domingo, 30 de março de 2014

Marco Civil aprovado: dia histórico para a liberdade de expressão



Câmara aprova texto que contraria interesses poderosos, garante direitos aos internautas e trata a comunicação como direito fundamental, e não uma mercadoria


Aprovação Marco Civil da Internet




Por Pedro Ekman e Bia Barbosa*


Guardem o dia 25 de março de 2014 na memória. Este dia será lembrado como o dia do Marco Civil da Internet em todo o mundo. Neste dia, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que tem todas as características de um projeto impossível de ser aprovado numa Casa como essa. A principal delas: o fato de contrariar interesses econômicos poderosos ao garantir direitos dos cidadãos e cidadãs. O Marco Civil da Internet aprovado aponta claramente para o tratamento da comunicação como um direito fundamental e não apenas como um negócio comercial. Trata-se de algo inédito na história brasileira, que só foi possível por um conjunto de fatores.

Em primeiro lugar, a intensa participação e mobilizações de organizações da sociedade civil e ativistas da liberdade na internet, que estiveram envolvidos com o Marco Civil desde sua primeira redação até a vitória obtida nesta terça-feira na Câmara. O fato de ser um texto elaborado com ampla participação popular garantiu ao Marco Civil uma legitimidade conferida a poucas matérias que tramitam pelo Congresso Nacional.

Em segundo lugar, o relatório substitutivo do texto ficou a cargo do deputado Alessandro Molon (PT/RJ), que se mostrou um persistente articulador e negociador, ouvindo os mais diferentes interesses em jogo e buscando acomodá-los sem comprometer os três pilares centrais do texto: a neutralidade de rede, a liberdade de expressão e a privacidade dos usuários.

Em terceiro, o governo, que já se mostrava adepto do Marco Civil, comprou a briga em sua defesa após as denúncias de espionagem da Presidenta Dilma feitas por Eduard Snowden. Sem isso, talvez o Marco Civil da internet não tivesse sido colocado em urgência constitucional na Câmara, e poderia estar ainda na longa fila de projetos estratégicos para o país à espera de entrada na pauta do plenário.

Mesmo assim, há duas semanas, ninguém – nem o governo, nem o relator, nem a sociedade civil – seria capaz de prever uma votação como a deste dia 25 de março, feita simbolicamente, porque apenas um partido, o PPS de Roberto Freire, orientou voto contrário. Como escrevemos neste blog, a votação do Marco Civil havia sido capturada pelo jogo eleitoral de 2014.

De lá pra cá, muitos se perguntam, o que precisou acontecer para o jogo virar a favor dos direitos dos internautas? Em primeiro lugar, o governo conseguiu reacomodar a maior parcela insatisfeita de sua base. Dilma fez uma reforma ministerial, distribuiu cargos em autarquias, liberou emendas no Congresso. Trazendo a base de volta, ficaram “do lado de lá” o PMDB e os partidos de oposição de direita. Mas DEM e PSDB se mostraram inteligentes nesta jogada, e se distanciaram de Eduardo Cunha, líder do PMDB e general do exército contra o Marco Civil. Em sua briga contra o governo por poder no Congresso, Cunha, apelidado pela revista IstoÉ de “sabotador da República”, esticou demais a corda – e saiu queimado. Nem a direita clássica quis abraçá-lo na reta final.

Os sinais de derrota começaram a se avizinhar e ficou mais fácil para o governo comprar o passe do PMDB. A conta ninguém conhece ao certo, mas certamente envolve acordos em torno da MP 627/2013, sobre tributação do lucro de empresas brasileiras no exterior, da qual Cunha é relator. Em paralelo, o governo abriu mão da obrigatoriedade da manutenção de data-centers no Brasil – o que fez bem – e incluiu uma consulta à Anatel e ao Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) na regulamentação das exceções à neutralidade de rede.

Neste contexto, a permanente pressão da sociedade civil nas redes, em defesa da aprovação do texto, surtiu efeito pra lá de positivo. Cerca de 350 mil pessoas assinaram a petição online puxada por Gilberto Gil; tuitaços com as hashtags #VaiTerMarcoCivil e #EuQueroMarcoCivil atingiram os trend topics brasileiro e mundial por semanas seguidas; artistas e o fundador da Web Tim Berners-Lee declararam apoio ao texto; e defensores da liberdade de expressão marcaram presença nos corredores da Câmara por semanas a fio. Nesta terça, o clima de “aprovou” era tal que o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves, chegou a anunciar, em tom de brincadeira com os ativistas, uma cerveja de celebração para o fim da noite.

Que partido então escolheria não sair bem na foto e perder a oportunidade de dizer que votou em favor de uma lei tão importante para o povo brasileiro?

Os avanços do Marco Civil

O ineditismo do Marco Civil da Internet está também em ser uma das raras legislações do mundo no campo da internet que cria mecanismos de proteção do usuário, e não o contrário. Será uma lei que servirá de modelo para todas as democracias que buscam reforçar a liberdade nas redes e os direitos humanos.

Entre tantas garantias importantes trazidas pelo texto, as mais significativas talvez estejam expressas nos artigos 9, 19 e 7 do projeto.

O artigo 9, visto como o coração do projeto, protege a neutralidade de rede. Ou seja, o tratamento isonômico de quaisquer pacotes de dados, sem distinção por conteúdo, origem e destino, serviço, terminal ou aplicação. Isso significa que quem controla a infraestrutura da rede tem que ser neutro em relação aos conteúdos que passam em seus cabos. Isso impede, por exemplo, que acordos econômicos entre corporações definam quais conteúdos têm prioridade em relação a outros. A medida é a alma da manutenção da internet como um ambiente em que todos se equivalem independentemente de seu poder econômico. Afinal, ninguém – nem mesmo empresas como a Globo – quer que a operadora do cabo decida sozinha que conteúdos terão forte presença e quais ficarão escondidos na rede. Isso levaria a uma “concentração de conteúdo”, semelhante à que existe no mercado de TV, também na internet. Só que a Globo não seria a monopolista da vez.

Já o artigo 19 delega ao sistema judicial a decisão da retirada de conteúdos na internet, debelando boa parte da censura privada automática, preventiva, existente hoje na rede. Atualmente, inúmeros provedores de conteúdo, a partir de simples notificações, derrubam textos, imagens, vídeos etc de páginas que hospedam. Ao desresponsabilizar os provedores por conteúdos postados por terceiros, o Marco Civil da Internet cria uma segurança jurídica ao provedor e deixa o caminho aberto para a livre expressão do usuário. Afinal, ao contrário do que muitos pensam, não é a ausência de regras que torna a internet um ambiente livre, mas sim a existência de normas que defendam a livre manifestação de ataques arbitrários e autoritários.

Por fim, o artigo 7 assegura a inviolabilidade da intimidade e da vida privada e o sigilo do fluxo e das comunicações privadas armazenadas na rede. Isso fará com que as empresas desenvolvam mecanismos para permitir, por exemplo, que o que escrevemos nos e-mails só será lido por nós e pelo destinatário da mensagem. Assim, uma vantagem privativa das cartas de papel começa a ser estendida para os correios eletrônicos. O mesmo artigo assegura o não fornecimento a terceiros de nossos dados pessoais, registros de conexão e de aplicação sem o nosso consentimento, colocando na ilegalidade a cooperação das empresas de internet com departamentos de espionagem de Estado como a NSA.

Essas e outras medidas de proteção da privacidade são fragilizadas pelo único problema significativo de todo o Marco Civil: o artigo 15, que compromete seriamente nossa privacidade ao obrigar que empresas guardem por seis meses, para fins de investigação, todos os dados de aplicação (frutos da navegação) que gerarmos na rede. Isso inverte o princípio constitucional da presunção de inocência ao aplicar um tipo de grampo em todos os internautas. A obrigação da guarda de dados também gera a necessidade de manutenção de todos esses dados em condições de segurança, sobrecarregando sites e provedores de encargos econômicos. O alto custo poderá levar à comercialização desses dados, criando uma corrida pelo uso da privacidade como mercadoria.

Infelizmente, as movimentações que destravaram o processo de votação do texto na Câmara não foram capazes de desconstruir tal imposição feita pelas instituições policiais ao projeto. Organizações da sociedade civil que se posicionaram contra este aspecto do texto buscarão sua alteração no Senado ou, se necessário, através do veto presidencial. Afinal, se Dilma Rousseff foi às Nações Unidas exigir soberania e privacidade para suas comunicações, não pode repetir uma brecha deste tamanho para a vigilância dos internautas brasileiros.

Por fim, os lobbies econômicos e pressões políticas que se movimentaram na Câmara não estão mortos. Apesar da declaração do presidente do Senado, Renan Calheiros, de que o Marco Civil será votado com rapidez na Casa revisora, nada garante que o jogo será fácil. Há uma longa jornada pela frente até a sanção presidencial. E, depois de sancionada a lei, caberá à sociedade civil defender os direitos dos internautas nos termos de regulamentação do Marco Civil, assim como em sua implementação. Não à toa, a entidade representativa das operadoras de telecomunicações já se pronunciou publicamente, afirmando que o Marco Civil “assegura a oferta de serviços diferenciados”. É a disputa pela interpretação do texto entrando em campo.

Democracia não é um sistema em que as coisas se resolvem facilmente. A batalha ganha em 25 de março não resolve toda a questão, mas cria condições para a construção de um caminho no qual finalmente podemos seguir livres. E isso não é pouca coisa.

* Pedro Ekman e Bia Barbosa são integrantes da Coordenação Executiva do Intervozes.

terça-feira, 25 de março de 2014

5 fontes de inspiração para os empreendedores



Um estudo de Daniel Gulati, da Harvard Business Review, entrevistou 50 empresários em três etapas diferentes: pré-financiamento, crescimento e compra ou venda de ações.

Entre as descobertas, desta que 90% de todas as ideias está dentro de alguma das cinco principais fontes de ideias para as novas empresas:

1. “Tive um problema na minha vida e quis resolvê-lo”. Os entrevistados tiveram como fonte de ideias mais popular a frustração na vida pessoal. Por exemplo, Kent Plunkett fundou a Salary.com quando percebeu que queria contratar uma secretária e não sabia quando deveria pagar.

2. “Conheci alguém talentoso e lançamos juntos uma companhia”. Olhe para as pessoas ao seu redor. Em seu ambiente de trabalho ou escola poderia encontrar um talento não explorado.

3. “Tenho uma habilidade ou paixão especial e a transformei em um negócio”. Tome uma hora de seu tempo e escreva tuas habilidades pessoais e suas paixões. Após escrever, sua próxima ideia poderia aparecer diante de você. Aqueles que fundaram suas companhias com essa ideia como premissa se caracterizaram por um autoconhecimento intenso, a partir do qual procuraram formas de transformá-lo em um negócio.

4. “Depois de muito tempo trabalhando na indústria, descobri uma necessidade dos clientes”. Se usar seus anos de experiência em algum setor para refletir conscientemente sobre as necessidades insatisfeitas dos clientes, poderia encontrar um caminho para empreender. Os fundadores que ficaram nessa categoria trabalharam durante muitos anos em algo, para depois desenvolver sua própria companhia em algo relacionado.

5. “Observei minhas ideias e eventualmente as reduzi a uma”. Pode levar uma pesquisa “de cima para baixo” e chegar a um processo de eliminação para que chegue a uma só ideia comercial. Identifica conquistas inovadoras que possam se aplicar a outras geografias.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Lima: Uma cidade curiosa

Dicas para uma viagem ao Peru - Plaza de armas - Lima, Peru

O Peru é um país de arraigada tradição e de passado indígena, mas também fortemente ligado aos costumes impostos pelos conquistadores espanhóis que chegaram à região na primeira metade do século 16. Essa mistura de culturas deixou no vasto território monumentos históricos, igrejas e sítios arqueológicos, sem contar que a natureza aqui também não deixa por menos, com florestas, desertos e cordilheiras nevadas.

Na lista de cidades e atrações imperdíveis está Cusco, Patrimônio Histórico da Humanidade, cujas ruas e becos de pedras parecem respirar os mesmos ares da época dos incas. A capital, Lima, tem encantadora arquitetura colonial. Mas são os misteriosos territórios de Machu Picchu o ponto de atração mais intensa dos turistas que visitam esse país mestiço.

Lima é uma cidade de quase 10 milhões de habitantes, numa região desértica à beira do Oceano Pacífico. Muito grande e espalhada em função dos terremotos que impedem maior concentração urbana, oferece uma programação variada para todos os gostos.



Para quem mora em Porto Alegre temos, desde o final de 2009, um vôo direto pela TACA/Avianca que sai cedo pela manhã chegando em Lima antes do meio dia, na verdade são 4:30h de vôo , descontando o fuso horário de 2 horas . A passagem não é muito barata mas existem boas promoções e por lá tudo é bem em conta!

Os aviões da Taca/Avianca são bem mais modernos do que os ônibus urbanos de Lima, mas bem menos charmosos.



Sugiro começar a desbravar os bairros litorâneos com um passeio de bicicleta organizado pela bike tours of lima ( www.biketoursoflima.com ) uma bela forma de fazer o primeiro reconhecimento sem maiores dificuldades, pois a região é eminentemente plana e as bicicletas super cômodas, como as de antigamente, sabe? Pneu balão, banco grande e guidon alto, não entendo porque não fazem mais bicicletas assim…

O tour parte do centro de Miraflores : Bolívar, 150, e já é uma boa oportunidade para conhecer pessoas interessantes. Nosso grupo era composto de cinco americanos , duas holandesas e uma francesa.


O Bairro de Miraflores era um antigo local de veraneio dos Limenhos moradores do centro. Hoje é o coração litorâneo, onde quase tudo acontece. Com belos jardins à beira mar em seu alto promontório abriga o shopping Larcomar. Quem já leu Mário Vargas Llosa , o mais festejado escritor peruano, tem familiaridade com o bairro sempre citado em seus romances, para quem não conhece indico “Travessuras de uma menina má“.


O Shopping Larcomar é um exemplo de como a arquitetura pode se inserir na paisagem sem agredi-la. Um ótimo local para um almoço com vista eu fico entre o Mango e o Vivaldina. Aqui pode-se encontrar bons artigos em lã de alpaca, prata e tapeçaria. O artesanato peruano é uma perdição até para os mais controlados, colorido e variado tem sua maior concentração e melhor preço no Mercado Inca, cinco quadras do mar pela avenida Larco.

imagen

O museu oferece um percurso por mais de 500 anos de história e sabedoria ancestral, até a fusão de sabores e influência de outras culturas na cozinha peruana. Localizado na casa do antigo Palácio de Correios de Lima, adjacente ao Palácio de Governo, conta com quatro ambientes: a Sala Permanente, a Sala Temporária, a Sala de Audiovisuais e a Sala do Pisco, dedicada a nossa principal bebida. No percurso é possível observar um quadro da evolução da gastronomia, que mostra também os insumos empregados até a atualidade.

Fonte:

http://www.viajandocomarte.com.br/

http://sundaycooks.com/

http://viajeaqui.abril.com.br/

http://www.peru.travel/pt-br

domingo, 23 de março de 2014

O matador arrependido nos leva aos labirintos da insanidade




Da primeira à última das 291 páginas de Memórias de uma Guerra Suja (Topbooks), dos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, o leitor tem a sensação de que está sendo guiado por labirintos até agora protegidos ou dissimulados da história recente do país. É um mergulho em uma época de intolerância, crueldade e mentiras, muitas mentiras. Em alguns momentos, fica a sensação de que o ex-delegado Cláudio Guerra, um dos homens de um dos tantos esquadrões da morte da ditadura, entrevistado pelos dois jornalistas, se perde em alguma curva, por vezes é traído pela memória, mas na maior parte do depoimento revela nomes, datas, operações, execuções de pessoas da esquerda ou suspeitas de pertencerem a movimentos, corpos de militantes incinerados nos fornos da Usina Cambahyba, de Campos (foto), inocentes condenados por estarem no lugar errado, assassinatos. Seria preciso uma imaginação sem limites para citar tantas datas e episódios, muitos deles checados e confirmados pelos repórteres. É preciso segurar bem firme o fio para fazer o caminho em segurança.

- Eu era convocado e matava – diz o torturador e hoje pastor evangélico, acometido de uma crise de consciência enquanto estava doente em um leito de hospital do Espírito Santo a tal ponto que decidiu revelar detalhes do período em que tinha licença para matar, deve ter percebido, nestas últimas semanas, que mesmo na democracia não é tão fácil assim romper as barreiras do silêncio. Memórias de uma Guerra Suja é um livro com alto potencial de provocar escândalos e investigações, mas qualquer pessoa medianamente informada já viu que ele está sendo praticamente ignorado. A não ser pelos blogs e por alguns sites, recebeu apenas pequenas notas, algumas delas reticentes, cheias de cautela, como se ainda vivêssemos sob a censura da ditadura. No país em que até uma Comissão da Verdade foi construída a duras penas e com sérias limitações, é evidente que um livro assim provocaria incômodos e inquietações. O surpreendente é o medo que ele parece provocar – mesmo depois de décadas do fim da ditadura.

Em meio ao labirinto e ao mergulho nos porões, o leitor entende por que muitos estão querendo que o livro seja logo esquecido. Além dos nomes e funções de líderes dos grupos que torturavam e matavam, das patentes dos oficiais dedicados à tarefa de extermínio, Cláudio Guerra fala de jornalistas e de empresas poderosas de comunicação que se valiam da ditadura. Trocavam apoio por favores. Quando a situação ficava incômoda, os comandos especializados explodiam alguma bomba na empresa ou na residência dos donos – e responsabilizavam a esquerda. Assim, o empresário recebia uma espécie de imunidade e acabava com eventuais desconfianças de seus pares. O assassino arrependido, que diz nunca ter torturado (era a única deformação que o incomodava), dá nomes, datas e endereços destas operações.

Além da política de tortura e extermínio, da espantosa autonomia que certos líderes militares tinham para determinar se alguém devefia viver ou morrer, impressiona a construção de mentiras para tirar a atenção de certas ações ou para incriminar os grupos da esquerda. Cada operação tinha sempre dois grupos responsáveis: um pela ação e outro pela construção da mentira, com requintes aprendidos de agentes estrangeiros, e que parte da imprensa da época abraçava com entusiasmo (e que, estranhamente, muitos brasileiros repetem como verdade ainda hoje, apesar de todos os desmentidos). Neste ponto, o Riocentro foi o auge disso – e só não deu certo, do ponto de vista dos militares, porque suas equipes abusaram da incompetência.

Felizmente para milhares de pessoas que estavam no Riocentro e para a oposição que receberia a culpa depois, foi um desastre completo. Mas a leitura de tudo o que estava planejado por grupos que não aceitavam o fim da ditadura e das consequências ainda tem o poder de atordoar. E se a incompetência não tivesse agido? Dispostos a complicar os sinais de abertura, grupos dissidentes da própria ditadura organizaram uma série de explosões no país (a carta bomba na OAB, por exemplo, que matou uma secretária, a tentativa de assassinato de Leonel Brizola, a destruição de bancas de revistas, entre outras ações) e a principal foi a do Riocentro.

O espetáculo reuniria milhares de pessoas para um show com inúmeros artistas, quase todos eles envolvidos na luta pelo fim do regime. Equipes orientadas pelos coronéis Freddie Perdigão e Carlos Alberto Brilhante Ulstra e o comandante Vieira decidiram então causar uma tragédia e culpar a esquerda. Cada grupo recebeu tarefas diferentes: um detonaria as bombas, outro dispensou as equipes de socorro e fechou as portas de saída do estádio para aumentar o caos, um terceiro pichou placas de ruas e paradas de ônibus com siglas de grupos da esquerda para responsabilizá-los, outro (do qual fazia parte Cláudio Guerra) chegaria depois da confusão e começaria a prender líderes esquerdistas que estavam no local. A bomba, que seria colocada sob o palco, tinha alto poder destrutivo. Imaginem o caos: a explosão, o desespero, as saídas bloqueadas. Nem dá para calcular quantos morreriam.

Tudo deu errado. O sargento Rosário, especialista em explosivos, e o capitão Wilson Machado – com a bomba no colo – não perceberam que estacionaram o Puma debaixo de linhas de alta tensão. A carga elétrica fechou o circuito e houve a explosão(foto). Rosário morreu, Wilson resistiu e ainda vive. O desastre abriu caminho para mais mentiras. No primeiro inquérito, disseram que a bomba tinha sido colocada por esquerdidas entre a porta e o banco do carona no breve momento em que os oficiais deixaram o carro. O processo seguiu várias etapas e os responsáveis nunca foram punidos.

Há pouco, em entrevista emocionada à imprensa, o ex-deputado Carlos Araújo, militante de esquerda, tão torturado que chegou a tentar o suicídio, disse que só um indivíduo acometido de grave doença mental é capaz de torturar vítimas indefesas. “Não tenho dúvidas de que a ditadura recrutava pessoas assim”, disse o ex-marido de Dilma Rousseff. Quem lê Memórias de uma Guerra Suja concorda com ele. Respire fundo, segure a náusea e encare as 291 páginas. São raros os momentos em que um criminoso arrependido deixa as sombras e confessa seus pecados. É a confissão de alguém que participou de tudo – e que ensina muito sobre o passado do país em que vivemos.

É uma viagem à época em que parte do Brasil foi dominada pela insanidade.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Um balanço rápido de 21 anos de sombras e porões


Nestes estranhos tempos em que algumas pessoas parecem ter sido acometidas de amnésia e outras, mais jovens, pelo jeito não leram nada sobre a história recente do país, é bom lembrar, em um pequeno resumo, o que significaram 21 anos de ditadura, a poucos dias dos 50 anos do golpe (pelo licença ao Luiz Cláudio e ao Juremir para reproduzir aqui os dados que eles divulgaram):

- 500 mil cidadãos investigados pelos órgãos de segurança

- 200 mil detidos por suspeita de subversão

- 50 mil presos só entre março e agosto de 1964

- 11 mil acusados nos inquéritos das Auditorias Militares, 5 mil deles condenados, 1.792 dos quais por “crimes políticos”
-10 mil torturados nos porões do Doi/Codi

- 6 mil apelações ao Superior Tribunal Militar, que manteve 2 mil condenações

- 10 mil brasileiros exilados

- 4.862 mandatos cassados

- 1.148 funcionários públicos aposentados ou demitidos

- 1.312 militares reformados

- 1.202 sindicatos sob intervenção

- 245 estudantes expulsos das universidades pelo Decreto 477 que proibia associação e manifestação

- 128 brasileiros e dois estrangeiros banidos

- Quatro condenados à morte (sentenças depois comutadas para prisão perpétua)

- 707 processos políticos instaurados na Justiça Militar

- 49 juízes expurgados

- Três ministros do Supremo afastados

- Congresso Nacional fechado por três vezes

- Sete assembleias estaduais postas em recesso

- Censura prévia à imprensa, à cultura e às artes

- 400 mortos pela repressão, 144 deles desaparecidos até hoje

Daria para incluir mais centenas de famílias devastadas, pessoas que nunca mais se recuperaram das sequelas, pais e filhos que vivem atormentados até hoje, gente que não sabe mais o que é um sono tranquilo.

Pois é, apesar de tudo, alguns (felizmente, minoria, barulhenta, mas minoria) pensam em reeditar passeatas de uma certa época em que democracia incomodava.

(Pesquisa do jornalista Luiz Cláudio Cunha, um profundo conhecedor do período, reproduzida no blog de Juremir Machado da Silva, no Correio)

Spyk - Não vale chorar

Existem amigos que estão presentes nos melhores e nos piores momentos, quando está feliz ou triste, estes amigos são os cães. Cuide do seu cão e trate bem dele que ele faz o mesmo por si.


sexta-feira, 7 de março de 2014

As vítimas inocentes de sempre

Em zonas de conflito, poucos sofrem mais do que as crianças. Além da dor, do medo, do abandono, elas têm seu mundo de fantasia dramaticamente destruído. É o que mostra o vídeo abaixo, que faz parte de uma campanha em defesa das crianças da Síria. Os autores acertam no impacto das imagens e ao não acusar nenhum dos lados porque em ambos erram pela violência e pelo desrespeito à infância.




Lupita: “Lembro do tempo em que eu me sentia feia”

Ganhadora do Oscar de atriz coadjuvante pelo papel no filme 12 Anos de Escravidão, Lupita Nyong’o, filha de quenianos nascida no México, escancarou os dramas que pessoas como ela ainda enfrentam, desde os primeiros anos de vida. Ao discursar no encontro Essence Black Women in Hollywood, ela revelou sua própria história – que é a de muitos outros como ela.

O discurso é este, com tradução de Maiara Lima, do Blogueiras Negras, que meu amigo Luís Henrique Benfica, com toda razão, destacou no seu perfil do Facebook:




“Quero aproveitar esta oportunidade para falar sobre beleza, beleza negra, beleza escura. Eu recebi uma carta de uma menina e gostaria de compartilhar apenas uma pequena parte dela com vocês: “Cara Lupita,” onde se lê : “Eu acho que você realmente tem sorte por ser tão negra e ainda tão bem sucedida em Hollywood. Eu estava prestes a comprar um creme da “Whitenicious” para clarear minha pele quando você apareceu no mapa e me salvou.”

Meu coração sangrou um pouco quando li essas palavras, eu nunca poderia ter imaginado que o meu primeiro trabalho seria tão poderoso e que me tornaria em uma imagem de esperança, da mesma forma que as mulheres de “A Cor Púrpura” foram para mim.

Lembro-me de um tempo em que eu também me sentia feia. Eu ligava a TV e só enxergava pele pálida, fui provocada e insultada sobre o tom da minha pele cor de noite. E a minha única oração a Deus, o milagreiro, era que eu acordasse de pele mais clara. Na manhã seguinte, eu acordava tão animada em ver a minha nova pele que eu recusava a me olhar até que estivesse na frente de um espelho, porque eu queria ver o meu rosto claro de primeira. E todos os dias eu experimentava a mesma decepção de ser tão escura como eu era no dia anterior. Tentei negociar com Deus, eu lhe disse que iria parar de roubar cubos de açúcar à noite se ele me desse o que eu queria, eu obedeceria cada palavra da minha mãe e nunca perderia o casaco da escola de novo, se ele só me deixasse um pouco mais clara. Mas eu acho que Deus não se impressionou com as minhas barganhas, porque Ele nunca escutou.

E quando eu era adolescente, meu auto-ódio cresceu, como acontece durante a adolescência. Minha mãe me lembrou muitas vezes que ela me achava bonita, mas ela é minha mãe, é claro que ela deveria me achar bonita. E então … Alek Wek . Uma modelo célebre, ela era escura como a noite, ela estava em todas as passarelas e em todas as revistas e todo mundo estava falando sobre como ela era bonita. Até Oprah a achava bonita e fez disso fato. Eu não podia acreditar que as pessoas estavam abraçando uma mulher que parecia muito comigo, tão bonita. Minha pele sempre foi um obstáculo a ser superado e, de repente, Oprah estava me dizendo que não era. Foi desconcertante e eu queria rejeitá-lo, porque eu tinha começado a desfrutar da sedução da inadequação.

Mas a flor não poderia deixar de desabrochar dentro de mim, quando eu assistia Alek, via um reflexo de mim mesma que eu não podia negar. Agora eu tinha um degrau a cada passo meu, porque eu me sentia mais vista, mais apreciada pelos distantes guardiões da beleza. Em torno de mim a preferência pela minha pele prevaleceu, porém para os cortejadores com quem me importava, eu ainda era vista como feia. E a minha mãe novamente me dizia que você não pode comer beleza, porque ela não te alimenta, e estas palavras me atormentavam e incomodavam, eu realmente não entendia, até que finalmente me dei conta de que a beleza não era uma coisa que eu poderia adquirir ou consumir, era algo que eu tinha que ser.

E o que minha mãe quis dizer quando disse que você não pode comer beleza é que você não pode depender da sua aparência para se sustentar. O que é bonito é fundamentalmente a compaixão que você sente por si mesmo e por aqueles ao seu redor. Esse tipo de beleza inflama o coração e encanta a alma. Foi o que colocou Patsey em tantos problemas com seu mestre, mas também é o que tem mantido a sua história viva até hoje. Recordamos da beleza de seu espírito, mesmo depois que a beleza de seu corpo se foi.

E por isso espero que a minha presença em suas telas e revistas possa levá-la, jovem, em uma viagem semelhante. Que você sinta a validação de sua beleza externa, mas também chegue ao mais profundo objetivo que é ser bonita por dentro.

Não há vergonha na beleza negra”.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Série fotográfica mostra que existe amor e sexo na velhice



A fotógrafa holandesa Marrie Bot trabalha há mais de 30 anos com temas considerados tabus. Ficou conhecida, por exemplo, por suas séries em preto e branco que retratavam peregrinações de penitência feitas na Europa, pessoas com deficiências mentais ou mesmo rituais funerários.

“Geliefden – Timeless Love”, de 2004, é sua primeira série fotográfica com cores. No trabalho, as imagens mostram cenas de amor, erotismo e sensualidade com pessoas em idades avançadas. O objetivo é explorar a estranheza causada pela associação entre velhice e sexo – segundo a fotógrafa, um dos últimos tabus da sociedade ocidental moderna.

Algumas fotos do trabalho podem ser conferidas abaixo.

  

  



7 Dicas para começar um livro

Pra gosta de transcrever pensamentos em histórias, este vídeo bem interessante, serve como uma ajuda muito válida. Algumas dicas são velhas conhecidas da época da pré-escola, outras nem tanto. Mas gosto sempre de ouvir opiniões alheias, por isso, compartilho com vocês...






quarta-feira, 5 de março de 2014

A história de uma crítica inventada




Nas últimas semanas circulou nas redes sociais um texto reproduzido por um blogueiro brasileiro – e com mais de 200 mil compartilhamentos – em que ele falava de pesadas críticas da revista francesa France Football ao Brasil. Tudo por causa dos atrasos em obras da Copa. O texto fazia uma mistura inacreditável, reproduzindo fotos de carnaval, por exemplo, como se fizessem parte da reportagem.

Bastou uma rápida conferida para mais uma das tantas distorções e mentiras, muito comuns nas redes sociais, ser desmascarada. A agência UOL, por exemplo, entrevistou o repórter francês Éric Frosio, de 36 anos, que se surpreendeu ao saber da história (confiram aqui).

- Fiquei surpreso e chateado – disse Frosio. – Usaram a credibilidade da revista para passar ideias erradas, coisas que não escrevemos. Acredito que tenham feito isso com o objetivo de atacar as políticas da presidente Dilma Rousseff.

Cada vez mais é preciso ter cuidado para separar a qualidade do que é simplesmente produto descartável na internet.

sábado, 1 de março de 2014

Moral provisória: chifre de Carnaval não conta






Seguimos na mesma pegada lírico-momesca, caro Zé Cláudio, cronista-mor de Pernambuco que, por acaso, e jamais só por isso, ilustra esse blog manhoso e pé-de-lã.

José Cláudio, você sabe lá o que é isso? Um gênio das artes, que orgulho, procure saber, cambada de corno (rs).

Recebi exatas 52 consultas sobre como conviver com o barraco dos casais cujas carnes são carnavais.

Amo confiarem tanto num cronista vagabundo cujo lema sempre foi “só o vento sabe a resposta”.

Lindo demais e que seja assim por toda a vida, amor mais nada pedirei, como cantava o comovente Nilton César.

Só me resta repetir velhas lições para o leitor que chegou agora:

O código da moral provisória foi inventado pelo enfezado Jean-Paul Sartre, aquele filósofo francês que queria comer todas as alunas e carecia de uma desculpa intelectual para a coisa. O colega Caio Túlio Costa, no seu livraço “Ética, jornalismo e nova mídia”, que me ensinou essa parada, algo assim como “lavou tá novo”.

Sim, amigo, Carnaval sempre foi um perigo para os pombinhos que resolvem brincar juntos. Sempre a favor do amor e da paz nos lares doces lares, este cronista deixa algumas dicas úteis – e outras nem tanto- para os foliões que se arriscam de mãos dadas na festa da carne.

Concordo: a missão é quase impossível.

“Só se forem brincar em um baile de casa de swing”, corneta aqui um amigo urso pé-de-lã, cético no último. “Utopia, meu caro”, diz o outro, homem sério e ainda enfeitado com as serpentinas de um trauma antigo. “Calma, senhores”, tento amansar os cavalheiros da nossa távola.

Até que aparece a primeira dica, com o humor que a ocasião nos pede:

“Aprenda a abraçar seu amor de forma satisfatória com apenas um dos braços, já que a outra mão vai ter uma cerveja sempre”, aconselha o estratégico Rodolfo Barreto, o único da mesa que pode ser identificado sem problemas.

O mesmo camarada alerta sobre o capítulo das fantasias. É recomendável que o casal saia às ruas ou aos bailes sempre vestido de fantasias complementares, como Adão e Eva, por exemplo. Ou Adão e a cobra. Tabém vale.

Agora uma moça se intromete lindamente na conversa. Ótimo, assim não fica uma visão tão porco-chauvinista:

“O ideal é se perder do bloco, depois se encontre de trombada e beije seu namorado como se estivesse beijando alguém que nunca viu em uma micareta na vida”, diz a danada, clássica diabinha, afe paudurescência da gota serena.

Há também quem acredite existir uma única fantasia possível para os enamorados: um se veste de paciência; o outro de compreensão. E segurem a onda para que as máscaras não caiam diante de possíveis tentações avulsas. Nada fácil.

Não é à toa que muitos casais preferem o sossego de uma praia, a mais sábia das decisões. Principalmente para quem já correu muito atrás do trio elétrico e do Galo da Madrugada.

Otimista qual uma Pollyana fanática, eu acredito na celebração conjunta. Palavra de quem já viveu o inferno de brincar juntos, mas também encarou, na boa, e com muito amor, até o inferninho brega e fogoso do I Love Cafusú no Preto Velho, Olinda.

E depois, evidentemente, o baile mais quente e joiado do pedaço: “Seguranças de Lala K”, pense na raparigagem. Culpa, óbvio uluante, minha criança, do Felipe Machado –soube que anda pensando em virar a tapioca para o Santinha, minha gente, vê se phode!

Sim, existem os espertinhos(as) que arranjam uma briga ainda na véspera. São os piores: crime premeditado.

Pior mesmo é tentar bancar o casal moderno e fazer o pacto da carnificina. Aquele em que cada um brinca em um canto da cidade ou em Estados diferentes.

Terrorismo amoroso na certa. Fica o suspense e um sofrimento medonho. Carece muita evolução ou safadeza propriamente dita para segurar essa bronca.

E entre os mascarados papangus de Bezerros?

Ninguém é de ninguém mesmo. Pense num terrorismo amoroso, pense em um suspense à Hitchcock.

Amar é… lindamente não ter certeza das coisas. No amadorismo do carnaval ou no resto da vida que nos sobeja.

Pombinhos, paz na terra aos homens de boa vontade. E se rolar algum acidente, dêem aquele desconto necessário, afinal de contas chifre de Carnaval não dói nem enxovalha a honra de seu ninguém. Acontece.

As cinzas da quarta, reza a cartilha religiosa, ungem lindamente as nossas testas, amém.

Evoé, Baco!