quinta-feira, 12 de junho de 2014

Frase do Dia


“(…) Tenho medo desse momento reacionário e conservador do país. E falo literalmente: crimes de racismo se multiplicando na internet, linchamentos, ódio aos grupos populares. Não se pode nem dizer que isso seria a direita. A direita liberal clássica defende como prioridade a garantia dos direitos civis. O que vemos no Brasil é uma massa com tendências fascistas, raivosas (…)”

(Rosana Pinheiro-Machado, antropóloga, professora do Departamento de Desenvolvimento Internacional da Universidade de Oxford, no caderno PrOA).

O fascínio chamado Amor


Por Martha Medeiros




O jogo do amor, nesta véspera de Dia dos Namorados, está sofrendo uma concorrência indecorosa. Só se fala em futebol. A pipoca promete desbancar os bombons, a cerveja promete vencer os cálices de vinho, e beijo, alguém falou em beijo? Só se for para comemorar vitórias em campo. Não é hora de romantismo, e sim de patriotismo.

Suspiro. Nesse clima (ainda que insosso) de torcida organizada, de nação reunida, de milhões em ação, fica difícil dedicar o tema da coluna apenas para dois: um par.

Mas é o que me propus, desde que li, dia desses (acho que no livro Doralina, de Luiz Horácio), uma frase que me fez pensar: “Amar é encontrar aquilo que não se procura”. E subitamente lembrei daqueles que se produzem no sábado à noite para sair em busca de paquera, de quem se vale do aplicativo Tinder na esperança de achar sua cara-metade, de quem se matricula em todos os cursos prevendo que dali será pinçado um candidato a marido ou a esposa, de quem pede aos amigos para que lhe apresentem solteiros e solteiras à disposição, lembrei de todas as artimanhas justas e válidas para que a pessoa se recoloque no mercado amoroso, numa ânsia também justa e válida de preencher seu vazio emocional – só que o justo e o válido não são mágicos.

Aquilo que vem por encomenda, atendendo a pedidos, pode, claro, satisfazer plenamente seu desejo. Quer casa, comida e roupa lavada? Tem quem ofereça. Quer companhia para o cinema? Aos montes. Quer sexo e nada mais? Comece a distribuir senha. Se você está consciente do que procura, encontrará alguém que se encaixe no seu ideal de relacionamento. Funciona mais ou menos como uma entrevista de emprego.

Justo e válido.

Porém, amar é encontrar aquilo que não se procura. Aquilo que surge sem explicação, que não tem lógica, e contra o que não adianta lutar: nenhuma resistência é suficiente. Amar é puro fascínio. Você cruza com uma pessoa que talvez nem equalize com seus sonhos, mas é com ela que se deu o click, o curto-circuito, que algo foi despertado. A mágica está no que não veio por encomenda, nem atendendo a pedidos, nem no momento certo, nem mesmo pegou você de banho tomado – é um flechaço do Cupido, que às vezes é ruim de mira, mas ao menos tem boa intenção. Ou, se não for a hora de falar em Cupido, mas em Neymar, Fred, Hulk e Jô, pode-se dizer que a mágica é um potente chute de fora da área no qual ninguém acreditou, mas a bola entrou assim mesmo. Gol.

Aos namorados de amanhã, grudem-se. Façam essa mágica durar.

Aos solitários de amanhã, torçam – mas pela Seleção, não por si mesmos. Esqueçam um pouco de si mesmos. Permitam-se parar de querer, de procurar, de se preocupar. Sem planos e sem ânsia, aguardem calmamente a chegada do que nunca pediram.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Para se emocionar com Oscar


Os que já assistiram a este vídeo vão concordar que ele destaca um momento comovente, de um dos personagens mais importantes da história do esporte brasileiro. Vi esta semana e é um vídeo para se reprisar muitas vezes. As imagens mostram a cerimônia em que o brasileiro Oscar, o Mão Santa, maior jogador de basquete do país, foi incluído no Salão da Fama do esporte, no Naismith Memorial, no Symphony Hall, em Springfield, Estados Unidos, no início de setembro do ano passado.

O discurso de Oscar foi arrasador – e emocionou de brasileiros a americanos. Sei que aqueles que já viram vão compreender: vale a pena repetir.

É uma cerimônia para encher de orgulho os brasileiros:



Porque o mundo precisa de filosofia



Por Guilherme Moura

Podemos definir filosofia como sendo uma ciência que observa os problemas relacionados à existência do planeta, mais precisamente do Homo sapiens. Além disso, a solução destes problemas é oferecido pela interpretação da sabedoria fornecida pela própria filosofia, onde há filósofos na busca do conhecimento insano em três vertentes: teórico, práticos e poetas.

            Na busca pela resposta de nossos pensamentos íntimos e triviais, alguns animais não se importam para onde irão quando morrerem ou porque nasceram ou ainda, qual a finalidade da vida? O gato já nasce gato, ele gateia, a girafa, girafeia, o sapo, sapeia e nós?

            O filósofo e educador Mário Sérgio Cortella escreveu em seu livro, Nós não Nascemos Prontos, que não somos um produto que nasce pronto e vai se gastando, mas sim, nascemos não prontos e vamos nos fazendo.

            Por isso a filosofia é importante no nosso mundo, auxilia na construção de humanos para a humanidade, responde boa parte de nossa incógnita, alimenta nossa sabedoria e assim, vamos esboçando o Homo sapiens com o propósito do ser em busca do autoconhecimento.

            Diferentemente do conhecimento transmitido pela escola, visto que, a escola fornece a instrução prática e limitada, inibindo o pensamento. A escola como está, não oferece o universo que ela prega, haja vista que aluno, em latim, significa ser sem luz, sem conhecimento, ou seja, apenas o professor o detém.

            Segundo Içame Tiba, um dos maiores educadores do Brasil, possuímos estudantes digitais e professores analógicos. A era digital na qual estamos vivenciando é totalmente diferente de quando foi fundada a Universidade de Bolonha, no norte da Itália, em 1088.

            É neste raciocínio que entra a filosofia, a escola como um todo, necessita de uma autorreflexão, há estudantes com mais horas de televisão do que de estudo. Isso não é errado, a televisão também transmite conhecimento, o que diferencia a televisão da sala de aula é a sua capacidade prender o interessado.

A filosofia pode despertar essa capacidade nos estudantes e como disse certa vez o poeta Geraldo Vandré, “somos todos iguais, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer...”

domingo, 1 de junho de 2014

Frase do Dia

Não precisa ser herói para lutar pela terra, por que quando a fome dói qualquer homem entra em guerra. É preciso ter cuidado para evitar essa luta, pois cada pai é um soldado quando é o pão que se disputa. Se somos todos irmãos, se todos somos amigos, basta um pedaço de chão para a vitória do trigo, basta um pedaço de terra para a semente ser pão, enquanto a fome faz guerra a paz espera no chão.

Dante Ramon Ledesma

A lição que o Brasil está prestes a dar ao mundo




Publicado originalmente no site Manual de Ingenuidades. O autor, Adriano Silva, é blogueiro e consultor digital. Antes, trabalhou na Abril e na Globo.

Há um pensamento em voga entre nós: devíamos sabotar a Copa, torcer contra, colaborar para que “não haja” Copa. Isto seria a coisa cívica e correta a fazer – usar a Copa do Mundo no Brasil não para vender ao mundo uma imagem boa do país, mas, ao contrário, para revelar nossas mazelas, para admitir nossas iniquidades diante do planeta.

Isto seria um levante contra “tudo isso que está aí” – o maldito padrão Fifa que não conseguimos alcançar e que nos humilha; nossa incapacidade histórica de fazer qualquer coisa honestamente, sem cobrar ou pagar propina; a economia que não anda; nossa ineficiência estrutural e nossa leniência crônica que nunca cumprem o que promete, que perdem prazos e desrespeitam contratos; nossa falência como nação que não consegue andar para frente em tantos aspectos essenciais; nossa incompetência em superar essa fenda social profunda que nos divide há séculos em duas castas que se odeiam, às vezes em silêncio, às vezes nem tanto.

Mas sabotar a Copa funcionaria também como uma espécie de autoexpiação pública e mundial, transformando nossas questões nacionais, internas, num inesquecível fiasco global. Como se a Copa do Mundo deixasse de ser uma festa para virar uma chibata. Como se o maior evento do planeta, que nos foi confiado e que nós brigamos para receber, não representasse um momento de alegria mas sim uma oportunidade de gerar constrangimento, vergonha, decepção e má publicidade.

Sorrir virou uma assunção de cretinice. Torcer pelas cores nacionais na Copa virou um crime. Exercer o gosto pelo futebol, um traço nacional, virou coisa de gente pusilânime.

O autor

Ao mesmo tempo, ver o Brasil mal retratado na imprensa de outros países virou uma alegria. Passamos a gostar da ideia de esfregar nossos aleijões na cara da audiência internacional – tendo especial regozijo ao ver a classe média do resto do mundo virar de lado e tampar o nariz. Adoramos jogar lama no próprio rosto. E convidamos os outros a nos enlamear também. Estamos torcendo para que as coisas funcionem mal, e para que tudo dê errado, e para que não consigamos fazer nada direito, para que tragédias aconteçam, para que tudo mais vá para o inferno.

Estamos vibrando com a derrocada daquilo que mais odiamos. E o que mais odiamos parece ser o Brasil. Como se o Brasil não fôssemos, tão e simplesmente, nós mesmos.

Tenho muita dificuldade de entrar nessa onda de autoimolação. E na inconsequência juvenil dessa postura “quanto pior, melhor”. Há um niilismo contido nesse pensamento, e um masoquismo meio piegas e vazio nessa proposta, um espírito de porco oco e doentio, que me desagradam profundamente. Talvez porque haja muita destruição aí – e eu seja um construtor. Talvez porque haja muita coisa prestes a ser posta abaixo, indiscriminadamente, e eu seja um criador que gosta de erguer obras. Não sou um demolidor de paredes. Então não consigo achar que botar fogo no circo com todo mundo debaixo da lona possa ser uma boa ideia. Talvez por já ter vivido fora do país, e visto o Brasil lá de fora. E por ter dois filhos brasileiros, que terão seu futuro próximo acontecendo por aqui. E por já estar vivendo meu 43. ano de vida. Já estou muito velho para achar que arrasar a terra possa facilitar o nascimento de alguma outra coisa sobre ela.

Fico imaginando esse mesmo pensamento noutros países. Cito apenas alguns. Você completa o quadro.

Na Copa de 2002, o Japão deveria, logo na abertura, fazer menção a seus crimes de guerra, que não foram poucos, pelos quais jamais se desculpou. Ou então alertar para o tratamento discriminatório até hoje imposto aos burakumin – pessoas que exercem profissões “impuras”, como coveiros e açougueiros. Ou protestar contra a xenofobia, e o sentimento de isolamento (quando não de superioridade) racial que ainda hoje permeia a sociedade japonesa.

A Coréia, no mesmo ano, deveria denunciar seu patriarcalismo opressor e a violência doméstica contra mulheres que é uma espécie de direito adquirido dos homens por lá até hoje – quase 60% das esposas afirmam sofrer algum tipo de abuso dentro de casa.

Os Estados Unidos deveriam ter encerrado a Copa de 1994 com uma apoteose em forma de perdão pela barbaridade das duas bombas atômicas que atiraram covardemente sobre a população civil de duas cidades, em nome de um teste científico (afinal, gente amarela não é gente, né?) e de um aviso nuclear aos novos inimigos. Foram 250 000 mortos, entre crianças, mulheres, bebês, velhos, gestantes, recém nascidos. Ou então a apoteose deveria representar uma elegia às populações indígenas americanas massacradas. Ou aos mortos de todas as ditaduras que os Estados Unidos apoiaram ao longo de décadas, inclusive ensinando as melhores técnicas para “prender e arrebentar”, para vigiar e punir e esganar. Os Estados Unidos também poderiam se retirar da Copa, e também das Olimpíadas, bem como de todas as competições internacionais em que costumam brilhar, em protesto contra o fato de serem a maior economia do mundo e até hoje não terem tido a capacidade de oferecer um sistema público de saúde universal aos trabalhadores que produzem essa riqueza toda – quase 50 milhões de americanos simplesmente não tem a quem recorrer se ficarem doentes.

A África do Sul, em 2010, deveria ter alardeado sua liderança mundial em estupros – 128 estupros por 100 000 habitantes. (Ah, sim. Na Nigéria, que receberemos esse ano, o estupro marital não é considerado crime. A delegação nigeriana, composta de maridos, deveria entrar no Itaquerão empunhando essa bandeira?)

A Itália e a Espanha, as duas últimas campeãs mundiais, nem deveriam vir à Copa. Na Itália, o desemprego entre os jovens é de 38,5% – no Sul, a região mais pobre do país, a taxa é de 50%. Ano passado, 134 lojas fechavam diariamente na bota – mais de 224 000 pontos já fecharam no varejo italiano desde 2008. Na Espanha, o desemprego está batendo em 30% na população em geral. Entre os jovens, já encostou também nos 50%.

Ou seja, se fossem países sérios, Espanha e Itália não perderiam tempo e recursos participando de um evento da Fifa, essa corja internacional, e se dedicariam com mais a afinco a resolver seu problemas, que são muito graves. Trata-se de países à beira da bancarrota. (Só para comparar, a taxa de desemprego no Brasil, esse fim de mundo em que vivemos, é de 4,9%). Os americanos, se merecessem os hambúrgueres que comem, deveriam usar a visibilidade da Copa, já que nem gostam de futebol mesmo, para chamarem a atenção para a tremenda injustiça e para o absurdo descaso que enfrentam em seu sistema público de saúde. E, se tivessem um pingo de vergonha na cara, espanhois e italianos se recusariam a vir para a Copa, a torcer por suas seleções na Copa, e se postariam de costas para os televisores e sairiam quebrando vitrines (das lojas que ainda lhes restam) a cada gol de Iniesta ou de Balotelli. Mais ou menos como estamos planejando fazer por aqui em represália aos êxitos de Neymar e cia.

Eis a lição que o Brasil está prestes a dar ao mundo.