ditadura militar, foi feita em 25 de outubro de 1975 nas dependências do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações — Centro de Operações de Defesa Interna), em São Paulo. Na fotografia, o jornalista Vladimir Herzog é encontrado enforcado com um cinto. Mais de três décadas depois, o fotógrafo Silvaldo Leung Vieira, autor do registro, afirmou, em entrevista a “Folha de S. Paulo”, ter sido usado pela ditadura para forjar uma cena de suicídio.
Fotografia: Silvaldo Leung Vieira.

6 — Leila Diniz grávida na praia (1971)

Fotografia feita em 15 de agosto de 1971 na ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro. A imagem de Leila Diniz de biquíni — grávida de seis meses — escandalizou o Brasil e virou um clássico da iconografia feminina no país. A fotografia, na ocasião, despertou a ira dos conservadores. 
Fotografia: Joel Maia.

7 — Falcão comemorando o empate contra a Itália (1982)


Fotografia feita em 5 de julho de 1982, no estádio Sarriá, em Barcelona, Espanha. Paulo Roberto Falcão comemora o gol de empate contra a Itália, na Copa do Mundo de 1982. A seleção brasileira, considerada uma das melhores da história das copas e favorita ao título, acabaria sendo desclassificada por 3 x 2. O jogo ficou conhecido como o Massacre do Sarriá.
Fotografia: J.B. Scalco.

8 — Janis Joplin no Rio (1970)

Fotografia feita em fevereiro de 1970, na cidade do Rio de Janeiro, onde Janis Joplin passou 10 dias acompanhada pelo pelo fotógrafo Ricky Ferreira e pelo cantor Serguei. “Creio que a viagem ao Brasil não foi uma boa experiência para ela. Foi muito maltratada. Acho que eles pensavam que a superstar Janis Joplin era mais uma das belezas do cenário hollywoodiano”, afirma o fotógrafo.
Fotografia: Ricky Ferreira.

9 — JK e a inauguração de Brasília (1960)


Fotografia feita em 21 de abril de 1960. Gervásio Baptista, repórter fotográfico da revista “Manchete”, tinha ido a Brasília com a missão de fazer a foto de uma edição especial sobre a inauguração da nova capital. A fotografia, na subida da rampa do Palácio do Planalto, com Juscelino Kubitschek acenando com a cartola correu o mundo e virou um dos símbolos da cidade.
Fotografia: Gervásio Baptista.

10 — Passeata dos Cem Mil (1968)


Fotografia foi feita em de 26 de junho de 1968, na cidade do Rio de Janeiro, durante uma manifestação popular de protesto contra a ditadura militar, organizada pelo movimento estudantil e que contou com a participação de artistas, intelectuais e setores da sociedade brasileira.

Fotografia: Evandro Teixeira.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

A indústria do parto: como o Brasil se tornou líder mundial de cesáreas





Publicado na BBC Brasil.

Quando a fotógrafa Daniela Toviansky, de 35 anos, ficou grávida, passou a frequentar aulas de hidroginástica com outras gestantes em estágios próximos de gravidez. Ela lembra que, entre uma aula e outra, todas manifestavam um desejo em comum: ter filhos por parto normal. “Todas acabaram fazendo cesárea”, conta Daniela, que se tornou a exceção. Seu bebê, Sebastião, nasceu após 40 semanas de gestação e da forma como ela queria.

O que aconteceu com as colegas da fotógrafa é uma amostra fiel da situação vivida por muitas grávidas no Brasil hoje, especialmente entre as classes mais altas, em um processo que muitos especialistas vêm chamando de “a indústria da cesárea brasileira”.

Com 52% dos partos feitos por cesarianas – enquanto o índice recomendado pela OMS é de 15% -, o Brasil é o país recordista desse tipo de parto no mundo. Na rede privada, o índice sobe para 83%, chegando a mais de 90% em algumas maternidades. A intervenção deixou de ser um recurso para salvar vidas e passou, na prática, a ser regra.

Um caso extremo chamou a atenção há três semanas, quando a gaúcha Adelir Lemos de Goes, uma mãe de 29 anos de Torres (RS), foi obrigada por liminar da Justiça a ter seu bebê por cesárea. Ela foi levada à força ao hospital quando já estava em trabalho de parto, provocando debates acalorados sobre até onde a mãe o poder de decisão sobre o próprio parto.

O caso também levou centenas de pessoas a saírem às ruas, em cidades do Brasil e do exterior, para protestar na última sexta-feira. A manifestação foi batizada de “Somos Todas Adelir – Meu Corpo, Minhas Regras.”

Mas por que e desde quando o Brasil começou a mergulhar nesta verdadeira epidemia de cesáreas? Falhas profundas na regulamentação do sistema de saúde do país e uma lógica perversa na gestão de profissionais e obstetras que, por questões financeiras, acabaram perdendo o hábito de fazer partos normais são algumas das causas, agravadas principalmente pela falta de informação que cerca o assunto.

Desinformação

Uma pesquisa feita pela Fiocruz (“Trajetória das mulheres na definição pelo parto cesáreo”) acompanhou 437 mães que deram à luz no Rio, na saúde suplementar. No início do pré-natal, 70% delas não tinham a cesárea como preferência. Mas 90% acabaram tendo seus filhos e filha assim — em 92% dos casos, a cirurgia foi realizada antes de a mulher entrar em trabalho de parto.

O levantamento dá a medida de que, em algum estágio dos nove meses de gestação, algo fez a mulher mudar de ideia. As pesquisas da Fiocruz mostram a “baixa informação recebida pelas mulheres em relação às vantagens e desvantagens dos diferentes tipos de parto e a baixa participação do médico como fonte desta informação”.

O estudo e os profissionais de saúde ouvidos pela BBC apontam que as grávidas, de todas as classes sociais, estão longe de estarem bem informadas.

Poucas mães e futuras mães sabem, por exemplo, que as cesáreas aumentam o risco de um bebê nascer prematuro (com menos de 37 semanas de gestação). Isso porque muitos partos são marcados para essa idade gestacional e, como há possibilidade de erro de até uma semana, o bebê pode ser ainda mais novo. A esmagadora maioria destas intervenções não é feita de forma emergencial, mas, sim, programada.

Além de ser a causa de mais da metade das mortes de crianças no país, a prematuridade pode trazer uma série de riscos para o bebê, especialmente doenças respiratórias e dificuldade de mamar. Eles também não se beneficiam do fato de entrar em contato com hormônios benéficos, liberados apenas em certos estágios do trabalho de parto.

No Brasil, 15 milhões dos bebês nascidos em 2010 eram prematuros, o equivalente a 11,7%, segundo uma pesquisa conjunta feita pelo governo e o Unicef. O índice, que coloca o Brasil na décima posição entre os países com mais prematuridade, é mais alto nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste – justamente as que têm mais cesarianas, o que pode indicar uma relação entre os dois fatores.

Além disso, a falta de informação no pré-natal faz com que não haja espaço para esclarecimentos de como a mulher pode lidar com a dor ou outros aspectos, como o que exatamente vai acontecer no parto e como se preparar.

“Muitas vezes , o médico não explica questões sexuais para a grávida, por exemplo”, conta Etelvino Trindade, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). “Então elas vão se informar com a vizinha, a avó, a prima… e elas sempre têm uma história sobre o parto normal, seja ela escabrosa ou apenas mentirosa. É bastante arraigada a noção de que o parto normal vai deixar a mulher ‘larga’ e, assim, sexualmente inadequada. A cesárea é uma alternativa à esse medo. Mas isso acontece porque há um tabu em se falar sobre esses temas e porque hoje o médico é muito técnico. É um curador, não um cuidador.”

Falhas no sistema de saúde e a questão financeira

Segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil, a “indústria da cesárea” começou a se formar há 40 anos. “A epidemia de cesarianas começa na década de 70, quando ela começou a ser vendida como solução (de cirurgia única) para a esterilização definitiva, a laqueadura das trompas”, explica a obstetriz Ana Cristina Duarte, uma das principais vozes do movimento de humanização do parto no país.

O ginecologista Etelvino Trindade, presidente da Febrasgo, acrescenta outro fator ocorrido naquela época, decorrente da criação de instâncias do INPS (Instituto Nacional de Previdência Social), que passaram a determinar que um médico só recebia se participasse efetivamente do parto.

“Até então, o bebê nascia com a obstetriz e o obstetra supervisionava, entrava se houvesse alguma intercorrência, como acontece em países europeus até hoje”, diz Trindade. “Mas as regras mudaram e ele passou a precisar estar sempre na sala de parto (para receber). E, assim, o quadro começou a mudar.”
Já na década de 80, segundo Ana Cristina, acontece a dicotomização das taxas de cesárea diferenciadas no setor público e privado. “É nessa década que as taxas do setor público aumentam um pouco, porém a do setor privado salta para níveis alarmantes. Nas décadas seguintes, cada vez mais brasileiros têm aderido ao setor privado, fazendo as taxas globais brasileiras saltarem para os níveis atuais.”

Braulio Zorzella, ginecologista defensor do parto normal e pesquisador da área, diz que “a grande vilã, o carro-chefe dos culpados, é a ANS”. A Agência Nacional de Saúde é a reguladora dos planos de saúde do Brasil.

Segundo ele, quando a agência hierarquizou os procedimentos, acabou chancelando uma tabela já em vigor que remunerava de maneira discutível o parto – regras mantidas até hoje.

“Todos os valores foram sendo achatados e, em um determinado momento, não valia mais a pena para um médico fazer parto normal, financeiramente falando.”

Apesar de na rede pública o obstetra ganhar um pouco a mais pela cesárea e, na privada, um pouco a mais pelo parto normal, a diferença de valores é mínima. Ou seja, um profissional recebe quase a mesma coisa para fazer uma cesárea, que dura cerca de 3 horas, e um parto normal, que pode muito bem passar das 12 horas.

“Se você paga R$600 por um parto [na rede privada], o médico prefere fazer uma cesárea e ganhar quase o mesmo do que passar a noite trabalhando”, diz Renato Sá, ginecologista e obstetra, Vice-Presidente da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Estado do Rio de Janeiro (Sgorj).

Para Ana Cristina, o cenário faz com que a cesariana marcada com antecedência seja mais vantajosa, por conta da imprevisibilidade do parto normal. “[Com a cesárea marcada], não só o médico não perde tempo, como ele também não precisa desmarcar compromissos, consultas no consultórios, viagens, etc”.

Questionada duas vezes pela BBC sobre as pequenas diferenças pagas aos médicos em partos normais e cesarianas, a ANS respondeu que “recentemente, ocorreram diversos avanços na política do setor no que diz respeito a esse tema, como, por exemplo, a criação do Comitê de Incentivo às Boas Práticas entre Operadoras e Prestadores.”

Desvalorização profissional

As mudanças do sistema de saúde nos anos 70 e 80 contribuíram também com a desvalorização de outros profissionais ligados ao parto.

Para Trindade, presidente da Febrasgo, as mudanças no INPS incentivaram a presença constante dos ginecologistas durante o parto e acabou desvalorizando profissionais como as parteiras, obstetrizes e enfermeiras especializadas.

Em muitos hospitais, hoje, não há uma equipe obstétrica completa e treinada para auxiliar o parto normal.

“A estrutura humana dos hospitais, em geral, é bem ruim”, diz Braulio Zorzella. “Não há uma equipe transdisciplinar, com enfermeira obstetra, obstetriz, doula e anestesistas trabalhando juntos. Essa seria a formação ideal para ajudar a mulher durante o trabalho de parto.”

Segundo ele, outro agravante é que, em hospitais ligados a convênios, não há profissionais especializados de plantão 24 horas por dia. O principal problema apontado por médicos ouvidos pela reportagem é a falta de anestesistas, que muitas vezes trabalham em esquema de sobreaviso – não ficam na instituição, são chamados somente em caso de urgência.

Muitas vezes, demandas de anestesia em partos não são consideradas fortes suficiente para chamar o médico em casa, criando um cenário com duas principais consequências.

A primeira, recorrente na rede privada: com o risco de chegar em um hospital e não encontrar um anestesista, mulheres e médicos preferem marcar a cesárea com antecedência.

“E a ANS permite que planos tenham hospitais conveniados sem essas equipes obstétricas de plantão, alimentando a indústria”, diz Zorzella.

Já a segunda consequência é característica da rede pública: quando a mulher que precisa e quer anestesia não a recebe.

Para Zorzella, “parte dos partos, especialmente os induzidos com ocitocina, viram uma tortura se não houver anestesia.”

A dor aguda, sem nada para amenizá-la, faz com que muitas mulheres passem por experiências traumáticas no parto normal, ampliando a crença de que este é um método com dores insuportáveis e que, por isso, a cesárea seria uma melhor opção.

De acordo com o Ministério da Saúde, em uma cesariana feita pelo SUS a mulher tem direito a contar com o anestesista de plantão.

“No caso do parto normal, o Ministério recomenda que, antes de ofertar uma analgesia de parto, o hospital deve ofertar os métodos não farmacológicos de alívio da dor, que oferecem menos riscos e podem resolver o problema da sensibilidade a dor sem os riscos da analgesia. Esses métodos incluem apoio contínuo, liberdade de movimentação e adoção de posições, acesso a água – como chuveiro e banheira – acesso a escada de ling, ao cavalinho e banquinho, que são instrumentos de fisioterapia para adotar outras posições para o parto normal, além do apoio pela doula, a ambiência da maternidade e a privacidade”, afirmou o órgão em nota enviada à BBC.

O Ministério da Saúde também informou que não recomenda o uso de ocitocina para aceleração do parto e lembrou que o governo vem tentando combater o número crescente de cesáreas, com iniciativas como a criação da Rede Cegonha e das chamadas Casas de Parto, que têm como metas incentivar o parto normal humanizado.

A falta de leito e os interesses dos hospitais privados

“Perdemos 20 mil leitos hospitalares em ginecologia e obstetrícia”, afirma Trindade, da Febrasgo. “Sem a garantia de que terá uma vaga em um hospital quanto entrar em trabalho de parto, muitas mulheres e médicos preferem não correr esse risco”, diz o ginecologista, em referência a um problema similar ao da falta de anestesistas.

Pedro Octávio de Britto Pereira, obstetra e professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) concorda que há cada vez menos maternidades e vagas para parto. “E uma forma de garantir uma vaga em um bom hospital é marcar e fazer cesárea.”
Se, por um lado, para o plano de saúde é bom que haja centro obstétrico (para poder colocar mais maternidades conveniadas em sua listagem), para os hospitais não é interessante financeiramente. “Usar o espaço físico para colocar aparelhos sofisticados, como um tomógrafo, rende muito mais para o hospital”, afirma Trindade. Pereira concorda: “O parto privado não dá lucro aos hospitais. Os hospitais preferem procedimentos mais complexos.”

Segundo o médico Francisco Balestrin, presidente do conselho de administração da Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados), não houve queda significante nos leitos de hospitais privados da associação, pois em sua maioria são hospitais gerais, ou seja, de diversas especialidades.

A formação do médico e o médico como formador de opinião

A crença de que cesárea é opção válida não apenas para casos de emergência é, não raramente, reforçada em faculdades. “Como são feitos cada vez menos partos normais, há menos chances de treinar os novos médicos, que não se sentem habilitados a fazer esse tipo de parto por não dominar todas as técnicas necessárias para isso. Junta a fome com a vontade de comer”, avalia o ginecologista Renato Sá.

Outro fator (que faz o médico optar pela cesárea) é a judicialização da medicina. “O médico é responsável por qualquer coisa que acontece, então, quando chega numa situação de risco, ele opta pela cesárea porque se houver uma fatalidade ou complicação será questionado por que não fez isso. Isso gera um medo nos médicos em tentar o parto normal”, explica Sá.

Com todo o quadro encontrado pelos ginecologistas – com má remuneração, equipe auxiliar falha, faculdades que preparam pouco e judicialização – muitos médicos acabaram se convencendo de que uma cesariana é a melhor opção para muitas mulheres.

“E no Brasil, a palavra do médico é sempre a que vale mais. Mais do que a da grávida em si, por exemplo. E assim médicos influenciam – e muito – a opinião pública, colaborando para a epidemia de cesárea”, diz Zorzella.

A opinião é reforçada pelo estudo da Fiocruz, que apontou o peso da opinião médica e a falta de interesse desse profissional pelo parto normal como motivos da desinformação das mães e pais sobre o tema.

“É importante ressaltar que esse processo de tomada de decisão pelo tipo de parto se dá numa relação de poder que se estabelece no diálogo entre o médico e a mulher, e que muitas vezes inibe qualquer questionamento da decisão do profissional”, afirmam os pesquisadores da Fiocruz. “A mudança do tipo de parto, em relação à preferência anterior, parece moldada pela conduta intervencionista do médico.”

Casos como o de Adelir, em Torres, e o crescimento, ainda que tímido, de movimentos pelo parto humanizado e centrado na mãe (não no médico) fazem com que os especialistas da área debatam e busquem maneiras para trazer o índice de cesáreas para baixo.

Zorzella acredita ser necessário que a ANS estabeleça metas para que seja reduzido em 5% ao ano o número de cesáreas na rede privada. Outros dizem que é preciso trabalhar com os estudantes de medicina para se voltar a incentivar o parto normal, analisando dados e métodos de países (em regra, ultradesenvolvidos) onde há muito menos cesáreas – na Holanda, por exemplo, o índice gira em torno de 10%.

A opinião geral passa sempre por uma profunda revisão no sistema para ajudar a mulher a se informar melhor sobre o parto e buscar a melhor decisão. “O fornecimento de informações às mulheres, antes e durante a gestação, deve ser um caminho a ser trilhado na tentativa de reverter este quadro (de cesáreas em excesso)”, afirma o estudo da Fiocruz.

domingo, 13 de abril de 2014

As diferenças entre um ladrão de galinhas e um banqueiro





Na semana em que um ministro do Supremo Tribunal Federal negou recurso para encerrar o caso de um brasileiro ladrão de galinhas (já devolvidas ao dono, por sinal) seria indispensável que muitos lessem o livroOperação Banqueiro (Editora Geração), do jornalista investigativo Rubens Valente, 43 anos, ganhador de vários prêmios importantes de jornalismo. Fiz isso. O livro é pedagógico não apenas para o leitor comum, mas também para estudantes, alunos de Direito, gente que se move nos corredores da Justiça – que por vezes parece ter bem mais facilidade para enxergar o lado privilegiado da sociedade, aquele que dispõe de mecanismos diversos, muito dinheiro e relações de influência. Não é o caso do mineiro que teria cometido o crime (nem isso foi comprovado) de roubar um galo e uma galinha, avaliados em R$ 40, de um vizinho.

Repórter da Folha em Brasília, Rubens Valente conseguiu uma licença remunerada do jornal, dentro de um programa de aperfeiçoamento pessoal ou profissional, juntou cadernos de anotações de outras investigações e mergulhou em centenas de documentos oficiais e processos da Polícia Federal sobre crimes financeiros. A leitura mostra com clareza por que Daniel Dantas, o banqueiro do título, investigado e denunciado pela Operação Satiagraha, teve dois habeas corpus concedidos pelo ministro Gilmar Mendes em apenas 48 horas. Ou por que uma investigação rigorosa, fartamente documentada, foi simplesmente anulada em um ato final do Superior Tribuna de Justiça.

“O sonho de toda pessoa condenada na Justiça por um ilícito é receber a notícia de que todas as provas contra ela, todas as interceptações telefônicas, todos os depoimentos incriminadores, enfim, todo o processo foi anulado, zerado, fulminado por uma mão divina“, escreve Valente no epílogo de seu livro. “Seria como entrar imundo num lava a jato e sair limpo do outro lado. Naquele 7 de junho de 2011, foi o que ocorreu com Daniel Dantas. As muitas horas de gravações sobre o suborno, a apreensão do dinheiro na casa de Chicaroni, os relatórios do Banco Central, os depoimentos de doleiros sobre o Opportunity Fund, as operações de mútuo entre as empresas ligadas ao Opportunity, ou seja, toda e qualquer evidência coletada durante a Satiagraha foi, pelas mãos de três ministros do STF, incinerada”.

Alguém que já tenha lido algum bom livro de histórias policiais ou assistido a um dos tantos filmes de Hollywood sobre a rede de intrigas que se move nas entranhas por onde circulam os poderosos vai concluir que Operação Banqueiro é um roteiro pronto para um excelente drama. Está tudo ali. Dá até para mudar aquela frase do final de alguns filmes: ‘qualquer semelhança com pessoas reais não é mera coincidência’.

Surge a suspeita, sem que os envolvidos levem muito a sério, em seguida começam as investigações, entra em ação uma equipe competente de policiais e peritos e, em seguida, a conclusão de que há um crime sério, envolvendo dezenas de pessoas poderosas. A polícia monta uma estrutura, investiga, consegue flagrantes (inclusive de tentativa de suborno de seus próprios agentes), encontra um juiz corajoso e intolerante com falcatruas e vai em frente até prender os responsáveis.

Quando as imagens de banqueiros, assessores e políticos conhecidos, algemados, chegam às televisões e aos jornais, a elite se escandaliza e a máquina do sistema começa a se mover, girando uma rede de intrigas, ligações com reprimendas a inquilinos de palácios, notícias falsas com a cumplicidade de veículos poderosos, denúncias de grampos que nunca foram comprovados (inclusive dos escritórios dos ministros do Supremo), de áudios de conversas entre um ministro e um senador (que também são, comprovadamente, peças de ficção), desmentidos e, principalmente, de ataque e destruição de reputações.

“Não se pode mais julgar no Brasil“, desabafou o juiz Fausto Martin De Sanctis em conversa com um pastor amigo, citado no livro. “Parece que em breve pediremos licença aos réus para condená-los“.

De Sanctis (foto) teve todos os motivos para o desabafo. Desde o início, ele mostrou coragem e disposição para enfrentar alguns poderosos, inclusive na própria Justiça, foi acusado injustamente de desafiar uma decisão do Supremo ao conceder uma segunda ordem de prisão de Dantas logo após o primeiro habeas concedido por Mendes, foi desautorizado e no fim encostado em uma vara da Previdência, bem longe de suas especificações.


“Assim, o juiz que atuou nas principais investigações de crimes financeiros e lavagem de dinheiro da história recente do país“, escreve Valente, “que determinou a prisão de dois banqueiros e de um megatraficante e que deu seguidas palestras sobre esses temas na Europa e nos Estados Unidos a partir de fevereiro de 2011 passou a decidir sobre recursos de pessoas que tiveram seu beneficio recusado pelo INSS“.

“A sociedade precisa ter um juiz que não tenha medo de julgar um político, o banqueiro mais poderoso do país“, disse Gabriel Wedy presidente da Associação dos Juízes Federais, ao defender De Sanctis. “Não se pode esconder o elefante atrás de uma cadeira“.

No fim, inverte-se todo o processo. O réu passa a acusar, no papel de vítima, e os mocinhos da história são transformados em vilões. Com este enredo, você lê as 460 páginas de Operação Banqueiro de um fôlego só – e entende por que só o ladrão de galinhas costuma ficar desamparado.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Frase do Dia



“(…) Muitos alemães e muitos nazistas, provavelmente a esmagadora maioria deles, deve ter sido tentada a não matar, a não roubar, a não deixar seus vizinhos partirem para a destruição (…) e a não se tornarem cúmplices de todos esses crimes tirando proveito deles. Mas Deus sabe como eles tinham aprendido a resistir à tentação”.

(Hannah Arendt, no livro Eichmann em Jerusalém, quando ela elaborou a teoria da banalidade do mal, ao deixar claro que a alienação de muitos não significa que o problema não esteja ao lado de cada um)