sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Frase do Dia



"Os homens distinguem-se pelo que fazem, as mulheres pelo que levam os homens a fazer".




Carlos Drummond de Andrade

Papo cabeça com Nereu




Final de tarde na Londres Catarinense, chuva caindo de mansinho como um lenço de seda rasga a atmosfera até chegar ao solo. Neste verão que mais parece outono, caminho pelas calçadas centrais, observando nossa arquitetura europeia do início do século 20.
Deixei pra trás a “Cathedral”, uma anciã nos dias hoje com templos gigantescos de algumas religiões. Ao dobrar à esquina do antigo Café Ouro, onde reuniam-se “os bois de botas” para discutir política e tomar um bom café, encontro nosso mais ilustre cidadão, Nereu Ramos!
- Nereu, Nereu...
- Boa tarde ou boa noite como queira...
- Que difícil te encontrar, ainda mais nesses dias!
- Que dias meu jovem!?!
- Dias turbulentos que nos afligem. Somos cidadãos catarinenses a mercê de uma política incipiente e...
- Calma meu filho! É por isso que estou aqui.
- Não entendo?!
- Voltei pra averiguar o andamento da nossa política. É bem verdade que estou afastado já faz alguns anos, mas voltei pra me atualizar.
- Bem, espero que esteja com à saúde em dia!
- E por falar em saúde, como está?
- Nos prometeram um hospital novo nas últimas eleições, lá na capital. Falta hospital em todo o estado, faltam médicos e enfermeiros, além de equipamentos.
- Não acredito! Quando era “interventor do estado” em locais onde não possuía hospitais, colocava médicos e “parteiras” para toda a vila.
- É, e naquele tempo era difícil conseguir médicos...
- Muito difícil mesmo, porque pra estudar medicina a pessoa deveria sair de casa e ir para São Paulo ou Rio de Janeiro. Ainda é assim por aqui?
- Não, não!!!
- Mas então porque faltam médicos para pessoas doentes?
- Pois é Nereu, todo mundo se pergunta isso. Temos várias escolas de medicina espalhadas pelo estado e mesmo assim há vagas.
- Que contrassenso, né! E por falar em escolas, como vai a educação e cultura no nosso estado?
- Vão de mal a pior!
- Mas que bagunça andaram fazendo quando estive fora...
- É Nereu...educação e cultura perderam espaço já faz um bom tempo.
- Quando era “Interventor do Estado”, sempre conversava com quem entendia do assunto, conversava com Cruz e Souza, Thiago de Castro troquei cartas até com Érico Veríssimo. E naquele tempo mandar uma carta demorava semanas e o pior era ficar esperando a resposta, isso sim me matava, sou curioso e angustiado. Hoje em dia demora pra vir as cartas?
- Hoje o sistema mudou um pouco...trocamos cartas de papel por e-mail.
- I...o que isso!
- Deixa pra lá, outro dia te conto. Mas a informação hoje é mais rápida.
- Quando queria fazer algo, como construir uma escola ou melhorá-la, à cavalo, de navio, mandava carta, telegrama. E hoje, que é mais fácil como está me dizendo, porque há tantos problemas? O que estão fazendo com esse estado que amo tanto!
- Nossos políticos competem por audiência, por fama, dinheiro, tornam-se celebridades e povo...
- Já estou vendo meu filho, já estou vendo!!!
- É Nereu, bons tempos àqueles seus em que podíamos confiar em políticos...


segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Som da Tarde

The Rolling Stones : Sympathy For The Devil (live) pra vocês curtirem!!!


P. H. Amorim entrevista Amaury Ribeiro Jr.

Paulo Henrique Amorim entrevista Amaury Ribeiro Jr. sobre o livro A Privataria Tucana, que desnuda com documentos a corrupção e a lavagem de dinheiro praticadas por pessoas ligadas a José Serra durante a privatização de empresas públicas pelo governo Fernando Henrique Cardoso, do PSDB.



Amores de Verão: ombro





Depois de muito ponderar, Atílio decidiu:

Vou lamber esse ombro.

Considerou que era uma decisão madura, refletida e, por que não dizer?, sensata. Havia meses que desejava lambê-lo. Ao ombro. E também ao restante de sua proprietária, claro. Agora ambos, ombro e proprietária, estavam centímetros à sua frente. Atílio, a dona do ombro e todos os outros funcionários do escritório tinham sido reunidos pelo chefe, que fazia um comunicado qualquer. O chefe falava no meio da sala, os funcionários ouviam de pé.

Quer dizer: ouviam é força de expressão. Atílio não ouvia nada. Sua atenção, sua alma, seus sentidos tinham sido monopolizados pelo ombro dourado e nu que se oferecia a meio palmo de seu queixo. Atílio analisou-o acuradamente. Seguiu com o olhar a curva suave que descia rumo ao braço. Despencou quase até o cotovelo. Subiu de volta. Deslizou pela depressão formada pela omoplata. Escalou o pescoço delgado e elegante. Retornou outra vez para o centro do ombro adorado. Inalou seu perfume. Oooh. Ela era divina.

Atílio apoiou o peso do corpo em um só pé. Diminuiu ainda mais a distância entre ele e o ombro. Tão lindo, macio e brilhante, tão apetitoso... Atílio sentia-se emocionado. Tamanha perfeição não podia ficar relegada. Um ombro assim perfeito fora criado para dar prazer. Sim, devia lambê-lo. Sim! É o que iria fazer.

Mas, pensando bem, lambê-lo seria a melhor opção? Por que não morder de uma vez? Lógico! Com uma boa mordida, o mordedor capta sensações através não apenas dos dentes, mas também da língua e dos lábios. Serviço completo. Morder, esta é a solução. Morder! NHAM!

Atílio chegou a abrir a boca, chegou a sentir a textura da carne tenra nos molares. Até lembrar de um único senão: uma mordida talvez fosse agressiva demais.

É.

A dona do ombro pode se assustar, gritar, passar para o desforço físico, o que provavelmente não seria bem compreendido pelo pessoal do escritório. Seria um escândalo. Os colegas o chamariam de tarado, o chefe ficaria furioso, ela o acusaria de assédio sexual, e sua mulher, que agora estava na praia com seu filho Cuquinha, descobriria tudo em menos de 12 horas e se separaria dele. Sua vida acabaria ali, com uma simples mordiscada. Não, melhor descartar a mordida. Atílio congratulou a si mesmo pelo seu bom senso. Como uma ideia de tal forma espaventosa pôde germinar em seu cérebro sempre sensato? Só podia ser o verão. O verão fazia isso com ele. O maldito verão com suas minissaias, suas miniblusas, seus ombros expostos.

Aiaiai.

Quem sabe um beijo? Iiiisso, um beijo doce e cândido. Um beijo é um carinho. Impossível recriminar um beijo. Já estava vendo a dona do ombro a suspirar. Ela exclamaria assim:

– Ó!

Atílio aprontou o biquinho. Curvou a nuca. Ia beijar. Mas cogitou: peraí, um beijo em uma superfície lisa como um ombro é tão-somente um roçar de lábios no tecido. Pouco prazer para tanto risco. Além disso, será que um beijo é de fato totalmente seguro? Afinal, há que se computar o fator surpresa. Poucas mulheres estão acostumadas a receber beijos no ombro durante reuniões de trabalho. O inusitado da ação talvez a assuste. Então, que seja uma lambida mesmo, um saudável intermediário que não será agressivo como uma mordida, nem insosso como um beijinho.

Lamber! Schlep!

Atílio sorriu, antegozando o prazer. Começou a salivar. Tirou a linguona para fora. Respirou fundo. E...

...e ela se virou. Virou-se de frente para ele, para seu imenso espanto. Sorria. Parecia feliz. Aproximou-se dele. Cada vez mais, cada vez mais. E... o beijou! Beijou-o nas faces. Uma, duas, três vezes. Sorria, ainda. Falou, enfim:

– Parabéns, Atílio!

Hein? Parabéns? Ele arregalou os olhos. Estava pasmado. Olhou no entorno. Todos sorriam, observando-o. O chefe sorria também.

– Uma bela promoção – a frase saiu do rosto sorridente de um dos colegas.

Promoção? Que promoção? O chefe! O motivo da reunião! Ele, Atílio, tinha sido promovido! Todos o cumprimentavam. Parabéns, parabéns. Atílio sentiu-se despertando. Sorria, agora. Agradeceu a todos. Agradeceu ao chefe. Voltou a olhar para ela. Que continuava sorrindo. Um sorriso diferente de todos os que lhe oferecera até então. Um sorriso em que dançava uma luz maliciosa, uma luz que, Atílio queria crer, era de promessas.

– Parabéns – repetia ela, sem parar. – Parabéns.

Devia ser mesmo uma belíssima promoção.

– Que é isso... – dizia ele, satisfeito.

Sorriu para ela, para a luz em seus olhos. Deixou seu olhar passear mais uma vez por aquele ombro dourado e nu. E agradeceu a Deus por ser verão.

* Texto publicado por David Coimbra, no Jornal Zero Hora em fevereiro de 2002.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Fim da Guerra no Iraque!!!

É possível governar sete bilhões de pessoas?


Texto de Leonardo Boff


Tratamos já do desafio de como alimentar sete bilhões de pessoas. A escalada da população humana é crescente: em 1802 éramos um bilhão; em 1927, 2 bilhões, em 1961, 3 bilhões, em 1974, 4 bilhões, em 1987, 5 bilhões, em 1999, 6 bilhões e, por fim, em 2011, 7 bilhões. Em 2025, se o aquecimento abrupto não ocorrer, seremos 8 bilhões, em 2050, 9 bilhões e em 2070, 10 bilhões. Há biólogos como Lynn Margulis e Enzo Tiezzi que vem nesta aceleração um sinal do fim da espécie à semelhança das bactérias, quando colocadas num recipiente fechado. (capsula Petri). Pressentindo o fim dos nutrientes se multiplicam exponencialmente e então subitamente todas morrem. Seria a última florada do pessegueiro antes de morrer?

Independentemente desta ameaçadora questão temos o instigante desafio: como governar 7 bilhões de pessoas? É o tema da governança global, quer dizer, um centro multipolar com a função de coordenar democraticamente a coexistência dos seres humanos na mesma patria e Casa Comum. Esta configuração é uma exigência da globalização, pois esta implica o entrelaçamento de todos com todos dentro de um mesmo e único espaço vital. Mais dia menos dia, uma governança global vai surgir pois é uma urgência improstergável para enfrentar os problemas globais e garantir a sustentabilidade da Terra.

A idéia em si não é nova. Como pensamento, estava presente em Erasmo e em Kant mas ganhou seus primeiros contornos reais com a Liga das Nações, após a Primeira Guerra mundial e defitivamente depois da Segunda Guerra Mundial com a ONU. Esta não funciona por causa do veto antidemocrático de alguns países que inviabilizam qualquer encaminhamento global contrario a seus interesses. Organismos como o FMI, o Banco Mundial, a Organização Mundial do Comércio, da Saúde, do Trabalho, das Tarifas, do Comércio (GATT) e a UNESCO expressam a presença de certa governança global.

Atualmente, o agravamento de problemas sistêmicos como o aquecimento global, a escassez de água potável, a má distribuição dos alimentos, a crise econômico-financeira e as guerras estão demandando uma governança global.

A Comissão sobre Governança Global da ONU a define como “a soma das várias maneiras de indivíduos e instituições, públicas e privadas, administrarem seus assuntos comuns e acomodarem conflitos e interesses diversos de forma cooperativa. Envolve não só relações intergovernamentais, mas também organizações não-governamentais, movimentos de cidadãos, corporações multinacionais e o mercado de capitais global”(veja o respectivo site da ONU na internet).

Esta globalização se dá também em nivel cibernético, feita por redes globais, uma espécie de governança sem Governo. O terrorismo provocou a governança securitária nos paises ameaçados. Há um governança global perversa que podemos chamar de governanca do poder corporativo mundial feita pelos grandes conglomerados econômico-financeiros que se articulam de forma concêntrica até chegar a um pequeno grupo que controla cerca de 80% do processo econômico. Isso foi demonstrado pelo Instituto Federal Suiço de Pesquisa Tecnológica (ETH) que rivaliza em qualidade com o MIT e entre nós divulgada pelo economista da PUC-SP Ladislau Dowbor. Esta governança não se dá muito a conhecer e a partir da economia influencia fortemente a política mundial.

Estes são os conteúdos básicos de uma governança global sadia: a paz e a segurança, evitando o uso da violência resolutiva; o combate à fome e à pobreza de milhões; a educação acessível a todos para serem atores da história; a saúde como direito humano fundamental; moradia minimamente decente; direitos humanos pessoais, sociais, culturais e de gênero; direitos da Mãe Terra e da natureza, preservada para nós e para as futuras gerações.

Para garantir estes mínimos, comuns a todos os humanos e também à comunidade de vida, precisamos relativizar a figura dos Estados nacionais que tendencialmente irão desaparecer em nome da unificação da espécie humana sobre o planeta Terra. Como há uma só Terra, uma só Humanidade, um só destino comum, deve surgir também uma só governança, una e complexa, que dê conta desta nova realidade planetizada e permita a continuidade da civilização humana.



sábado, 17 de dezembro de 2011

Nomes exóticos!!!


Se você vai ter filho e ainda não sabe que nome escolher, então acesse este "sítio"  e veja os nomes mais exóticos...


Cuidado com as Vovós!!!

Da série Vídeos para começar bem o dia: o de hoje mostra, com clareza, que muitas vezes as aparências enganam – e como enganam. É uma campanha da Volks, mostra uma senhora e seu carrinho de estimação e dois homens examinando todos os detalhes. Eles chegam à conclusão de que é um grande negócio, exatamente por ser carro de uma idosa, daqueles que quase não deixam a garagem. Bom, a história não é bem assim.




Frase do Dia

“Todas as mudanças, mesmo aquelas pelas quais ansiamos, têm sua melancolia. O que deixamos para trás é uma parte de nós mesmos. Precisamos morrer em uma vida antes de entrarmos em outra.”

 Anatole France

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Livro de jornalista acusa Daniel Dantas de pagar propina a tucanos

Eliano Jorge
Terra Magazine


O livro A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr, anuncia e promete, com documentos, comprovar pagamentos de propinas durante o processo de privatizações no Brasil, num esquema de lavagem de dinheiro com conexões em paraísos fiscais que, de acordo o autor, une membros do PSDB, como o ex-ministro da Saúde e ex-governador paulista José Serra, ao banqueiro Daniel Dantas.


As denúncias chegam às bancas neste fim de semana. No livro e como tema de capa da revista CartaCapital. Em entrevista a Terra Magazine, Ribeiro Jr afirma ter rastreado o dinheiro. "Esses tucanos deram uma sofisticação na lavagem de dinheiro. Eram banqueiros, ligados ao PSDB", acusa. "Quem estava conduzindo os consórcios das privatizações eram homens da confiança do Serra", acrescenta.


"É um saque (financeiro) que eles fizeram da privatização brasileira. Eles roubaram o patrimônio do País, e eu quero provar que eles são um bando de corruptos", dispara Ribeiro Jr. "A grande força desse livro é mostrar documentos que provam isso".


Durante a corrida presidencial de 2010, Ribeiro Jr foi indiciado pela Polícia Federal, acusado de participar de um grupo que tentava quebrar o sigilo fiscal e bancário de políticos tucanos.


Por três vezes, Terra Magazine fez contato com a assessoria de Serra na tarde e no início de noite desta sexta-feira (9) em busca de ouvir o ex-governador de São Paulo a respeito das denúncias. Às 20h, a reportagem recebeu a resposta de que Serra não se pronunciaria a respeito.


Confira a entrevista com o autor de A Privataria Tucana.


Terra Magazine - Seu livro denuncia um esquema de corrupção que teria sido comandado por amigos e parentes do ex-governador José Serra. No seu entender, como isso funcionava?
Amaury Ribeiro Jr - Eu tô há 20 anos, como diz o próprio livro, vendo essas contas, rastreando tudo. Eu apurava matérias de direitos humanos, depois virei um especialista (em lavagem de dinheiro). O tesoureiro do Serra, o Ricardo Sérgio, criou um modus operandi de operar dinheiro do exterior, e eu descobri como funcionava o esquema. Eles mandavam todo o dinheiro, da propina, tudo, para as Ilhas Virgens, que é um paraíso fiscal, e depois simulavam operações de investimento, nada mais era que internação de dinheiro. Usavam umas off-shore, que simulavam investir dinheiro em empresas que eram dele mesmo no Brasil, numa ação muito amadora. A gente pegou isso tudo.


E como você conseguiu pegar isso?
Não teve quebra de sigilo, como me acusaram. São transações que estão em cartórios de títulos e documentos. Quando você nomeia um cara para fazer uma falcatrua dessa, você nomeia um procurador, você nomeia tudo. Rastreando nos cartórios de títulos e documentos, a gente achou tudo isso aí.


São documentos disponíveis para verificação pública então?
Não tem essa história de que investiguei a Verônica Serra (filha do ex-governador), que investiguei qualquer pessoa ou teve quebra de sigilo. A minha investigação é de pessoa jurídica. Meu livro coloca documentos, não tem quebra de sigilo, comprova essa falcatrua que fizeram.


Segundo seu livro, esse esquema teria chegado a movimentar cifras bilionárias então?
Bilionárias, bilionárias. Esses tucanos deram uma sofisticação na lavagem de dinheiro. Eram banqueiros, ligados ao PSDB, formados na PUC do Rio de Janeiro e com pós-graduação em Harvard. A gente é muito simples, formado em jornalismo na Cásper Líbero, mas a gente aprendeu a rastrear esse dinheiro deles. Eles inventaram um marco para lavar dinheiro que foi seguido por todos os criminosos, como Fernando Beira-Mar, Georgina (de Freitas que fraudou o INSS), e eu, modestamente, acabei com esse sistema.
Temos condenações na Justiça brasileira para esse tipo de operações. Os discípulos da Georgina foram condenados por operações semelhantes que o Serra fez, que o genro (dele, Alexandre Bourgeois) fez, que o (Gregório Marín) Preciado fez, que o Ricardo Sérgio fez.


Está dito no seu livro que pessoas ligadas a Serra que teriam participado desse esquema?
Ricardo Sérgio, a filha (Verônia Serra), o genro (Alexandre Bourgeois), Preciado, o primo da mulher dele, e, acima, (o banqueiro) Daniel Dantas, o cara que comandava todo esse esquema de corrupção.


Em A Privataria Tucana, você afirma que faria parte das operações uma sociedade entre Verônica Serra, filha do ex-governador Serra, e Verônica Dantas, irmã de Daniel Dantas.
É verdade, conta a história da Verônica Serra com a Verônica Dantas. Isso era um pagamento de propina muito evidente para o clã Serra. Inventaram essa sociedade entre elas em Miami. Quem investe nessa sociedade? Os consórcios que investiram e ganharam (na privatização): o Opportunity, o Citibank. Eles que dão o dinheiro, está no site deles próprios.
Em 2002, Serra era candidato a presidente do Brasil, o Dantas quis chantagear. Quem revelou isso aí? Fui eu, o jornalista investigativo? Foi a própria revista IstoÉ Dinheiro que revelou a sociedade de Dantas e o clã Serra. Porque ele tinha dificuldade em compor a Previ, do governo, do Banco do Brasil. Ele estava chantageando os tucanos para compor com ele. Você vê como o Dantas é manipulador nessa história toda.
Primeiro veio a matéria para justificar o dinheiro dessa corrupção, dizendo que a Verônica Dantas havia enriquecido porque era uma mártir das telecomunicações. Depois, veio uma matéria fajuta... Quando não o satisfazia, (Dantas) ele chantageou o Serra. Para compor com a Previ, que estava com problemas com a Telecom, naquele processo todo.
Descobri que a sociedade de Verônica Dantas e Verônica Serra não acabou, como disseram, foi para as Ilhas Virgens, sendo operada pelo Ricardo Sérgio. Para quê? Jogar dinheiro aonde? Pra própria filha do governador do Serra. Mapeei o fluxo do dinheiro, esses caras roubaram, receberam propina, e a propina está rastreada. O dia em que o Dantas deu a propina da privatização, peguei a ponta batendo no escritório da filha dele lá no (bairro paulistano do) Itaim-Bibi. O Dantas pagou pro Serra. A parte da propina do Serra está documentada.


Para que você acha que seria essa propina?
Quem estava conduzindo os consórcios das privatizações eram homens da confiança do Serra. Era o Ricardo Sérgio Oliveira. Foi caixa de campanha dele. Isso é um saque que eles fizeram da privatização brasileira. Eles roubaram o patrimônio do País, e eu quero provar que eles são um bando de corruptos.


No livro, você também diz que Serra espionava o então governador mineiro Aécio Neves (PSDB).
Está documentado. Eu trabalhava no jornal (O Estado de Minas), e me pediram para localizar. Eu descobri. Consegui a prova documental que ele contratou a Fence (Consultoria, empresa que faz varreduras contra grampos clandestinos), no Rio de Janeiro, onde ele fazia as maracutaias. O Serra gosta de espionagem. Ele contratou um dos maiores carrascos da ditadura, está documentado no livro.


Você publica ainda que Serra investigou a governadora maranhense Roseana Sarney (DEM) em 2002 e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) quando era ministro da Saúde...
Isso está documentado. Os caras trabalharam, está no Diário Oficial. O agente Jardim (Luiz Fernando Barcellos), ligado ao Ricardo Sérgio. Isso está documentado, não é mentira. É porque essa imprensa defende o Serra e não divulga. O Serra montou a espionagem, ele manda espionar todos os inimigos dele.


Sua apuração mostra que essa espionagem do PSDB viria desde o governo FHC.
Justamente. O Serra gosta de espionar. Fui acusado de araponga? E o Serra, muito antes, quando era ministro, ele contratava espiões para espionar os caras do próprio partido, está documentado. A grande força desse livro é mostrar documentos que provam isso.


E de onde você tirou esses documentos?
É o contrato que ele pegou e contratou uma empresa de um coronel baixo nível da época da ditadura. O pretexto era que fazia negócio de contra-espinagem. O doutor Ênio (Gomes Fontenelle, dono da Fence) trabalhou na equipe dele. Estava em 2008 para quê? Para espionar o Aécio. Por que ele contratou, com dinheiro público do Estado? Por que contratou para fazer contra-espionagem no Rio de Janeiro? Todo mundo sabe que o Aécio vai pro Rio de Janeiro. A espionagem está documentada.


Seu livro mostra que, acreditando estar sendo espionada, a equipe de campanha de Dilma Rousseff teria tentado contra-atacar com arapongas também?
Não foi contratando araponga. Você fala minha pessoa?


Em geral.
Não. As pessoas que trabalhavam na campanha da Dilma eram pessoas de bem, ligadas ao mercado financeiro. Me chamaram porque estavam vazando tudo. Os caras faziam uma reunião, no dia seguinte estava na imprensa. Eu achava que era coisa do (ex-deputado tucano Marcelo) Itagiba ou do (candidato a vice-presidente, deputado do PMDB, Michel) Temer. Aí vem a surpresa: era o fogo-amigo do PT.


De quem?
Rui Falcão (atual presidente do PT e deputado estadual).


Mas você foi indiciado pela Polícia Federal, acusado pela quebra do sigilo fiscal da filha de Serra...
Claro. Por quê? Quebra de sigilo fiscal. É um crime administrativo que só se imputa a funcionário público. O inquérito todo da Polícia Federal é uma fraude, não tem foco. Abriu para apurar quebra de sigilo fiscal e abrange tudo. Nunca vai atingir a mim. Mas precisavam ter um herói, e me jogar pro público.
A imprensa queria o último factoide para jogar a Dilma no segundo turno. O que fizeram? Deturpar meu depoimento na Polícia Federal. Eu nunca disse que quebrei sigilo de nenhuma pessoa, mas o cara da Folha disse, ele deturpou, induziu todo mundo a dizer que confessei ter quebrado o sigilo fiscal. Ele mentiu sobre um depoimento na Polícia Federal, e a mídia toda espalhou isso. Era a única arma dessa imprensa carrasca, que mostrou seu lado. Eu nunca disse isso, meus quatro depoimentos são coerentes, têm uma lógica. A imprensa foi bandida.


O que você sabe sobre aquela história de dossiês do PT sobre tucanos, inclusive sobre o ex-presidente FHC?
Não sei nada disso.


Não conseguiu descobrir se realmente fizeram e quem fez?
Não sei nada desse assunto.


Você tem tomado precauções com sua segurança? Terá que aumentá-las agora, após as denúncias do livro?
Não, eu sigo minha vida como sigo desde que comecei, há 20 anos. Eu tenho uma trajetória muito bacana na profissão. Andei nos principais jornais do Brasil. comecei violação de direitos humanos, ganhei muitos prêmios, denunciei muitas violações. Hoje, eu investigo a lavagem de dinheiro.

Leia mais em: O Esquerdopata

sábado, 3 de dezembro de 2011

IVONE - Capítulo I



Conto saindo do forno...



Seis horas da manhã. Desperta o relógio na cabeceira do bidê. Ivone levanta-se e vai ao banheiro se lavar. O maridão, Rodolfo, vira pro lado dela na cama e estica-se todo. Ivone vai à cozinha e começa a preparar o café pra ela, pro marido e para as crianças. Ivone tem 33 anos, casada há 15 anos com Rodolfo de 39.

Ivone sempre diz que a melhor coisa que lhe aconteceu na vida foram seus dois filhos, Guilherme, 15 anos e Raquel, 12 anos. Um casal pra contentar os dois. Rodolfo sempre quis um garoto, um menino pra poder andar junto ao pai pra baixo e pra cima. Ter uns segredos com o guri, levá-lo pra pescar, jogar bola, sinuca, etc. Mas Ivone sempre pensou no coletivo, sempre pensa em todos, não só nela. Queria uma menina pra ajudá-la em casa, nos afazeres domésticos, a final de contas, Rodolfo é do tipo machão, não lava a louça porque é coisa de mulher, não coloca a roupa na máquina porque é coisa pra mulher, vai ao banheiro e não abaixa a tampa da privada porque ele é homem e, homem não abaixa a tampa da privada e por aí vai.

Durante esses 15 anos de casada, Ivone sempre fazia mesma coisa. Todos os dias levantava as 6h da manhã, fazia o café, arrumava as crianças para o colégio. Depois os afazeres domésticos. Não tinha tempo si, tudo o que fazia ou era pra casa, como compras, lava isso e aquilo, ou para o marido e para as crianças. Ivone não comprava uma roupa pra si, não comprava uma jóia, semi-jóia que fosse. Não tinha renda própria, sempre dependia do marido, se lhe desse dinheiro tinha, caso contrário não teria. E quando lhe dava era uma miséria, e o pouco que ganhava ela guardava num cofrinho pequeno que comprara em uma liquidação.

Certo dia, Ivone acordou pensando consigo mesma: - vou fugir!!! Mas o que é isso que estou pensando, isso não é coisa de mulher casada e com filhos pensar, disse em voz baixa.

Certo mesmo é que ela ficou com aquilo na cabeça o dia todo. Não sabia o que havia consigo, nunca fora assim. Antes de se deitar ascendeu uma vela pra Santo Expedito, o santo das causas impossíveis, e pediu para que lhe desse juízo.

Não conseguiu dormir a noite toda, rolou na cama de um lado para outro, ficou acordada boa parte da noite deitada na cama. Ao levantar-se mais cedo, fez o café como de praxe, e ficou sentada no sofá, sozinha, pensando. Rodolfo levantou, foi ao banheiro. Quando chegou à cozinha, viu que a mesa do café da manhã não estava posta, gritou: - Ivone, sua desgraçada, não arrumou meu café, vou me atrasar pro serviço! E um silêncio pairou no ar.

Foi procurá-la, ao chegar na sala encontrou um bilhete. Uma folha de caderno. Simples, sem nenhum mistério Ivone foi direto ao ponto:

Estou indo embora. Vou sair por uns tempos sem lugar definido. Vou indo aonde meu coração mandar. Rodolfo, sei que tu não foste um bom pai! Chegou a hora de ser. Cuide de nossos filhos. Diga à eles que tirei umas férias. Logo mandarei notícias. Beijos Ivone.

Rodolfo não sabia o que fazer, ficou em estado de choque e sentou-se no sofá e por ali passou o dia todo. Guilherme e Raquel torciam pela mãe, sabiam que o pai abusava dela. Mas também não queriam ficar sem ela.

Ao sair de casa bem cedo, sem que nenhum vizinho à visse, Ivone levou uma mala pequena preta. Tinha algumas roupas, vestidos, blusinhas, calças e o seu cofre. Durante os três últimos anos, Ivone lavou roupa para alguns vizinhos, fez costuras em calças, camisas, vestidos e chegou a fabricar algumas peças de roupas, mas não obteve sucesso. Fez tudo isso escondido do Rodolfo. Se Rodolfo ficasse sabendo iria lhe tomar o dinheiro, e ainda quem sabe, até batê-la. Ivone tinha um bom dinheiro, o suficiente para que tirasse umas férias de casa.

Pegou um táxi logo que saiu de casa. Ao entrar pediu ao motorista que a levasse ao Hotel Casa Blanca. Era um dos hotéis mais caros de Lages, uma rede de hotéis espalhados pelo mundo todo. Ivone se hospedou e pediu apenas uma pernoite. Era uma desconhecida, achava isso fantástico. Aproveitou tudo que tinha direito.

À noite foi jantar no restaurante do hotel, colocou seu melhor vestido. Um preto, justinho, definindo suas curvas, com degote modesto, uma alça fininha quase não dá pra segurar seus fartos seios redondos e um pouco à cima do joelho permitindo que olhos alheios fitassem suas coxas grossas e desenhadas. Comprara este vestido, mas nunca tinha usado. Rodolfo não gosta, diz que não é roupa de mulher casada.

Foi entrando no restaurante devagar, passadas curtas, um pé frente ao outro. Os homens ali presente fitavam-na. Uma morena gostosa, linda, magra, com vestido preto, sozinha. Eles não sabiam que ela era mãe e tinha um marido, que abandonara tudo por uma aventura, uma vida nova. Na verdade isso pouco importava pra eles. Sentou-se no canto, onde pudesse enxergar todo o restaurante. Ao seu lado, um casal. Escutava toda a conversa dos dois. Chamou o garçom, pediu uma garrafa de vinho e pra acompanhar, uma massa.

Quando ia encher a taça pela quinta vez, o garçom lhe trouxe um guardanapo, dobrado, meio amassado. Entregou e saiu rapidamente. Ao abrir o guardanapo, estava escrito: - por favor me ajude!!! Estou correndo risco de vida e você também.

Por um instante, ficou paralisada, não sabia o que fazer. Será que Rodolfo está atrás de mim. Se tiver vai me matar. Ou será que ele contratou um detetive para me seguir.

Ivone terminou sua refeição e voltou ao seu quarto, assustada. Deitou-se na cama pensando no que havia feito e decidiu voltar pra casa na manhã seguinte. Ora, uma mulher com dois filhos e um marido não se abandona. E também não se larga assim um casamento de 15 anos. Entretanto, não queria aquela vida novamente. Não queria ser escrava, empregada de Rodolfo. Não queria viver as custas de um homem, queria ter sua própria vida, ter seu próprio dinheiro, ser livre.

- Tenho que ser forte. Não vou voltar assim, só por causa de um bilhete. E se mandaram errado. Não era pra mim, tinha muita gente no restaurante. E se for pra mim, o Rodolfo acha que eu vou voltar, está enganado.

Apagou as luzes do quarto e foi dormir. Amanhã iria seguir seu caminho. 2h30mim da madruga, escuta uma batida na porta. Acorda assustada. Mais outra batida, desta vez mais forte. Levanta-se.

- Quem é?

Do outro lado da porta, uma voz feminina fala baixinho.

- Abre logo. Temos que sair daqui.

- Não vou abrir, não te conheço. Vou chamar o segurança do hotel.

- Não!!! temos que ser discretas. Abre logo, não temos tempo.

Ivone abre a porta e vê uma mulher, também assustada. Ela um pouco menor. Entra e se apresenta: - meu nome é Alessandra, temos que sair daqui.

- Não. Porque eu tenho que fugir.

- Porque você escutou toda nossa conversa no restaurante.

- Eu... só estava tomando um bom vinho. E além do mais, nem lembro o que vocês estavam falando.

- Imagino que não, mas Rick não acha isso.

- Rick é o seu marido?

- Não, meu namorado. Olha temos que sair daqui o mais rápido. Ele vai nos matar.

- Espera um pouco. O que ele está escondendo?

- Eu descobri que ele seqüestra mulheres bonitas e rouba seus órgãos para vendê-los a outros criminosos e hospitais na Europa e EUA. E era sobre isso que estávamos falando na mesa, ele acha que você ouviu tudo.

- Meu deus... ele é um monstro!!! Temos que fugir. Vou vestir alguma coisa e vamos sair daqui.