sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A fome é uma vergonha a menos para o Brasil



Pela primeira vez, o País deixa o mapa da fome das Nações Unidas.






Kelly Caetano e os filhos: livres das agruras vividas pela mãe.


A diarista Kelly Cristina Caetano, de 44 anos, vive em um apertado barraco em Cidade Estrutural, comunidade erguida no entorno de um lixão do Distrito Federal. Basta um carro passar pela rua de terra batida para uma espessa nuvem de poeira vermelha recobrir o casebre. As paredes de madeira compensada mostram-se incapazes de aplacar o calor que castiga o Centro Oeste nesta época do ano. Tampouco protegem a família dos ataques de ratazanas. “Meu filho chegou a ficar internado após receber uma mordida. Fiquei desesperada, a mão dele inchou e não parava de sangrar”, conta. Apesar das agruras, Kelly demonstra uma inabalável confiança num futuro melhor. “Agora estamos bem melhor. Ao menos não falta comida em casa”.

Franzina e com a pele precocemente envelhecida, Kelly conhece bem a anatomia da fome. Deu a luz a 12 filhos, e buscou alimentá-los como pôde. “Muitas vezes, não tinha nem arroz ou feijão. Passávamos dias comendo polenta de fubá. Quando faltava o leite das crianças, batia chá com biscoito de maisena no liquidificador”, diz, sem esconder o desconforto. Um de seus filhos morreu bebê, por não resistir a uma infecção hospitalar. O mais novo, Augusto, de seis anos, nasceu com encefalopatia, espécie de paralisia cerebral. Para cuidar do menino, ela teve de recusar ofertas de emprego. A família depende do trabalho do marido, que faz bicos de pedreiro. Renda fixa? Só os repasses de programas socais, como Bolsa Família e DF Sem Miséria. “Sem isso, ainda estaríamos à base de fubá.”

A diarista e sua família integram um contingente de 15,6 milhões de brasileiros que superaram a subalimentação desde o início dos anos 2000. O feito permitiu ao Brasil abandonar o vergonhoso mapa mundial da fome, revela o último relatório sobre segurança alimentar da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), divulgado na terça-feira 16. Hoje, apenas 1,7% da população não sabe se terá garantida a próxima refeição. Ainda que isso represente 3,4 milhões de bocas famintas, o País é apontado como uma referência mundial no combate à fome pela forte redução verificada nas últimas décadas. Em 1990, 25 milhões de cidadãos estavam subalimentados, 15% dos habitantes do País.


“O Brasil sempre foi um país da geografia da fome, como nos alertava Josué de Castro, desde a década de 1940. Mas fez um avanço extraordinário nos últimos anos, talvez o melhor progresso do mundo, e conseguiu superar o problema”, afirma Jorge Chediek, coordenador das Nações Unidas no País. “Para ter segurança alimentar, o mais importante é garantir acesso aos alimentos. Os mais pobres precisam de dinheiro para comprá-los, e os programas de transferência de renda implantados na última década tiveram grande êxito nessa tarefa”, emenda Alan Bojanic, representante da FAO no Brasil.

Nos anos 1990, perto de 3,5 milhões de brasileiros deixaram de passar fome, uma redução de 15,6%. O maior avanço verifica-se, porém, na década seguinte. Desde 2000, o Brasil retirou 15,6 milhões de cidadãos da subalimentação, um recuo de 82,1%. O indicador da FAO considera três dimensões. Primeiro, a disponibilidade de alimentos para consumo humano em cada nação. Depois, o número de calorias necessárias para cada indivíduo estar bem nutrido. O terceiro aspecto tem a ver com o acesso à comida. Nesse ponto o País conseguiu o maior avanço.

“O Brasil nunca teve problema para produzir alimentos. A produção brasileira dá para alimentar meio mundo”, explica Daniel Balaban, diretor do Programa Mundial de Alimentos. “O problema é que os mais pobres não tinham poder de compra”. Por isso, a FAO destaca os gastos federais nos planos de segurança alimentar, que totalizaram 78 bilhões de reais em 2013. Apenas o Bolsa Família transferiu 25 bilhões de reais para 13,8 milhões de domicílios de baixa renda no ano passado.

De 1990 a 2012, a parcela da população em extrema pobreza passou de 25,5% para 3,5%, registra o relatório. Desde 2011, ao menos 22 milhões de brasileiros foram retirados da miséria. O recente avanço é atribuído a mudanças no desenho do Bolsa Família, que permitiram a elevação dos valores pagos às famílias mais pobres, de forma que todos os beneficiários do programa tenham renda per capita superior a 1,25 dólar por dia, linha usada pelo Banco Mundial para definir quem está em situação de pobreza extrema. Ou seja, apenas os brasileiros que ainda não foram incluídos no Bolsa Família permanecem miseráveis.

“O desafio, agora, é universalizar a cobertura dos programas sociais”, diz Balaban. De forma residual, a fome persiste no país em comunidades de difícil acesso: indígenas, ribeirinhos, quilombolas. Além dos programas de transferência de renda, o êxito brasileiro se deve a melhora de outros indicadores, como a geração de empregos formais e a elevação do salário mínimo. A FAO destaca ainda o sucesso do Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar e do Programa Nacional de Alimentação Escolar, responsável pela oferta de merendas a mais de 43 milhões de crianças e adolescentes. Este último ponto é um dos principais responsáveis pela saída do Brasil do mapa da fome.

“Sempre usamos como base a Pesquisa de Orçamento Familiar do IBGE, que não contemplava o enorme contingente daqueles que se alimentam fora de casa, na escola, no trabalho, nos restaurantes populares”, diz Bojanic. “Neste ano, pudemos incluir esta variável em todos os países monitorados pela FAO.”

Pela nova metodologia, desde 2006 o Brasil tem menos de 5% da população subalimentada, porcentual considerado residual pelas Nações Unidas. “Mesmo países desenvolvidos, como os EUA e o Japão, têm seus bolsões de pobreza, onde a fome persiste. Não estamos dizendo que não há mais famintos no Brasil, apenas registramos que ele superou a fome estrutural”, diz a nutricionista norte-americana Anne Kepple, consultora da FAO.

A ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, reconhece que a mudança na metodologia favoreceu o Brasil. Destaca, porém, que as aferições anteriores desconsideravam um importante instrumento de acesso à comida. “Todos os dias, as escolas públicas oferecem refeições a um contingente de estudantes do tamanho da população argentina.”

Matriculado na Escola Classe 2, em Cidade Estrutural, João Pedro, de 10 anos, filho da diarista Kelly Caetano, recebe quatro refeições durante o período de estudo. “Ele chega em casa sem fome nenhuma, às vezes nem quer jantar”, comenta a mãe. “Além disso, passa o dia todo em segurança na escola”. A preocupação não é à toa. Dos 12 filhos de Kelly, três morreram assassinados.

“Há alguns anos, eu e meu marido estávamos desempregados. Faltava tudo dentro de casa, e várias vezes deixei de comer para não faltar comida aos meus filhos”, comenta Márcia Gomes de Oliveira, que tem duas filhas matriculadas na mesma escola. No período de maior dificuldade, o casal trabalhou por dois meses no lixão do bairro. “Passei muito mal, vomitava várias vezes. Quando fui ao posto de saúde, descobri que estava grávida de minha quarta filha”. Com o auxílio de programas sociais, a família conseguiu progredir. Hoje, Márcia trabalha em uma lanchonete e o marido é açougueiro. “Felizmente, não sabemos mais o que é fome há uns bons anos”.

Um recente estudo liderado por Patrícia Jaime Constante, coordenadora de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, avaliou o impacto do Bolsa Família na redução da desnutrição aguda (déficit de peso) e da desnutrição crônica (déficit de estatura) entre os beneficiários com menos de 5 anos. “As equipes de saúde verificam a evolução do crescimento dessas crianças duas vezes por ano”, diz Constante. “O grupo pesquisado corresponde à parcela mais pobre e vulnerável do País.”


O estudo revelou uma queda expressiva da desnutrição, mas desnuda uma prevalência muito maior de casos nas regiões Norte e Nordeste, onde o déficit de estatura ainda é identificado em 19,2% e 12,6% das crianças monitoradas, respectivamente. Coautora do estudo, Leonor Maria Pacheco Santos, professora do Departamento de Saúde Coletiva da UnB, destaca a necessidade de reforçar políticas específicas para as regiões mais vulneráveis. “O desafio é ainda maior no Norte, onde a miséria resiste em áreas de difícil acesso. Às vezes, as expedições alcançar essa população na Amazônia demoram dias.”

Santos ressalta, contudo, um grande avanço no Nordeste. “No início dos anos 1980, a região passou por um prolongado período de seca, semelhante ao que observamos nos últimos anos. Só que, agora, não houve crescimento da mortalidade infantil. Só os animais morreram”, compara. “Naquela época, houve um verdadeiro genocídio infantil. As famílias nem se davam ao trabalho de registrar as crianças no cartório. Esperavam elas completarem dois anos de idade, aí sim diziam que o filho ‘vingou’. Os bebês que não resistiam eram sepultados em registro algum. Os familiares tocavam um sininho e diziam que mais um anjinho foi para o céu.”

A ministra do Desenvolvimento Social reconhece a necessidade de criar políticas específicas para alcançar as populações vulneráveis em áreas remotas. “Quando criamos o Bolsa Família, pensamos num programa de abrangência nacional, que não demorasse a trazer resultados no combate à fome e à miséria. Deu certo. Agora, precisamos de ações mais focadas”.

Campello destaca ainda o desafio de melhorar a assistência médica às gestantes e aos recém-nascidos. “Decidimos aumentar o valor dos benefícios pagos às mulheres durante a gestação, para que elas se alimentem melhor. Em contrapartida, elas precisam iniciar o pré-natal mais cedo. Além disso, no Nordeste, decidimos aplicar superdoses de vitamina A junto ao vacinar as crianças, além de oferecer complementação de sulfato ferroso”.

Um novo desafio, avalia a ministra, surgiu: melhorar a qualidade da nutrição do povo. “Não há como ignorar o rápido crescimento da obesidade em todos os segmentos sociais. Precisamos cuidar melhor das merendas escolares, reduzir os teores de sal, gordura e açúcar dos alimentos industrializados, avançar da regulamentação da publicidade de alimentos dirigidos às crianças”.

Atualmente, metade da população adulta está com sobrepeso e 17,5% é obesa. A realidade mudou.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Frases do Dia




“(…) Aí estão os racismos social e estrutural perpetuando estereótipos…Aprendemos por experiência também que, sempre que nos manifestamos, há a vontade de nos colocar de volta em nossos devidos lugares de experimento, de meros personagens, de seres desqualificados para o debate. Porque negros inteligentes são aqueles que, dando um passo atrás, concordam com e premiam a inteligente máquina colocada e mantida em momento para perpetuar o racismo (…)”

(Ana Maria Gonçalves, escritora, autora do livro Um Defeito de Cor, em artigo publicado no caderno PrOA deste domingo, ao destacar, com razão, que a reação do negro a uma ofensa ainda é encarada com espanto e surpresa pela sociedade, como se ele tivesse a obrigação de perpetuar a imagem do ser humano conformado, incapaz de reagir às agressões)

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Mussum e o País ingênuo que não existe mais



Vinte anos após a morte do humorista, a sua imagem é hoje usada por quem se ressente por não poder esculachar minorias sem provocar ofensas


Quem acompanhou as homenagens ao humorista Antonio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum, morto há exatos 20 anos, imagina que o Brasil era um lugar puro, ingênuo e agradável no tempo dos Trapalhões. Não havia maldade, não havia patrulha, não havia preconceito. Tal qual Adão e Eva no Paraíso, toda a maldade estava nos olhos de seus criadores, os chatos que inventaram de inventar o pecado e a escuridão e transformaram brincadeira em ofensa e alegria, em constrangimento.

Por algum motivo, o histórico dos Trapalhões se tornou exemplo de como era possível viver em harmonia, sem patrulhas nem amarras politicamente incorretas, até bem pouco tempo atrás. A perda dessa “inocência” é lamentada por quem vê no Mussum, um ator e músico de talento incomparável, o símbolo de um período permissivo, libertário e saudável. Um tempo em que o da poltrona podia ver um negro alcoólatra sacaneando um cearense cabeça chata, que sacaneava o travesti desbocado, que sacaneava o negro banguela.

É sempre delicado analisar, de forma isenta, o que formou e faz parte da nossa memória afetiva. Os Trapalhões são parte dessa memória, pelo menos da minha, que passei boa parte da vida chegando em casa ansioso depois dos passeios de domingo para assistir ao programa da TV Globo. Até hoje me pego rindo à toa das esquetes, algumas disponíveis no YouTube graças às almas mais altruístas. Mas me incomoda um discurso comum entre os antigos fãs do quarteto: naquele tempo não tinha maldade. Como me incomoda o uso da imagem do Mussum como prova desse discurso: “Olha só, batíamos nele e ele nem ligava”.

Aparentemente não ligava mesmo, e isso torna a discussão ainda mais complicada – algo como “se ele não se ofendia, quem sou eu para me ofender por ele?” Mas, zapeando pela internet, encontrei recentemente uma entrevista antiga do comediante à revista humorística Casseta. Me perguntei se aquela entrevista seria aceita hoje e os porquês. Foi o encontro de dois tipos de humor, que tiveram o seu tempo, e hoje talvez não produzissem o mesmo efeito por um motivo simples: evoluímos. Aos trancos, e não na velocidade ou totalidade que deveríamos, mas evoluímos.

Na entrevista é possível rir em muitos momentos e vivenciar o clima de despojamento da época e do bar onde foi gravada. Mas há uma certa melancolia ao tropeçar no velho humor sexista e homofóbico do Casseta e Planeta, grupo que fez sucesso nos anos 1990 sem que parte dos seus integrantes tivesse saído da fase anal. A cada quatro perguntas, três tinham alguma pegadinha de duplo sentido. Você deu? Sentou? Entrou? É chegado? É de fora pra dentro? E gargalhadas.

Alguém, certificando-se de não estar sendo vigiado, poderia confessar: “Foi engraçado, vai?”. E outros poderiam dizer: engraçado para quem?

Na história dos movimentos sociais, só quem sofreu todos os preconceitos na carne (ou na pele) pode dizer quantos anos foram congelados no tempo graças às piadas que ridicularizavam determinados tipos sociais. Quantos anos de luta e sofrimento foram desmoralizados pela ofensa preservada no estereótipo da bicha louca, do negro burro, do judeu (ou o turco/árabe) muquirana, da vizinha devassa?

No caso do Mussum, apelido dado por Grande Otelo em referência a um peixe liso, a história é um pouco mais complexa. Primeiro porque nem ator nem personagem eram totalmente ingênuos, como hoje parecem ser lembrados. O primeiro aprendeu a se virar desde cedo, quase sempre em grupo, no morro, no bar, na Aeronáutica, no teatro, na roda de samba, no estúdio da tevê. O segundo rebatia provocações e não levava desaforo para casa – “negro é seu passado”.

A negação à questão causava desconforto aos grupos antirracismo já na época. Na entrevista, Mussum comentava a reação do movimento negro a uma frase de Renato Aragão ao ver integrantes de sua família em uma piscina: "Pensei que fosse uma sopa de berinjela”. Mussum dizia não entender a gritaria. Argumentava que também sacaneava os cearenses, caso do colega, chamando-os de cabeça de passar roupa. E que ninguém se ofendia por isso. Talvez seja esse o fator de nostalgia de quem hoje vê no período um tempo de inocência: o tempo em que uma minoria podia sacanear outra minoria em canal aberto e ninguém dizia se ofender por isso.

Na mesma resposta, Mussum dizia não aceitar as críticas de que não ajudava os negros, e citava como exemplo o fato de alimentar vários deles em sua casa. E terminava dizendo estar disposto a debater o racismo apenas em casos de discriminação expressas, caso alguém dissesse, por exemplo, ter sido proibido de entrar em determinados lugares por causa da cor.

A entrevista é de outubro de 1991. Mussum já havia visto e vivido muito da vida. Consolidara uma carreira brilhante com uma generosidade ímpar, como atestam todos os testemunhos sobre ele desde a sua morte. Mas não parecia ter se dado conta a tempo do quanto servia a um discurso violento, que na prática, e fora das telas, provocava mais choro do que gargalhada – ao menos para quem era diariamente maltratado e/ou ridicularizado por causa da cor da pele.

O Brasil dos tempos dos Trapalhões, como o Brasil de hoje, não era um País inocente. Era um País onde a maioria da população era negra ou morena, mas não era maioria nas universidades, nos postos de destaque de empresas, nos gabinetes públicos, nos sistemas de representação, na produção científica, nos tribunais e até nos shoppings. Era maioria, no entanto, nas ruas, nos grupos de jovens abandonados, nos morros, nas cadeias, nas fotos com tarja preta dos jornais.

No Brasil do tempo dos Trapalhões, como o Brasil de hoje, poucos admitiam ter preconceito, e poucos seriam capazes de barrar a entrada de alguém em um espaço público pela cor da pele. Como hoje, e como em outros países, havia quem atirasse bananas para jogadores negros ou mulatos no campo, mas só porque eram, como ainda são, protegidos pelo anonimato da arquibancada.

Ao pé do ouvido, e certificando-se de não estar sendo vigiado, havia, como ainda há, quem colocasse em prática os mecanismos invisíveis de seleção, a começar dentro de casa, na escolha das companhias dos filhos (sobretudo das filhas), no discurso de dois pesos e duas medidas a depender da cor de quem prestava um serviço (ou uma barbeiragem no trânsito ou um chute torto no jogo de futebol) ou nas piadas inocentes que mantinham todos na mesma posição herdada dos avós, quando a escravidão formal fora substituída por outras formas de escravidão.

Naquele Brasil, o personagem negro e alcoólatra sacaneava o cearense cabeça chata, que sacaneava o travesti desbocado, que sacaneava o negro banguela – para alegria dos patrões brancos que não entravam na trama.

O Brasil de hoje não é tão diferente do Brasil dos Trapalhões, mas o acumulado de anos, lutas, instrumentos de políticas públicas, campanhas e debates começam a produzir um mínimo de constrangimento a velhas gracinhas antigamente aceitas e transmitidas de pais para filhos.

Tempos atrás, o integrante de uma banda de um stand up comedy abandonou o espetáculo ao ser chamado de “macaco” por um comediante branco diante de uma plateia de maioria branca. Esses são os tempos de consciência que a casa grande confunde com hipocrisia: os tempos em que os anos de sofrimento e luta não estão expostos para o riso, nem dos amigos, nem da plateia. Uma pena que Mussum não tenha vivido para ver. E uma pena que sua imagem, entre genial e inocente, seja usada hoje para apelos ao retorno de outros tempos: os tempos em que a risada era a única arma disponível contra o esculacho dos séculos de escravidão não abolida.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Frase do Dia



“Quando os ricos ganham mais dinheiro, é crescimento. Quando nossos salários aumentam, é inflaçāo.”

(Cartaz exibido por um manifestante durante simpósio do Banco Central dos Estados Unidos, em Wyoming. Foi lá, na economia do país de Obama, mas serve para muitas outras regiōes, inclusive aqui no Brasil. Nāo é o mesmo argumento usado por empresários e economistas sempre que se discute aumento de salário nos dissídios coletivos?)