quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Consumo colaborativo ou economia compartilhada. Uma chance de transformarmos nosso comportamento



“O capitalismo está dando à luz a economia do compartilhamento e dos bens comuns colaborativos. Nós já estamos começando a viver em um sistema econômico híbrido, composto pela economia de troca no mercado capitalista, e pela economia do compartilhamento” Jeremy Rifkin, economista, pensador social, visionário e autor de best-sellers. 

Ouvi falar sobre o assunto há mais ou menos um ano e fiquei curiosa. Li alguns artigos e achei a ideia sensacional.

Na semana passada, tive um aula sobre tendências na pós-graduação, quando o professor, colunista da CBN e que trabalha a 10 anos com esse tema, nos desafiou a encontrar algo novo no mercado e que irá realmente funcionar nos próximos anos. Ali nos tornamos o que chamam de Cool hunting. Na mesma semana, me deparei com um post que me chamou atenção: Chamava candidatos á preencher uma vaga de “analista de anfitriões”. Era uma empresa que ajuda a encontrar uma família para cuidar do seu pet enquanto você viaja. As famílias são os anfitriões e a responsabilidade do candidato, avaliar se estes estão realmente aptos à cuidar bem do seu amigão. Um dos benefícios da vaga além do horário flexível: auxilio academia.

Eu, como uma boa idealista que sou pensei: que bom que até a forma de ganharmos a vida esta mudando! Fiquei completamente empolgada e decidi me aprofundar sobre o assunto. E nem precisa dizer qual tema escolhi para o trabalho da Pós!

E o que vem a ser essa tal de economia colaborativa?? 

Conceitualmente falando, trata-se de um modelo de prestação de serviços compartilhados de pessoa-para-pessoa, que possibilita ter acesso a bens e serviços sem que seja necessária a compra ou troca monetária entre as partes envolvidas. Compartilhar, emprestar, alugar e trocar substituem o verbo comprar no consumo colaborativo.

Além do Airbnb e o Uber, achei dezenas de plataformas de consumo colaborativo no Brasil e lá fora, que vão desde empresas que promovem encontro de pessoas dispostas á trocar serviços simples como pequenas tarefas de casa, plataformas de troca de objetos que não são mais usados, carona compartilhada, encontro de cultivadores com donos de espaços ociosos como jardins, com objetivo de plantar alimentos, até a troca de conhecimentos e habilidades, como por exemplo aulas de yoga por curso de alemão. E o sucesso desses serviços é exponencial. Em média 85% das trocas são um sucesso.

De acordo com a especialista Rachel Botsman (fiquei fã de carteirinha dela) esse movimento está acontecendo com a ajuda de alguns fatores:
A importância do conceito de comunidade
A tecnologia, a conectividade e as redes sociais integrando pessoas, facilitando processos e eliminando intermediários
Preocupação, ainda que tardia pelo meio ambiente
Crise global e recessão

Nesse vídeo ela fala um pouco sobre esse movimento:




E assim, o reuse, recicle, repare, redistribua, vai de encontro com o nosso atual sistema hiper consumista e mostra que na verdade, não queremos ter coisas, mas sim suprir a necessidade e desfrutar da experiência que aquela coisa proporciona, onde o uso supera a posse!

É a tal história do ”Você não precisa da furadeira e sim do furo”. Não precisamos do CD e sim da musica que ele toca!

A economia compartilhada permite que mantenhamos o mesmo estilo de vida, sem precisar ter mais, o que impacta positivamente no nosso bolso e também na sustentabilidade do planeta, além de incentivar uma nova forma de nos relacionarmos, com mais proximidade e quem sabe até, com mais confiança.

E falando em confiança, o que percebemos também é que com esse modelo, teremos uma nova “moeda“, o que esta sendo chamado de “capital de reputação“. O sucesso desse modelo depende da reputação que as pessoas tem para oferecer a melhor experiência, medida através do feedback dos usuários. O Uber, por exemplo, só mantem na equipe motoristas que tiverem avaliações a cima de 4,5 estrelas no total de 5. E esse é o fator de maior sucesso da plataforma. Portanto a reputação tende a ser o fator essencial para o sucesso das transações colaborativas.

Sou uma entusiasta desse formato e, como consultora de marketing, já estou pensando no que posso fazer para entrar nessa onda. Acredito que o consumo colaborativo veio mesmo pra ficar, pois tende a aproximar pessoas, acabar com o consumismo exacerbado e vazio, egos inflados, sentimento de posse e incentiva a darmos valor ao coletivo. E para quem duvida, é só olhar pra trás e avaliar: há alguns anos ninguém aceitaria oferecer sua casa para viajantes e olha aí o Airbnb, com casas disponíveis em praticamente todas as ruas de Paris e ao redor do mundo todo!

Pra quem quiser saber mais, aqui vão alguns links interessantes:






sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Antropólogo Italiano devolve condecoração recebida do Brasil

Em 1995, o antropólogo, etnógrafo e escritor italiano Massimo Canevacci recebeu do então presidente Fernando Henrique Cardoso a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, condecoração concedida a estrangeiros notáveis. Era uma distinção por seu trabalho de pesquisa sobre São Paulo (A Cidade Polifônica).


Canevacci é professor de antropologia cultural na Facoltà di Scienze della Comunicazione dell’Università degli Studi di Roma “La Sapienza” (Itália) e integra o Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP). Ele reside em São Paulo.


Por não concordar com a forma com que o poder no Brasil trocou de mãos, esta semana ele enviou carta ao presidente Michel Temer devolvendo a medalha.


As justificativas estão nesta carta de Canevacci:





Ao Presidente da República Federativa do Brasil


Caro Temer,


Em 1994 – enquanto professor de Antropologia Cultural da Universidade de Roma “La Sapienza” – recebi o titulo de Comendador da “Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul”. Na Embaixada do Brasil em Roma, e na frente de todo o corpo diplomático, o então Embaixador Carbonara me atribuiu esta honra, que ele mesmo havia solicitado.

O Embaixador, homem de cultura, conhecia bem a minha pesquisa sobre São Paulo e, em particular, o meu livro “A Cidade Polifônica” – que continua sendo um texto básico para a interpretação da comunicação urbana. Posteriormente, segui pesquisando as culturas nativas presentes na área do Mato Grosso, e publiquei outros livros sobre a beleza das culturas do Brasil.

Confesso que depois da votação parlamentar pelo impeachment contra a Presidenta Dilma, sinto a impossibilidade de manter este titulo. É, portanto, com grande tristeza que decido retornar esta honra ao Senhor.

Prefiro não manter este tipo de vínculo com um Estado e com um Parlamento que – após o golpe militar de 1964 – continua produzindo valores contrários aos meus princípios republicanos. 
Infelizmente, o Cruzeiro do Sul esta apagado, no momento. Espero que seja apenas temporariamente.


Respeitosamente,


Massimo Canevacci

terça-feira, 6 de setembro de 2016

O grafite que muda a paisagem

Da série Vídeos para começar bem o dia: algumas intervenções de grafiteiros mudam a paisagem das cidades.

Vejam como:




segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Missoula: a cidade universitária sombria

Em um curto período de quatro anos, entre 2008 e 2012, a pequena Missoula, cidade universitária de Montana, cercada de montanhas e rios de águas claras cheias de trutas, o sistema de justiça dos Estados Unidos registrou 350 casos de agressāo sexual – muitos deles, sem processos e sem puniçōes. O ambiente conservador, unido ao orgulho por ter na cidade um dos times mais badalados do futebol universitário, berço de muitos futuros ídolos do esporte, ajudou a acobertar muitos dos casos, proteger jogadores envolvidos nos casos e multiplicar o sofrimento das vítimas.

É essa história de agressōes, cumplicidades, omissōes e, acima de tudo, drama, que o jornalista Jon Krakauer desvenda no livro Missoula(Companhia das Letras), imperdível para quem valoriza uma competente investigaçāo jornalística. E Krakauer é mestre nisso.

Ele subiu, sofreu e quase morreu numa trágica aventura de turistas, montanhistas e curiosos no Everest, em 1996. Foi um dos sobreviventes. A história está no livro No Ar Rarefeito. Comoveu-se, pesquisou e refez a surpreendente aventura do jovem Christopher McCandless, que logo depois da formatura tudo e partiu para uma viagem sem volta. O relato é contado na obra Na Natureza Selvagem. Entrou na vida dos mórmons em Pela Bandeira do Paraíso e investigou até esclarecer, apesar da cortina de segredos e proteçāo das forças armadas, a morte de um dedicado soldado norte-americano vítima de fogo amigo no Afeganistāo. Tudo está em Onde os Homens Conquistam a Glória. Em Missoula, ele utiliza mais uma vez este talento do grande repórter para contar os segredos da cidade universitária e das próprias deficiências do sistema judicial do país.

O mais surpreendente para o leitor brasileiro é ver que muito do que Krakauer conta sobre uma pequena e idílica cidade de Montana serve para outros países. A mesma cortina de cumplicidade, de omissōes, de falhas processuais, de preconceitos que aos poucos desmoralizam a vítima e protegem o culpado. O roteiro é o mesmo: além da violência absurda do estupro, a mulher muitas vezes enfrenta uma sequência de outras agressōes. O desconforto da denúncia, o olhar nem sempre respeitoso de quem ouve o depoimento, o andar do processo, o confronto com o agressor e, mais grave, a tentativa de levar a vítima ao descrédito. Foi o que aconteceu há pouco com aquela garota agredida por 33 homens, no Rio. Em poucos dias, ela passou a ser desacreditada. E ficaria assim se uma delegada, diante da repercussāo, nāo recolocasse tudo nos eixos.

Missoula esmiuça tudo isso, com base em entrevistas, pesquisas e leituras de processos. O livro incomoda, provoca algum desconforto em certos episódios, mas é outra daquelas obras indispensáveis de um dos grandes repórteres do nosso tempo.