quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Dica de Livros para as férias


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Na próxima semana, mais precisamente no dia 5 de janeiro, o escritor italiano Umberto Eco completa 80 anos. Para quem ainda não leu suas obras, uma dica: vale muito a pena.Eco, que é também filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo, domina a escrita como poucos e conduz o leitor por tramas intrincadas, bem construídas e cheias de intertextualidade. A reconstrução de épocas e cenários é outra de suas características marcantes.


Na área teórica, o escritor italiano começou a publicar ainda nos anos 1960, década na qual escreveu duas de suas mais conhecidas obras nessa área: Obra Aberta, em que parte do conceito básico de que toda obra de arte é aberta porque comporta diferentes interpretações, e Apocalípticos e Integrados. Ao todo, Eco soma mais de três dezenas de obras teóricas, com destaque ainda para Seis Passeios pelos Bosques da Ficção, de 1994, e Não Contem com o Fim do Livro, de 2010 (esse último, como coautor).

Como romancista, fez sua estreia em 1980, em grande estilo, com o conhecidíssimo O Nome da Rosa (que ganhou adaptação cinematográfica com Sean Connery), trama de suspense policial que se passa num mosteiro franciscano medieval. O momento histórico, a fé usada como desculpa para atos hediondos, os costumes da época, tudo permeia e enriquece a trama.

Outro romance do autor que merece destaque é o intrincado e instigante O Pêndulo de Foucault, de 1988, em que sociedades secretas estão envolvidas em um suposto plano para dominar o mundo. Mais uma vez, a escrita não se resume ao enredo em si: há muitas informações e referências, trechos de livros antigos e raros, referências à cabala e à alquimia, entre outros elementos que dão mais sabor e conteúdo ao livro.

O terceiro romance de Umberto Eco é A Ilha do Dia Anterior, badaladíssimo na época do lançamento, em 1994 (lembro-me que esperei semanas na fila para conseguir retirá-lo em uma locadora de livros). Dessa vez, o que move a história não são crimes ou conspirações: o enredo é construído ao redor de um jovem piemontês que sofre um naufrágio nos mares do sul. Ele vai parar em uma ilha onde, supostamente, se encontraria a linha de mudança do fuso horário. Isolado, ele passa a rememorar questões filosóficas e culturais, como a própria mudança do tempo - já que, na tal ilha, bastaria dar um passo atrás e estaria no dia anterior.

Mais recentemente, Eco voltou a frequentar as listas de mais vendidos com seu novo romance, O Cemitério de Praga - que já era sucesso em vários países desde o ano passado e foi publicado apenas em 2011 no Brasil, pela Record. Nesse livro, o autor volta a utilizar-se de seitas e sociedades secretas, conspirações e crimes, levando o leitor até a Paris do final do século 19 e passando ainda por Turim e Palermo. Personagens reais, como Sigmundo Freud e Giuseppe Garibaldi, mesclam-se com personagens fictícios, em especial o protagonista, Simone Simonini, um italiano de humor ácido com julgamentos de mundo bem peculiares.

Esse lado satírico do personagem não poupa ninguém. Os jesuítas, declara o protagonista em certo ponto, são "maçons vestidos de mulher" - o que provocou protestos de setores da Igreja Católica. Mas Simonini também não gosta dos judeus (o livro aborda de certa forma o surgimento do antissemitismo), de quem diz ter aprendido diversos adjetivos pouco elogiosos com o avô ("além de vaidoso como um espanhol, ignorante como um croata, cúpico como um levantino, ingrato como um maltês, insolente como um cigano...", enumera à página 14), dos alemães ("até trabalhei para eles: o mais baixo nível concebível da humanidade"), os franceses ("desde que me tornei francês, compreendi que meus novos compatriotas são preguiçosos, trapaceiros, rancorosos, ciumentos, orgulhosos além de todos os limites"), as mulheres e até os próprios italianos. Ninguém escapa da língua ferina do personagem.

A leitura das mais de 470 páginas não é fácil, mas é, com certeza, compensadora. Como declarou o jornal italiano La Repubblica: O Cemitério de Praga é "uma obra destinada a se tornar um clássico".


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