sábado, 28 de abril de 2012

Dica de Fim de Semana - O Solista



Filme baseado na história real do prodígio musical Nathaniel Ayers (Jamie Foxx), que desenvolveu esquizofrenia no seu segundo ano na famosa escola de artes performáticas Juilliard, de Nova York. Ayers acabou como sem-teto nas ruas do centro de Los Angeles, onde tocava violino e foi descoberto pelo jornalista Steve Lopez (Robert Downey Jr.).

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Frase do Dia

"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar".


Eduardo Galeano

Fim do mundo!!!

Da série Vídeos para começar bem o dia: este mostra um dos novos e criativos comerciais da Tic-Tac, produzido na França. Ele simula uma espécie de desmaio global logo após a vítima abrir a boca para dar informações.




Código Florestal: esta base aliada vale a pena?


Vale a pena ter uma aliança tão ampla? Esta base está comprometida com os seus interesses, não com os projetos do povo. É a mesma base que não quer a reforma agrária, que quer tirar o poder da Presidenta de titular terras aos indígenas, que emperra a votação da PEC do Trabalho Escravo há anos no Congresso.

Valmir Assunção

O que vimos na Câmara dos Deputados com a votação do Código Florestal foi uma cena vergonhosa. O desserviço que a Casa envia à presidenta Dilma não é comemorado pela maioria da sociedade brasileira. Ao contrário, em ano de Rio +20, o que foi aprovado é a motosserra em nossas florestas, o desrespeito à nossa Amazônia, às nossas águas, aos nossos mangues, ao nosso meio ambiente. É uma afronta aos nossos camponeses. Estes, os verdadeiros preservadores do meio ambiente, por vezes tiveram sua identidade manchada por aqueles que teimam tomar a nossa voz, de camponês, para justificar o absurdo que aqui foi votado.

Nós, nordestinos, por vezes, fomos evocados para justificar o injustificável. Deu dor de estômago!

Desde o começo, os comprometidos com a agricultura camponesa, familiar e o meio ambiente sabíamos que a situação era difícil e complicada: não podíamos criar novos textos, mas escolher o texto do Senado, que apesar de ter pontos problemáticos, ainda era melhor que o da Câmara, que pode ser apelidado de Código Ruralista.

Tivemos uma aula de como a luta de classes é presente, ainda que muitos teimem em dizer que ela não existe: a bancada ruralista, uníssona em seus interesses, em detrimento daqueles que lutam pela produção de alimentos saudáveis, que precisam da natureza preservada para a sua sobrevivência.

Neste caso, não existe base aliada! Pergunto-me: vale a pena ter uma aliança tão ampla? Esta base está comprometida com os seus interesses, não com os projetos do povo. É a mesma base que não quer a reforma agrária, a mesma base que quer tirar o poder de nossa Presidenta de titular terras aos indígenas com a PEC 215; é a mesma base que emperra a votação da PEC do Trabalho Escravo há anos no Congresso Nacional.

No caso do Código Florestal, repito: da mesma forma que o relatório de Aldo Rebelo foi uma vergonha, o mesmo pode ser dito do relatório de Paulo Piau.

Precisamos impedir a possibilidade de recuperar só metade das áreas que foram desmatadas em beiras de rios e nascentes até junho de 2008; a desobrigação de recuperar as reservas legais desmatadas até 2008 para todos os imóveis com até quatro módulos fiscais; a possibilidade de recuperar ou preservar a reserva legal e/ou a Área de Proteção Permanente em outra propriedade de um mesmo bioma. Temos ainda que impedir que haja a autorização da recomposição das reservas legais e áreas de proteção permanentes com até 50% de espécies exóticas, o que aumentaria os desertos verdes de eucalipto e pinus, além da permissão do plantio de lenhosas em áreas com inclinação maior de 45° e topos de morros.

O Núcleo Agrário do PT trabalhará pelo Veta Dilma! É preciso mais que nunca uma grande mobilização social para não retroceder!


(*) Deputado Valmir Assunção (PT-BA) é coordenador do Núcleo Agrário do PT, vice-líder do PT na Câmara.




Fonte: Carta Maior

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Som da Noite - Hey Jude

Neste dia chuvoso, com cara de clima londrino, quem nos acompanha é o velho Paul...divirtam-se!!!




terça-feira, 24 de abril de 2012

Ninguém fez tanto pelos pobres...


...quanto Lula.



por Martin Granovsky (*)

Em junho ele completa 92 anos. Lúcido e ativo, o historiador que escreveu "Rebeldes Primitivos", "A Era da Revolução" e a "História do Século XX", entre outros livros, aceitou falar de sua própria vida, da crise de 30, do fascismo e do antifascismo e da crise atual. Segundo ele, uma crise da economia do fundamentalismo de mercado é o que a queda do Muro de Berlim foi para a lógica soviética do socialismo.

Hobsbawm aparece na porta da embaixada da Alemanha, em Londres. São pouco mais de três da tarde na bela Belgrave Square e se enxergam as bandeiras das embaixadas por trás das copas das árvores. De óculos, chapéu na cabeça e um casaco muito pesado, cumprimenta. Tem mãos grandes e ossudas, mas não parecem as mãos de um velho. Nenhuma deformação de artrite as atacou. Rapidamente uma pequena prova demonstra que as pernas de Hobsbawm também estão em boa forma. Com agilidade desce três degraus que levam do corrimão a calçada. Parece enxergar bem. Tem uma bengala na mão direita. Não se apóia nela, mas talvez a use como segurança, em caso de tropeçar, ou como um sensor de alerta rápido que detecta degraus, poças e, de imediato, o meio-fio da calçada. Hobsbawm é alto e magro. Uns oitenta e bicos. Não pede ajuda. O motorista do Foreign Office lhe abre a porta esquerda do jaguar preto. Entra no carro com facilidade. O carro é grande, por sorte, e cabe, mas a viagem é curta.

- Acabo de me encontrar com um historiador alemão, por isso estou na embaixada, e devo voltar – avisa. Ele chegou de visita a Londres e quis conversar com alguns de nós. Sei que vamos a Canning House. Está bem. Poucas voltas, não?

O carro dá meia volta na Belgrave Square e pára na frente de outro palacete branco de três andares, com uma varanda rodeada de colunas e a porta de madeira pesada. Por algum motivo mágico o motorista de cabelos brancos com uma mecha sobre o rosto, traje azul e sorridente como um ajudante do inspetor Morse de Oxford, já abre a porta a Hobsbawm. Entre essas construções tão parecidas, a elegância do Jaguar o assemelha a uma carruagem recém polida. O motorista sorri quando Hobsbawm desce. O professor lhe devolve a simpatia enquanto sobe com facilidade num hall obscuro. Já entrou em Canning House e à direita vê uma enorme imagem de José de San Martin. À esquerda do corredor, uma grande sala. O chá está servido. Quer dizer, o chá, os pães e uma torta. Outro quadro do mesmo tamanho que o de San Martin. É Simon Bolívar. E também é Bolívar o cavalheiro do busto sobre o aparador.

Quanto chá tomaram Bolívar e San Martin antes de saírem de Londres para a América do Sul, em princípios do século XIX, para cumprir seus planos de independência?

Hobsbawm pega a primeira taça e quer ser quem faz a primeira pergunta.

- Como está a Argentina? - interroga mas não muito, porque não espera e comenta – No ano passado Cristina esteve para vir a Londres para uma reunião de presidentes progressistas e pediu para me ver. Eu disse sim, mas ela não veio. Não foi sua culpa. Estava no meio do confronto com a Sociedade Rural.

Hobsbawm fala um inglês sem afetação nem os trejeitos de alguns acadêmicos do Reino Unido. Mas acaba de pronunciar “Sociedade Rural” em castellhano.

- O que aconteceu com esse conflito?

Durante a explicação, o professor inclina a cabeça, mais curioso que antes, enquanto com a mão direita seu garfo tenta cortar a torta de maçã. É uma tarefa difícil. Então se desconcentra da torta e fixa o olhar esperando, agora sim, alguma pergunta.

- O mundo está complicado – afirma ainda mantendo a iniciativa. Não quero cair em slogans, mas é indubitável que o Consenso de Washington morreu. A desregulação selvagem já não é somente má: é impossível. Há que se reorganizar o sistema financeiro internacional. Minha esperança é que os líderes do mundo se dêem conta de que não se pode renegociar a situação para voltar atrás, senão que há que se redesenhar tudo em direção ao futuro.

A Argentina experimentou várias crises, a última forte em 2001. Em 2005 o presidente Néstor Kirchner, de acordo com o governo brasileiro, que também o fez, pagou ao FMI e desvinculou a Argentina do organismo para que o país não continuasse submetido a suas condicionalidades.

- É que a esta altura se necessita de um FMI absolutamente distinto, com outros princípios que não dependam apenas dos países mais desenvolvidos e em que uma ou duas pessoas tomam as decisões. É muito importante o que o Brasil e a Argentina estão propondo, para mudar o sistema atual. Como estão as relações de vocês?

- Muito bem

- Isso é muito importante. Mantenham-nas assim. As boas relações entre governos como os de vocês são muito importantes em meio a uma crise que também implica riscos políticos. Para os padrões estadunidenses, o país está girando à esquerda e não à extrema direita. Isso também é bom. A Grande Depressão levou politicamente o mundo para a extrema direita em quase todo o planeta, com exceção dos países escandinavos e dos Estados Unidos de Roosevelt. Inclusive o Reino Unido chegou a ter membros do Parlamento que eram de extrema direita [e começa a entrevista propriamente].

- E que alternativa aparece? 

- Não sei. Sabe qual é o drama? O giro à direita teve onde se apoiar: nos conservadores. O giro à esquerda também teve em quem descansar: nos trabalhistas.

- Os trabalhistas governam o Reino Unido.

- Sim, mas eu gostaria de considerar um quadro mais geral. Já não existe esquerda tal como era.

- Isso lhe é estranho?

- Faço apenas o registro.

- A quê se refere quando diz “a esquerda tal como era”?

- Às distintas variantes da esquerda clássica. Aos comunistas, naturalmente. E aos socialdemocratas. Mas, sabe o que acontece? Todas as variantes da esquerda precisam do Estado. E durante décadas de giro à direita conservadora, o controle do Estado se tornou impossível.

- Por que?

- Muito simples. Como você controla o estado em condições de globalização? Convém recordar que, em princípios dos anos 80 não só triunfaram Ronald Reagan e Margareth Thatcher. Na França, François Miterrand não obteve uma vitória.

- Havia vencido para a presidência dem 1974 e repetiu a vitória em 1981.

- Sim. Mas quando tentou uma unidade das esquerdas para nacionalizar um setor maior da economia, não teve poder suficiente para fazê-lo. Fracassou completamente. A esquerda e os partidos socialdemocratas se retiraram de cena, derrotados, convencidos de que nada se podia fazer. E, então, não só na França como em todo mundo ficou claro que o único modelo que se podia impor com poder real era o capitalismo absolutamente livre.

- Livre, sim. Por que diz “absolutamente”?

- Porque com liberdade absoluta para o mercado, quem atende aos pobres? Essa política, ou a política da não-política, é a que se desenvolveu com Margareth Thatcher e Ronald Reagan. E funcionou – dentro de sua lógica, claro, que não compartilho – até a crise que começou em 2008. Frente à situação anterior a esquerda não tinha alternativa. E frente a esta? Prestemos atenção, por exemplo, à esquerda mais clássica da Europa. É muito débil na Europa. Ou está fragmentada. Ou desapareceu. A Refundação Comunista na Itália é débil e os outros ramos do ex Partido Comunista Italiano estão muito mal. A Esquerda Unida na Espanha também está descendo ladeira abaixo. Algo permaneceu na Alemanha. Algo na França, como Partido Comunista. Nem essas forças, nem menos ainda a extrema esquerda, como os trotskistas, e nem sequer uma socialdemocracia como a que descrevi antes alcançam uma resposta a esta crise a seus perigos, contudo. A mesma debilidade da esquerda aumenta os riscos.

- Que riscos?

- Em períodos de grande descontentamento como o que começamos a viver, o grande perigo é a xenofobia, que alimentará e será por sua vez alimentada pela extrema direita. E quem essa extrema direita buscará? Buscará atrair os “estúpidos” cidadãos que se preocupam com seu trabalho e têm medo de perdê-lo. E digo estúpidos ironicamente, quero deixar claro. Porque aí reside outro fracasso evidente do fundamentalismo de mercado. Deu liberdade para todos, e a verdadeira liberdade de trabalho? A de mudá-lo e melhorar em todos os aspectos? Essa liberdade não foi respeitada porque, para o fundamentalismo de mercado isso tinha se tornado intolerável. Também teriam sido politicamente intoleráveis a liberdade absoluta e a desregulação absoluta em matéria laboral, ao menos na Europa. Eu temo uma era de depressão.

- Você ainda tem dúvidas de que entraremos em depressão?

- Se você quiser posso falar tecnicamente, como os economistas, e quantificar trimestres. Mas isso não é necessário. Que outra palavra pode se usar para denominar um tempo em que muito velozmente milhões de pessoas perdem seu emprego? De qualquer maneira, até o momento no vejo um cenário de uma extrema direita ganhando maioria em eleições, como ocorreu em 1933, quando a Alemanha elegeu Adolf Hitler. É paradoxal, mas com um mundo muito globalizado um fator impedirá a imigração, que por sua vez aparece como a desculpa para a xenofobia e para o giro à extrema direita. E esse fator é que as pessoas emigrarão menos – falo em termos de emigração em massa – ao verem que nos países desenvolvidos a crise é tão grave. Voltando à xenofobia, o problema é que, ainda que a extrema direita não ganhe, poderia ser muito importante na fixação da agenda pública de temas e terminaria por imprimir uma face muito feia na política.

- Deixemos de lado a economia, por um momento. Pensando em política, o que diminuiria o risco da xenofobia?

- Me parece bem, vamos à prática. O perigo diminuiria com governos que gozem de confiança política suficiente por parte do povo em virtude de sua capacidade de restaurar o bem-estar econômico. As pessoas devem ver os políticos como gente capaz de garantir a democracia, os direitos individuais e ao mesmo tempo coordenar planos eficazes para se sair da crise. Agora que falamos deste tema, sabe que vejo os países da América Latina surpreendentemente imunes à xenofobia?

- Por que? 

- Eu lhe pergunto se é assim. É assim?

- É possível. Não diria que são imunes, se pensamos, por exemplo, no tratamento racista de um setor da Bolívia frente a Evo Morales, mas ao menos nos últimos 25 anos de democracia, para tomar a idade da democracia argentina, a xenofobia e o racismo nunca foram massivos nem nutriram partidos de extrema direita, que são muito pequenos. Nem sequer com a crise de 2001, que culminou o processo de destruição de milhões de empregos, apesar de que a imigração boliviana já era muito importante em número. Agora, não falamos dos cantos das torcidas de futebol, não é?

- Não, eu penso em termos massivos.

- Então as coisas parecem ser como você pensa, professor. E, como em outros lugares do mundo, o pensamento da extrema direita aparece, por exemplo, com a crispação sobre a segurança e a insegurança das ruas.

- Sim, a América Latina é interessante. Tenho essa intuição. Pense num país maior, o Brasil. Lula manteve algumas idéias de estabilidade econômica de Fernando Henrique Cardoso, mas ampliou enormemente os serviços sociais e a distribuição. Alguns dizem que não é suficiente...

- E você, o que diz?

- Que não é suficiente. Mas que Lula fez, fez. E é muito significativo. Lula é o verdadeiro introdutor da democracia no Brasil. E ninguém o havia feito nunca na história desse país. Por isso hoje tem 70% de popularidade, apesar dos problemas prévios às últimas eleições. Porque no Brasil há muitos pobres e ninguém jamais fez tantas coisas concretas por eles, desenvolvendo ao mesmo tempo a indústria e a exportação de produtos manufaturados. A desigualdade ainda assim segue sendo horrorosa. Mas ainda faltam muitos anos para mudar as cosias. Muitos.

- E você pensa que serão de anos de depressão mundial

- Sim. Lamento dizê-lo, mas apostaria que haverá depressão e que durará alguns anos. Estamos entrando em depressão. Sabem como se pode dar conta disso? Falando com gente de negócios. Bom, eles estão mais deprimidos que os economistas e os políticos. E, por sua vez, esta depressão é uma grande mudança para a economia capitalista global.

- Por que está tão seguro desse diagnóstico?

- Porque não há volta atrás para o mercado absoluto que regeu os últimos 40 anos, desde a década de 70. Já não é mais uma questão de ciclos. O sistema deve ser reestruturado.

- Posso lhe perguntar de novo por que está tão seguro?

- Porque esse modelo não é apenas injusto: agora é impossível. As noções básicas segundo as quais as políticas públicas deviam ser abandonadas, agora estão sendo deixadas de lado. Pense no que fazem e às vezes dizem, dirigentes importantes de países desenvolvidos. Estão querendo reestruturar as economias para sair da crise. Não estou elogiando. Estou descrevendo um fenômeno. E esse fenômeno tem um elemento central: ninguém mais se anima a pensar que o Estado pode não ser necessário ao desenvolvimento econômico. Ninguém mais diz que bastará deixar que o mercado flua, com sua liberdade total. Não vê que o sistema financeiro internacional já nem funciona mais? Num sentido, essa crise é pior do que a de 1929-1933, porque é absolutamente global. Nem os bancos funcionam.

- Onde você vivia nesse momento, no começo dos anos 30?

- Nada menos que em Viena e Berlim. Era um menino. Que momento horroroso. Falemos de coisas melhores, como Franklin Delano Roosevelt.

- Numa entrevista para a BBC no começo da crise você o resgatou.

- Sim, e resgato os motivos políticos de Roosevelt. Na política ele aplicou o princípio do “Nunca mais”. Com tantos pobres, com tantos famintos nos Estados Unidos, nunca mais o mercado como fator exclusivo de obtenção de recursos. Por isso decidiu realizar sua política do pleno emprego. E desse modo não somente atenuou os efeitos sociais da crise como seus eventuais efeitos políticos de fascistização com base no medo massivo. O sistema de pleno emprego não modificou a raiz da sociedade, mas funcionou durante décadas. Funcionou razoavelmente bem nos Estados Unidos, funcionou na França, produziu a inclusão social de muita gente, baseou-se no bem-estar combinado com uma economia mista que teve resultados muito razoáveis no mundo do pós-Segunda Guerra. Alguns estados foram mais sistemáticos, como a França, que implantou o capitalismo dirigido, mas em geral as economias eram mistas e o Estado estava presente de um modo ou de outro. Poderemos fazê-lo de novo? Não sei. O que sei é que a solução não estará só na tecnologia e no desenvolvimento econômico. Roosevelt levou em conta o custo humano da situação de crise.

- Quer dizer que para você as sociedades não se suicidam. 

(Pensa) – Não deliberadamente. Sim, podem ir cometendo erros que as levam a catástrofes terríveis. Ou ao desastre. Com que razoabilidade, durante esses anos, se podia acreditar que o crescimento com tamanho nível de uma bolha seria ilimitado? Cedo ou tarde isso terminaria e algo deveria ser feito.

- De maneira que não haverá catástrofe.

- Não me interessam as previsões. Observe, se acontece, acontece. Mas se há algo que se possa fazer, façamos-no. Não se pode perdoar alguém por não ter feito nada. Pelo menos uma tentativa. O desastre sobrevirá se permanecermos quietos. A sociedade não pode basear-se numa concepção automática dos processos políticos. Minha geração não ficou quieta nos anos 30 nem nos 40. Na Inglaterra eu cresci, participei ativamente da política, fui acadêmico estudando em Cambridge. E todos éramos muito politizados. A Guerra Civil espanhola nos tocou muito. Por isso fomos firmemente antifascistas.

- Tocou a esquerda de todo o mundo. Também na América Latina

- Claro, foi um tema muito forte para todos. E nós, em Cambridge, víamos que os governos não faziam nada para defender a República. Por isso reagimos contra as velhas gerações e os governos que as representavam. Anos depois entendi a lógica de por quê o governo do Reino Unido, onde nós estávamos, não fez nada contra Francisco Franco. Já tinha a lucidez de se saber um império em decadência e tinha consciência de sua debilidade. A Espanha funcionou como uma distração. E os governos não deviam tê-la tomado assim. Equivocaram-se. O levante contra a República foi um dos feitos mais importantes do século XX. Logo depois, na Segunda Guerra...

- Pouco depois, não? Porque o fim da Guerra Civil Espanhola e a invasão alemã da Tchecoslováquia ocorreu no mesmo ano. 

- É verdade. Dizia-lhe que logo depois o liberalismo e o comunismo tiveram uma causa comum. Se deram conta de que, assim não fosse, eram débeis frente ao nazismo. E no caso da América Latina o modelo de Franco influenciou mais que o de Benito Mussolini, com suas idéias conspiratórias da sinarquia, por exemplo. Não tome isso como uma desculpa para Mussolini, por favor. O fascismo europeu em geral é uma ideologia inaceitável, oposta a valores universais.

- Você fala da América Latina...

- Mas não me pergunte da Argentina. Não sei o suficiente de seu país. Todos me perguntam do peronismo. Para mim está claro que não pode ser tomado como um movimento de extrema direita. Foi um movimento popular que organizou os trabalhadores e isso talvez explique sua permanência no tempo. Nem os socialistas nem os comunistas puderam estabelecer uma base forte no movimento sindical. Sei das crises que a Argentina sofreu e sei algo de sua história, do peso da classe média, de sua sociedade avançada culturalmente dentro da América Latina, fenômeno que creio ainda se mantém. Sei da idade de ouro dos anos 20 e sei dos exemplos obscenos de desigualdade comuns a toda a América Latina.

- Você sempre se definiu com um homem de esquerda. Também segue tendo confiança nela?

- Sigo na esquerda, sem dúvida com mais interesse em Marx do que em Lênin. Porque sejamos sinceros, o socialismo soviético fracassou. Foi uma forma extrema de aplicar a lógica do socialismo, assimo como o fundamentalismo de mercado foi uma forma extrema de aplicação da lógica do liberalismo econômico. E também fracassou. A crise global que começou no ano passado é, para a economia de mercado, equivalente ao que foi a queda do Muro de Berlim em 1989. Por isso Marx segue me interessando. Como o capitalismo segue existindo, a análise marxista ainda é uma boa ferramenta para analisá-lo. Ao mesmo tempo, está claro que não só não é possível como não é desejável uma economia socialista sem mercado nem uma economia em geral sem Estado.

- Por que não? 

- Se se mira a história e o presente, não há dúvida alguma de que os problemas principais, sobretudo no meio de uma crise profunda, devem e podem ser solucionados pela ação política. O mercado não tem condições de fazê-lo.

(*) Martin Granovsky é analista internacional e presidente da agência de notícias Télam.


Berlim descobre cerveja artesanal de erva-mate

Bruna Amaral

bruna.amaral@zerohora.com.br

Berlim descobre cerveja artesanal de erva-mate Bruna Amaral/Especial 

Garrafas de Club Mate tomaram conta da Alemanha nos últimos anos. No metrô, nas universidades, nas boates ou nas ruas, os recipientes (de vidro!) da bebida que contêm extrato de mate e, por isso, altos níveis de cafeína, estão nas mãos e nas mochilas dos jovens.

Que em diversas partes do mundo o chá feito da planta base de uma das bebidas mais amadas dos gaúchos, não é novidade nenhuma, mas em Berlim a "febre do mate"chegou a um ponto que nem os alemães, criadores da Reinheitsgebot, ou Lei da Pureza da Cerveja em português, poderiam imaginar. Fabrício do Canto, 42 anos, um alegretense morador da capital alemã misturou as duas coisas e está fazendo um inesperado sucesso.

Foi em uma conferência de hackers e aficionados por computador no fim de 2011 que o o ex-executivo de marketing formado pela UFSM teve a ideia de misturar cerveja com mate.

— Nesse tipo de evento todo mundo precisa ficar muito tempo acordado. Pra se ter uma noção, nele, foram bebidos 6 mil litros de Club Mate e só 500 de cerveja — conta.

Fora do Brasil desde os anos 1990 e em Berlim desde 2009, Do Canto afirma que sempre levou o chimarrão para onde quer que fosse. No bairro de Prenzlauerberg, ele inclusive fundou a empresa Meta Mate, que importa a planta colhida e a erva produzida por um amigo em São Martinho, no Rio Grande do Sul. Com o que chega do Estado, ele faz chocolate, sabonete e outros produtos, além de vender todos os apetrechos, inclusive erva, para um bom chimarrão. Apesar do interesse dos berlinenses pelo mate, foi só ao misturar a planta com cerveja que o projeto tomou proporções maiores.

— Agora eu tô mexendo com a preferência nacional. Então a coisa ficou séria. Todo mundo quer saber o que é a Mier — comemora.

Os primeiros 40 litros de Mier foram vendidos principalmente entre amigos e simpatizantes via internet. Segundo Do Canto, quem bebeu disse que a cerveja era muito forte e muito escura. A partir daí, a segunda leva já veio diferente: os 100 litros foram produzidos com dinheiro dado de antemão pelos compradores na rede e investimento próprio com um pouco menos mate e um código em cada garrafa para que se possa opinar como a próxima produção deve sair.

Nesta semana, todos os jornais locais e muitos nacionais estamparam alguma página com o gaúcho e sua Mier. Enquanto a entrevista para essa reportagem era feita, o celular do dono da Meta Mate tocou diversas vezes: um supermercado ligou para fechar a compra de parte dos próximos 800 litros da cerveja. O sucesso repentino o empresário atribui ao momento:

— Club Mate é a bebida da hora os jovens tomam pura durante o dia e junto com vodca nas festas. Inventei uma nova opção: misturei o que ele mais gostam com a moda — explica.

Se depender da curiosidade dos apaixonados por Mate, como doutorando em informática Alexander Oppermann, de 27 anos, que há cerca de quatro anos passou a substituir o café pelo Club Mate, o sucesso da cerveja de Do Canto só deve aumentar. O berlinense ainda não conseguiu provar — a nova produção da Mier ainda não estava disponível — mas garante que assim que estiver pronta, ele vai beber e relatar a experiência para todos os outros fãs do mate na cidade.


Fonte: Zero Hora

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Dica de Fim de Semana - Cavalo de Guerra








Sinopse


O filme segue um jovem chamado Albert e seu cavalo, Joey, e mostra sua ligação sendo ameaçada quando o animal é vendido à cavalaria e mandado para combate na Primeira Guerra Mundial. Apesar de ser jovem demais para se alistar, Albert viaja à França para salvar seu amigo.

domingo, 15 de abril de 2012

Filhos? Não, obrigada



A ciência mostrou que o chamado “instinto materno” não é inato e pode ser vivido de diversos modos. Ainda assim, prevalece uma sutil pressão social que cobra a maternidade.
por Paola Emilia Cicerone



É raro alguém perguntar o que levou um homem ou uma mulher a ter filhos. Em contrapartida, é comum escutar: “Não tem filhos? Por quê?”. E, em geral, o principal alvo das indagações são as mulheres. Talvez algo como “não tive tempo”, “não sou casada” ou “não encontrei o homem certo, no momento certo” fossem boas respostas, mas há algo mais em jogo. É como se – ainda hoje, apesar de todas as transformações sociais dos últimos anos – continuasse necessário explicar à sociedade essa escolha (às vezes mais, às vezes menos consciente). Ao serem questionadas, as mulheres percebem na curiosidade alheia a pressão e as críticas disfarçadas, como se a opção de não terem sido mães as fizesse pessoas especialmente egoístas ou fosse sinal de algum “grande problema” em relação à sua feminilidade.

“Em nossas pesquisas promovemos a discussão do tema em grupos de mulheres sem filhos, em diversas cidades italianas, e muitas das participantes admitiram que se sentiam julgadas, às vezes até severamente, por parentes ou conhecidos, estigmatizadas como se fossem cidadãs de segunda categoria”, conta Maria Letizia Tanturri, professora de demografia da Universidade de Pavia, que participou de um importante projeto de pesquisa coordenado por várias universidades. “É como se, de certa forma, a maternidade fosse a garantia de nos tornarmos pessoas melhores, mais sensíveis”, observa. Ela lembra que, em 2007, uma senadora democrata da Califórnia, Barbara Boxer, atacou a secretária de Estado Condoleezza Rice: “Como não tem filhos nem família, a senhora não pagará nenhum preço pessoal pelo envio de mais 20 mil soldados americanos ao Iraque”. As palavras podem ser entendidas como uma variante de algo como: “Quem não tem filhos não pode entender o que só nós, seres humanos privilegiados pela graça de ter filhos, conseguimos compreender”.

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Michigan com 6 mil mulheres com idade entre 50 e 60 anos revelou que ter ou não ter filhos não tem efeito relevante no bem-estar psicológico nessa faixa etária – o que, de certa forma, contradiz a ideia de que é preciso criar os filhos para ter com quem contar no futuro. “Os aspectos mais importantes para uma maturidade feliz são a presença de um companheiro e de um círculo de relações sociais significativas”, salienta a socióloga Amy Pienta, coautora da pesquisa publicada no periódico científico International Journal of Aging and Human Development. Assim – e considerando todo o risco, trabalho e preocupação que significa ter filhos –, seria melhor não tê-los? Depende. O único dado certo é que hoje existe uma liberdade maior de escolha: é possível ser mulher de forma plena e prescindir da maternidade.



O medo da Veja





Re: O medo da VejaComentário ao post "A capa da Veja"

Eu li o artigo da Veja, e só tenho uma observação: a Veja quer enterrar a CPI, custe o que custar.

O caso Cachoeira pega diretamente o senador Demóstenes Torres (DEM/Goiás), o governador Marconi Pirilo (PSDB/Goiás), o deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB/GO) e o editor-chefe da revista Veja, Policarpo Jr.

A primeira reação da mídia, diante do escândalo, foi tentar envolver todo mundo: Agnelo (PT/DF), Protógenes (PCdoB/SP), e a construtora Delta -- que, segundo a imprensa, "faz negócios com o Governo Federal" -- convenientemente omitindo o fato de que a Delta faz negócios com todas as esferas do governo, em diversos estados, inclusive São Paulo!!!

Notícias recentes da Folha, do Estadão, e da Globo, dizem que a CPI preocupa a Dilma e setores do PT; quando os mais preocupados, obviamente, devem ser o DEM e o PSDB.

Mas vamos assumir que as acusações sejam verdadeiras, e que Agnelo, Protógenes, e o próprio Governo Federal estejam envolvidos no escândalo. Este seria, sem dúvida nenhuma, o maior escândalo da história recente do país. Maior do que o mensalão, que segundo a Veja foi "o maior escândalo de corrupção da história do país". 

A Veja não quer investigação, e usa todos os artifícios que têm à sua disposição para isso: apela para a PT-fobia, para o "risco para a liberdade de expressão", para a imagem de Hitler e Mussolini... nenhum recurso é deixado de lado no objetivo de demonstrar, por A+B, que a CPI será péssima para o Brasil.

Vamos a alguns trechos do artigo (em negrito, intercalado com meus comentários):

"Com o julgamento do mensalão pelo Supremo a caminho, os petistas lançam uma desesperada ofensiva para tentar desviar a atenção dos crimes cometidos por eles no que foi o maior escândalo de corrupção da história brasileira"

Mas quem está fazendo "uma desesperada ofensiva para desviar a atenção dos crimes cometidos" é a própria Veja. (Apenas como exemplo, além dos mais de 200 telefonemas entre Policarpo e Cachoeira, agora temos evidências de que a gravação do Hotel Nahoum -- naquela fatídica capa contra "o poderoso chefão" José Dirceu -- foi feita pelo bicheiro.)

E a Veja continua, dizendo que "o PT espera desmoralizar na CPI todos que considera pessoal ou institucionalmente responsáveis pela apuração e divulgação dos crimes cometidos pelos correlegionários no mensalão — em especial a imprensa."

A imprensa não precisa do PT para se desmoralizar. Ela tem feito isso por conta própria.

"Esse truque funcionou na União Soviética, funcionou na Alemanha nazista, funcionou na Itália fascista de Mussolini, por que não funcionaria no Brasil?". E responde: "Bem, ao contrário dos laboratórios sociais totalitários tão admirados por petistas, o Brasil é uma democracia, tem uma imprensa livre e vigilante"

O Brasil é uma democracia, e a liberdade de imprensa não está sob ameaça. Qualquer um pode escrever o que quiser, e sites na internet começam a dar furos em tempo real -- antes mesmo que as revistas possam chegar às mãos dos assinantes. Isso não significa que a imprensa possa se associar ao crime, ocultar a existência de uma quadrilha por 8 anos em troca de informações privilegiadas, obtidas de maneira ilegal, e promover membros desta quadrilha a "mosqueteiros da ética".

O delírio prossegue: "Uma CPI dominada pelo PT e seus mais retrógrados e despudorados aliados é o melhor instrumento de que a falconaria petista poderia dispor — pelo menos na impossibilidade, certamente temporária para os falcões, de suprimir logo a imprensa livre, o Judiciário independente e o Parlamento."

Aqui a Veja deixa bem claro -- na sua opinião, a CPI é um instrumento para suprimir a imprensa livre, o judiciário independente, e o parlamento. É um instrumento para transformar o Brasil em um ditadura. É uma simplificação grosseira -- como outras que aparecem no artigo -- com o objetivo de causar um mal-estar com relação à CPI.

A essa altura o leitor típico de Veja deve estar pensando: "esta CPI é um perigo!"

"Enquanto o triunfo final não vem, os falcões petistas vão se contentar em usar a CPI para desmoralizar todos os personagens e forças que ousem se colocar no caminho da marcha arrasadora da história, que vai lançar ao lixo todos os que atacaram o PT e, principalmente, seu maior líder, o ex-presidente Lula."

O mais curioso, de acordo com a tortuosa lógica da Veja, é que -- mesmo que a rede de corrupção de Carlinhos Cachoeira seja "suprapartidária", isto é, envolva diretamente o PT -- esta CPI seria de interesse do partido.

"Lula viu na CPI a oportunidade política de mostrar que todos os partidos pecam. Que todos são farinha do mesmo saco e, por isso mesmo, o mensalão não seria um esquema de corrupção inaudito, muito menos merecedor de um rigor maior por parte do Judiciário e da sociedade. Para os petistas, apagar a história neste momento é uma questão de sobrevivência."

Questão de sobrevivência? A presidenta Dilma tem o maior índice de aprovação de toda a história do país, superando até mesmo o Lula; a oposição está desorientada; a própria Veja diz que o PT estaria caminhando rumo ao poder absoluto. Por que esta seria uma "questão de sobrevivência"? O artigo da Veja não consegue manter-se auto-coerente; a única coisa que está perto de se extinguir é a credibilidade da revista.

"É tamanha a ânsia de Lula e dos mensaleiros para enterrar o escândalo que, se preciso, o PT rifará o governador do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz, que também aparece no arco de influência dos trambiques da máfia do jogo."

É tamanha a ânsia da Veja para enterrar a CPI que, se preciso, deixará o petista Agnelo Queiroz livre, junto com Cachoeira, Demóstenes, Pirilo, Leréia, e, é claro, o editor-chefe da revista, Policarpo Jr.

Para defender Policarpo, sem citar o seu nome, a revista diz: "A oportunidade liberticida que apareceu agora no horizonte político é tentar igualar repórteres que tiveram Carlos Cachoeira como fonte de informações relevantes e verdadeiras com políticos e outras autoridades que formaram com o contraventor associações destinadas a fraudar o Erário."

É uma simplificação grosseira. Policarpo Jr. fez muito mais do que apenas usar Carlos Cachoeira como fonte. Ele usou e foi usado. Durante mais de 8 anos, em mais de 200 telefonemas gravados e reuniões presenciais, Policarpo Jr ajudou a promover os interesses da quadrilha, enquanto a quadrilha satisfazia os interesses da Veja.

A Veja sabia das relações de Demóstenes com Carlinhos Cachoeira, e nunca falou nada. Ou melhor: enalteceu Demóstenes, chegando ao ponto de dizer que ele era um dos "mosqueteiros da ética" do senado. A Veja também ajudou a melar uma CPI contra Cachoeira em 2004. Em troca, Cachoeira foi responsável por inúmeros "furos" da revista, em gravações ilegais que envolviam terceiros. 

Mas a Veja prossegue com a seguinte lição sobre a ética jornalística:

"Os petistas acham que atacar o mensageiro vai diminuir o impacto da mensagem. Pelo que disse Marco Maia, eles vão tentar mostrar que obter informações relevantes, verdadeiras e de interesse nacional lança suspeita sobre um jornalista. Maia não poderia estar mais equivocado. Qualquer repórter iniciante sabe que maus cidadãos podem ser portadores de boas informações. As chances de um repórter obter informações verdadeiras sobre um ato de corrupção com quem participou dele são muito maiores do que com quem nunca esteve envolvido. A ética do jornalista não pode variar conforme a ética da fonte que está lhe dando informações. Isso é básico."

Se Cachoeira tivesse feito gravações de suas conversas com Demóstenes e Pirilo, isto estaria dentro da ética jornalística.

Mas Cachoeira fez gravações contra terceiros -- pessoas que não estavam envolvidas com eles. Para citar um exemplo, hoje sabemos que as filmagens no Hotel Nahoum foram obra da quadrilha. A reportagem de capa de Veja foi ironicamente intitulada "O Poderoso Chefão".

A Veja tinha acesso ao verdadeiro "chefão" -- e nunca falou nada.

A Veja teve acesso a todas as informações sobre a máfia de Goiás e nunca denunciou o esquema.

Durante 8 anos a Veja usou e foi usada por Carlinhos Cachoeira. E é por isso que estão com medo. Mas não é só isso:

"Motivo mesmo para uma CPI seria investigar os milionários repasses de dinheiro público que o governo e suas estatais fazem a notórios achacadores, chantagistas e manipuladores profissionais na internet. Fica a sugestão."

A Veja está com medo porque não controla mais a informação. Se a CPI sair, não haverá como filtrar as informações.

Viva os blogs sujos!

Viva a internet!




sexta-feira, 13 de abril de 2012

Em um futuro não, não, não tão longe...

Da série Vídeos para começar bem o dia: neste que você verá abaixo, os produtores imaginam um futuro que, pela evolução da atual tecnologia, não parece tão distante assim. Quem duvida deve pensar no que ocorreu nos últimos 20 anos. Tudo mudou. No dia a dia da família do vídeo, a ideia é valorizar a importância do vidro, que está presente em tudo.





Dica de Fim de Semana - O Espião que Sabia de Mais

Sinopse


Baseado em best-seller de John Le Carré. No final do período da Guerra Fria, George Smiley (Gary Oldman), um dos veteranos membros do Circus, divisão de elite do Serviço Secreto Inglês, é chamado para descobrir quem é o agente duplo que trabalhou durante anos também para os soviéticos. Todos são suspeitos, mas como também foram altamente treinados para dissimular e trabalhar em condições de extrema tensão, todo cuidado é pouco. George precisa indicar o espião e não pode errar.






Som da Tarde

Som da tarde acompanhado de The Rolling Stones - Blinded by Rainbows...





terça-feira, 10 de abril de 2012

Inconstâncias da Vida




- Atenda o telefone Kleber!!!
- Não, não...
- Atenda logo, pode ser coisa importante.
- Por favor Rodolfo, se for pra mim diz que eu não estou...inventa qualquer coisa. Mas por favor, não diz que estou em casa.
- Certo, certo...vou atender! Mas vai ter que me explicar direitinho esta história de “fugir” do telefone. Tá pior que criança.
- Alô!
- Alô, o Kleber se encontra?
- Não por aqui. Quem gostaria?
- Sou a Beth, uma amiga da “facul”, combinamos de nos encontrar hoje à noite no Costela Grossa Bar e Boate. Liguei pra confirmar o horário dele me buscar.
- Olha Beth, vou passar o recado assim que ele chegar. Não o vi dia inteiro. Saí de casa pela manhã ele não estava e até agora não chegou.
- Que coisa não...
- É...
- Está bem querido! Seu nome é...
- Rodolfo...divido o “apê” com ele.
- Está bem Rodolfo, fico aguardando. Beijos!!!
- Tchau Beth!


- Tchê Bagual...podes parar de se esconder e me contar o que esta acontecendo.
- Eu não quero me encontrar com a Beth!
- Como assim?!?!? Com aquela voz doce entrando em meu ouvido e fazendo os timbres balançarem, assim como Romário fez as redes balançarem na copa do mundo em 94.
- Que isso...
- Com aquela voz no meu ouvido, vou onde ela quiser!
- Cara, tudo não a conhece.
- Não precisa, a voz fala por ela!
- É...bem, na verdade tu tens razão. Ela é um espetáculo. Um avião, descomunal, de outro planeta!
- Mas de feia ou de bonita?
- Lindíssima!!!
- Tchê bagual não envergonhe a querência.
- Não é isso. O problema é que ela é muito bonita e mulheres bonitas me intimidam.
- Barbaridade!!! Então estás me dizendo que uma guria bonita quer sair contigo e você não quer?
- Aham...
- Ali no canto tem uma corda pra se enforcar...
- Mulher bonita só incomoda. Todos ficam olhando, sejam homem ou mulher. Chama muita atenção, precisa de muito agrado, é exigente, não gosta da vida simples, é uma frescura pra comer, não como isso, não gosta daquilo, aquele outro engorda e pra dormir. Passa tanto creme que dorme amarrada pra não escorregar da cama. Tem que dar muito presente...
- Ala pucha tchê!!! Tu tá louco o pomba-gira dos pampas!!! Isso é o sonho de todo grande homem, ser bem sucedido com as mulheres. A não ser que tu sejas “gay”, por acaso escutas Rick Martin ou Michel Teló?
- Não, que isso!!! Sou homem e gosto de mulher. Só que prefiro mulher feia!
- Mas bah tchê!!! Tu queres que me mate.
- Mulher feia é negócio da china...
- Só pra São Jorge, o caçador de dragões!!!
- Olha só, mulher feia não precisa ter ciúmes, ninguém vai querê-la, podes sair na rua que não vão olhá-la, estará sempre de bom humor, por que terá medo de eu deixá-la. Qualquer presente estará bom, pois se fosse outro homem não daria e se for sair, qualquer lugar é bom e não é exigente. Por isso as prefiro!
- Xirú, vou te dizer uma coisa. Animal tipo a tua “graça”, conheço bastante lá na estância. Um cachaço, um chibarro, um galo véio quando não se garantem pra cobrir a fêmea, perdem espaço pra outro macho.
- Isso é no mundo animal...
- E no nosso também. Veja você, corres léguas de uma xirua crinuda por falta de confiança, um bagual não frouxa o reio, não tem medo de égua caborteira tchê! Tu como homem da melhor estirpe não podes ter medo de mulher bonita.
- Tens razão, talvez seja isso que me falte, confiança pra ter mulher bonita.
- Tchê, troque as fatiotas que vou te levar num lugar abagualado onde tu vais perder esta frescura, vais te curar!
- E que lugar é esse???
- Vou te levar na bodega da Xica Beiçuda.
- Mas ela bonita...
- Depende da parte que olhares. Mas uma coisa te garanto, tu vais ser outro homem quando saíres...


quarta-feira, 4 de abril de 2012

Existe Zero Hora? (Um Novo Artigo Da Série A Língua Nossa De Cada Dia)




Remarcadores de supermercados na era da inflação



Os jovens brasileiros não sabem, felizmente, o que é viver sob um regime de inflação crônica. Um pesadelo, essencialmente. Foi o que aconteceu no Brasil por anos, décadas — até que o Plano Real restabelecesse a estabilidade na economia. Tão bizarra era a vida que os supermercados tinham funcionários incumbidos simplesmente de remarcar os preços. Foi dentro desse cenário que papai escreveu o texto abaixo em sua coluna semanal na Folha de S. Paulo, A Língua Nossa de Cada Dia. (Aqui, outros artigos da série.) A coluna foi publicada entre o final dos anos 1960 e o início da década de 1980. Uma das marcas amargamente inesquecíveis para quem vivia sob a inflação eram os anúncios de aumentos de preços — a partir da zero hora de amanhã …



Quando se anunciam novos aumentos de preços, um pequeno problema que se coloca é o da data da vigência deles. Tornou-se praxe entre nós dizer que começam a vigorar a partir de zero hora do dia tal ou qual. Mas afinal de contas que hora é essa? Existe?

Postas de lado abstrações mais profundas, parece fora de dúvida que o dia, aquilo que o senso comum entende como conjunto do dia e da noite, termina às 24 horas, ou meia-noite. A fração de segundo seguinte já é um outro dia. É difícil encaixar aí uma zero hora, ou seja, uma hora inexistente, vazia – a não ser, evidentemente, como mera força de expressão, para indicar o ponto de partida para um novo dia.

Acontece, entretanto, que esse ponto de partida é efetivamente o dia anterior (meia-noite em ponto) . Ou seja, o novo dia. Observe-se a diferença: em instrumentos de medição, o zero é em geral, e de fato, o ponto inicial; com horas ou dias, tal não sucede – na prática, pelo menos.

Por que, pois, o uso generalizado de zero hora? Provavelmente por uma razão de ordem prática. Se algo começa a vigorar a partir do dia 15, digamos, como anunciá-lo com precisão, no dia 14? Uma fórmula: a gasolina aumenta hoje à meia-noite; outra: a gasolina aumenta amanhã à zero hora. Na prática, a diferença é nenhuma, mas há uma sutil diferença de natureza psicológica. O aumento que vigorará “amanhã” parece menos penoso do que aquele que começa “já hoje”. É por isso que, quando se quer dar a entender que a carestia se aguça aceleradamente, os aumentos de preços vigoram a partir da meia-noite de “hoje”: se se quer dar a impressão oposta, eles vigoram de zero horra de “amanhã” em diante. Sutil, talvez, mas verdadeiro.

Talvez valha a pena chamar a atenção para um engano mais ou menos frequente: pode-se entender, como ficou dito, zero hora como o ponto de partida de um novo dia, mas não como o ponto final do dia anterior. Assim, zero hora do dia 15 são os primeiros segundos do dia 15 e não os últimos do dia 14. No dia 14, só se poderá anunciar algum aumento para a zero hora de amanhã (se o aumento começar efetivamente no dia 15) e não para a zero hora de hoje, como às vezes se lê.



domingo, 1 de abril de 2012

Indignação em estado bruto

Matheus Pichonelli

Meu pai tinha pedido para acompanhá-lo até a chácara num sábado de manhã. Birrento, queria ficar em casa, na tevê ou coisa assim. Todo sábado era a mesma via crucis: pegava a caminhonetezinha, passava por algumas lojas, comprava ração e alguns utensílios e seguia mato adentro numa estradinha de terra, até um descampado onde só havia duas casas, uma trave de madeira e uns pés de carambola azeda.

Não devia ter mais de seis anos e era a única companhia de meu pai naquele dia. Disse que não queria ir, e meu pai me prometeu que, se eu fosse com ele, me levaria para conhecer o Raul Seixas. Me troquei num pulo e disse: “Vamos!”


Raul Seixas desenha a cruz ansata no corpo durante show em SP

Raul passava naquele tempo pela cidade para fazer um dos seus últimos shows, na famosa turnê com Marcelo Nova (e meu tio se orgulharia até hoje por ter aberto uma latinha de cerveja gelada para ele antes do show, que não conseguiu terminar).

No caminho para a chácara, ele estacionou na frente de uma casa, onde tinha de buscar alguns papéis, e me deixou sozinho na caminhonete, ansioso por conhecer o lendário cantor. Meu pai então veio com toda a cara de pau do mundo e disse: “Não vai dar. Ele está dormindo e não quer ser incomodado”. Obviamente Raul não estava naquela casa. Era um golpe do meu pai, que conseguiu o que queria e me levou para a chácara.

A infância tem seus cheiros e sensações, e a minha tinha também uma trilha sonora. Raul Seixas foi o primeiro som “adulto” que me pegou, e me fazia cantar sem nem bem entender as letras.

Um dia, em agosto de 1989, chegávamos com a mesma caminhonete na garagem de casa quando ouvimos pelo rádio que Raul estava morto, em decorrência do alcoolismo. Não lembro o que senti, mas lembro de ver meu pai se trancar no quarto com uma “garrafa de bebida enrustida” – porque minha mãe não podia ver. Só saiu de lá na década seguinte. Do lado de fora, ninguém mais aguentava aquela choradeira que vinha de dentro enquanto ele ouvia, repetidamente, “Canto para Minha Morte”.

Desde então, deixei de gostar de Raul. Achava tudo aquilo lúgubre demais. Para mim Raul tinha perdido a batalha para ele mesmo, e eu não queria ouvir o som de um sujeito que me mandava tentar outra vez mas falhava ao tentar se salvar.

Leia também:

Muito tempo depois, numa dessas esquinas entre a infância e a adolescência em que tudo parece truncado, recorri a uma velha fita em K7 e revi os sons da minha infância – que só então fariam sentido. Era como se aquelas músicas tivessem uma frágil proteção de vidro pedindo para ser quebrado em casos de emergência. Como a vida é feita de emergências, muitas, o vidro foi quebrado e consertado muitas e muitas vezes.

Lembrando de tudo hoje, depois de assistir ao documentário “O Início, o Fim e o Meio” (e tudo o que podia ser dito sobre o filme está NESTE TEXTO, de Cynara Menezes), listei muitos dos sons (e filmes e livros) que me viraram a cabeça até meus quase 30. Das bandas de rock dos 80 à poesia de Caetano, passando pela rebeldia elegante de Chico Buarque, conheci artistas de obras mais elaboradas e completas, que se reinventaram com o tempo e sobreviveram.

Mesmo assim, nada ainda se compara à pancada certeira de Raul. Sua música é a indignação em estado bruto. Não que lhe falte poesia, mas para ele isso é só um acessório: seu grito é mais agudo, rudimentar, e está em primeiro plano. Por isso, quando bate, derruba. Porque ninguém como ele pegou as regras para se vencer na vida (“uma grande piada”) e virou tudo de ponta-cabeça.

E colocou em xeque, junto com parceiros notáveis (como Paulo Coelho, destaque no filme), valores sacrossantos como a fidelidade (“o amor a dois profana o amor de todos os mortais”), a lealdade (“porque quando eu jurei meu amor eu traí a mim mesmo”), o sucesso (“eu devia estar contente porque tenho um emprego, sou o dito cidadão respeitado e ganho 4 mil cruzeiros por mês”), a amizade (“hoje eu te chamo de careta e você me chama vagabundo”), a família (“eu calço é 37, meu pai me dá 36. Dói, mas, no dia seguinte, aperto meu pé outra vez”), a sabedoria (“antes de ler o livro que o guru te deu você tem que escrever o seu”), a divisão entre o bem e o mal (“o mais puro gosto do mel é apenas defeito do fel”), o Estado (“e sempre que você dorme de toca ele fatura em cima do inimigo”), a religião (“a madre da escola te ensina a reconhecer o pecado e o que você sente é ruim: mas, baby, Deus não é tão mau assim”), a carreira (“é você olhar no espelho e se sentir um grandessíssimo idiota, saber que é humano, ridículo e limitado e que só usa 10% de sua cabeça animal”), a coerência (“eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”), a obediência (“por que você não para um pouco de fingir e rasga esse uniforme que você não quer? Mas você não quer: prefere dormir e não vê”), a escola (“e o professor não saiu pra lecionar pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar no dia em que a Terra parou”).


Wallpaper do documentário de Walter Carvalho: Foto: Divulgação

O pano de fundo era um só: a derrota cantada num mundo feito para pretensos vencedores. Ele admitia, sem firulas, o tédio, o cansaço, o desencanto. E, em quase todas essas músicas, guardava um questionamento em comum: o que há depois disso tudo? O que realmente importa nessa vida?

Daí a sua predileção pelas coisas do além, os discos voadores, a magia e a morte (“eu te detesto e amo”), em vez das tolices que nos fazem menos gente a cada dia.

O fardo, para ele, foi viver tudo o que cantou – e talvez seja isso o que o torne único na “linha evolutiva da música popular brasileira”.

No filme de Walter Carvalho, essa ideia fica clara quando ele aparece, numa reportagem antiga da tevê, comentando os efeitos de uma ressaca, na orla do Rio, que arremessou seu carro (um Corcel 73?) para longe e provocou estragos na lataria. “A natureza está certa, a onda tá certa: quem não tinha que estar aqui era o homem, é esse aterro, esses prédios aí. Tomara que a onda derrube tudo”. Isso num tempo em que “sustentabilidade” era apenas palavrão.

Em outra cena, o amigo Sylvio Passos, fundador do Raul Rock Club, conta como conheceu o ídolo: ao receber o jovem, Raul pegou o macarrão na mão e jogou no prato do novo amigo, pedindo que ficasse à vontade.

Os relatos sobre esse desapego e a noção exata da finitude humana são uma constante em todo o filme.

Mas nesse encontro entre vida e obra, bebedeiras e abandonos (de sonhos, da família, dos amigos), ainda havia tempo para esperança. Raul se queixava do pessimismo encarnado pelos jornais tomados de “sangue” e garantia: “a gente ainda nem começou”. E, em Ave Maria da Rua, para mim a mais intensa de todas as suas composições, pede: “Segure a minha mão quando ela fraquejar e não deixe a solidão me assustar”.

Raul morreu às portas do Fim da História, decretado após a queda do muro de Berlim, dos anos Collor, do boom da lambada e do axé. Sorte dele, que já não suportava o que via – e vivia em bebedeira eterna para poder ver tudo claramente, sem dor. Sabia dos tempos que estavam por vir.

Morreu em pé, como lembrou Marcelo Nova no documentário, aplaudido e adorado, perto de seu público – apesar do esforço para não desabar, ainda restou o último fôlego para fazer seu último, e brilhante, disco “A Panela do Diabo”.

Raul foi, de longe, o maior nome do rock brasileiro. Mesmo cantando a dúvida num mundo que pedia (e pede) certezas. Um mundo que manda obedecer e não contestar, limpar a bota de quem está em cima e chutar quem está embaixo para um dia se tornar um dos novos bilionários da Forbes. Para ele, tudo isso era passageiro, inútil. “Um saco”, como passear no jardim zoológico para dar pipoca aos macacos.

Por tudo isso, se alguém um dia perguntar quem era o doido, é bom pegar o espelho: não foi Raul que se deslocou do próprio mundo. O mundo é que não estava (nem está) pronto para entender Raul.


Fonte: Carta Capital